A Contadora de Filmes é aquele tipo de obra que, quando termina, faz você soltar um suspiro e pensar: “Eu amo cinema.” Sob a direção de Lone Scherfig, o filme mistura drama familiar, paisagens áridas e uma boa dose de amor à sétima arte. Baseado no romance de Hernán Rivera Letelier, o longa é ambientado nos anos 60, no deserto do Atacama, e acompanha Maria Margarita, uma garota tão encantadora que, honestamente, poderia me contar a história inteira de Duna e eu não reclamaria de uma vírgula.
Maria Margarita é a alma do filme, e o papel é dividido entre duas atrizes que fazem um trabalho impecável. Na infância, Alondra Valenzuela entrega uma atuação brilhante, cheia de fofura e doçura. Já na fase mais velha, Sara Becker mantém essa essência, mas adiciona um charme apaixonante que só aumenta nossa conexão com a personagem. É impossível não querer ser amigo dela, ou pelo menos estar na plateia enquanto ela conta suas histórias.
E não é só ela que brilha. O filme faz questão de nos apresentar uma família adorável, daquelas que você leva um tempo para decorar os nomes, mas se apega de cara. Cada membro tem uma personalidade bem definida, o que torna os momentos de dor e perda ainda mais impactantes. Aliás, prepare o coração: alguns desfechos são de partir a alma, mas tudo é conduzido com tanta sensibilidade que você sente que está assistindo algo verdadeiro e bonito, mesmo que doloroso.
O ponto mais interessante do filme é, claro, o impacto do cinema nessa pequena comunidade isolada. A figura da “contadora de filmes” transforma a monotonia do vilarejo em algo mágico, provando que histórias bem contadas têm o poder de nos transportar para outros mundos. E, pessoalmente, como alguém que tem um fraco por filmes sobre cinema, devo dizer que esse acertou em cheio. É um festival de referências a clássicos que eu nunca vi, mas que, graças à Maria Margarita, sinto como se tivesse assistido na melhor sala de cinema do bairro.
Visualmente, o filme também é um espetáculo. O deserto do Atacama é retratado com tons terrosos que quase fazem você sentir o calor na pele. Por outro lado, o vilarejo colonial traz cores vibrantes que simbolizam os sonhos e esperanças daquelas pessoas. E há cenas tão marcantes que ficam na cabeça, como a da protagonista “enterrando” simbolicamente certa personagem. É de uma beleza poética que te pega de jeito.
Mas nem tudo é perfeito. O filme tenta abordar questões políticas e sociais de fundo, mas, sinceramente, esse não é o ponto forte aqui. O drama familiar rouba completamente a cena, enquanto os comentários sobre o contexto histórico ficam meio perdidos no deserto. Também há um ou outro momento em que a trama exagera, mas nada que tire o brilho do conjunto.
A Contadora de Filmes é uma carta de amor ao poder das histórias e à magia do cinema. Não é apenas um filme que se assiste; é um filme que se sente. Divertido, emocionante e com uma protagonista inesquecível, ele nos lembra que, mesmo nas situações mais difíceis, as histórias podem nos unir e transformar.
NOTA: 4/5
- Título Original: La Contadora de Películas
- Direção: Lone Scherfig
- Roteiro: Lone Scherfig e Walter Salles, baseado no romance de Hernán Rivera Letelier
- Elenco Principal:
- Sara Becker (Maria Margarita – fase adulta)
- Alondra Valenzuela (Maria Margarita – fase infantil)
- Bérénice Bejo (Maria Magnolia)
- Antonio de la Torre
- Daniel Brühl
- Produção: Malvalanda, Beta Film e Fabula
- Gênero: Drama
- Países de Origem: Chile, Dinamarca, Alemanha
- Lançamento: 2023
- Duração: 110 minutos
- Fotografia: Anthony Dod Mantle
- Trilha Sonora: Federico Jusid
- Classificação Indicativa: 12 anos
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