A evolução das músicas nos videogames

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A evolução das músicas nos videogames

Por Cheyna Corrêa

As trilhas sonoras dos videogames evoluíram na mesma intensidade que os gráficos, mecânicas e jogabilidade. Hoje, elas são tão importantes que existem prêmios dedicados às melhores composições. Mas como tudo começou? Em quais gerações os jogos passaram a ter trilhas épicas que transmitiam emoções? Para responder a essas perguntas, é preciso voltar às origens da música nos games e acompanhar sua transformação até os dias de hoje.

Os primeiros sons nos videogames

Nos primórdios dos videogames, a música não existia como parte da experiência. No máximo, alguns efeitos sonoros básicos apareciam, limitados pela tecnologia da época. No final dos anos 70 e início dos anos 80, os consoles de 8 bits e as máquinas de arcade começaram a utilizar chips de som, como o TIA no Atari e o Ricoh 2A03 no Nintendinho.

Esses chips eram capazes de gerar ondas eletrônicas simples e repetitivas. Embora fossem rudimentares, permitiam criar bases musicais, tornando a trilha sonora um elemento presente nos jogos. Com três ou quatro canais de áudio, cada um programado para uma função específica (efeitos, ritmo e melodia), as músicas passaram a ser desenvolvidas dentro dos games, apesar das severas limitações de memória dos consoles.

O impacto das trilhas sonoras na era 8 bits

Mesmo com essas dificuldades, os compositores conseguiam criar músicas curtas e memoráveis. Um dos melhores exemplos dessa época foi a icônica trilha sonora de Super Mario Bros. (1985), composta por Koji Kondo. A música foi desenvolvida para acompanhar os movimentos do personagem, criando uma sensação saltitante que combinava perfeitamente com a ação na tela. Para superar as restrições de memória, Koji Kondo programou os canais para trocarem de função constantemente, equilibrando melodia, ritmo e efeitos sonoros.

Enquanto isso, nos arcades, jogos como Pac-Man usavam sons básicos, mas extremamente eficazes. Toshio Kai, responsável pela trilha, utilizou repetições sonoras frenéticas que aumentavam conforme o jogador progredia. Nesse caso, a trilha sonora era praticamente uma sequência de efeitos sonoros organizados, mas que ainda assim contribuía para a imersão do jogo.

A evolução sonora nos consoles de 16 bits

A chegada dos consoles de 16 bits, como o Super Nintendo e o Sega Genesis, trouxe avanços significativos. Os chips de som passaram a ter suporte para oito canais simultâneos e começaram a reproduzir trechos de sons reais, ampliando a experiência imersiva dos jogadores.

O Super Nintendo utilizava o SPC700, permitindo efeitos como eco e reverb, criando profundidade na trilha sonora. Isso permitiu composições mais elaboradas, como a icônica Aquatic Ambience de Donkey Kong Country, que impressionava pela qualidade e atmosfera.

Já o Sega Genesis usava o Yamaha YM2612, um chip que proporcionava uma sonoridade vibrante e energética. Foi nele que Masato Nakamura criou a trilha sonora de Sonic the Hedgehog, garantindo que a música acompanhasse a velocidade frenética do protagonista.

(Nintendo/Reprodução)

A chegada das trilhas épicas nos games

Os consoles de 32 e 64 bits, como o PlayStation e o Nintendo 64, marcaram uma revolução sonora nos jogos. Pela primeira vez, os desenvolvedores tinham espaço suficiente para armazenar trilhas sonoras pré-gravadas, abandonando a necessidade de sintetizar sons eletrônicos. Isso permitiu que as trilhas começassem a se assemelhar às músicas de cinema, moldando a experiência e até mesmo a narrativa dos jogos.

A trilha de Final Fantasy VII, composta por Nobuo Uematsu, exemplificou esse avanço. Sua música One-Winged Angel foi gravada com orquestra, solos de guitarra e coro orquestral, criando um impacto grandioso nas batalhas.

Outro grande marco foi The Legend of Zelda: Ocarina of Time, cujo gameplay integrava a música como parte essencial da experiência. O jogador tocava melodias na Ocarina, e cada canção aprendida alterava diretamente elementos do mundo do jogo.

A música se torna essencial na indústria dos games

Na geração do PlayStation 2, GameCube, Xbox e nos PCs, as trilhas sonoras atingiram um novo nível. Com orquestras completas gravando as composições, a qualidade cinematográfica das músicas tornou-se uma característica marcante dos games. Além disso, as trilhas passaram a ser dinâmicas, mudando em tempo real conforme a ação do jogador. A música agora servia como sinal para inimigos próximos ou batalhas iminentes.

Jogos como Halo: Combat Evolved e Shadow of the Colossus exploraram essa tecnologia com trilhas épicas e imersivas. God of War trouxe composições intensas que capturavam o tom violento do protagonista Kratos, enquanto Guitar Hero focava toda a jogabilidade na experiência musical, incluindo faixas de bandas lendárias como Iron Maiden, Metallica, Queen e Guns N’ Roses.

A partir dessa geração, as trilhas passaram a receber reconhecimento como elementos fundamentais dos games, levando à criação de prêmios para as melhores composições.

A música na última geração e o futuro dos games

Nos consoles da última geração, como o PlayStation 5, Xbox Series X/S e PCs modernos, a evolução das trilhas sonoras focou no áudio 3D e no som espacial. Essas tecnologias aumentam ainda mais a imersão do jogador, dando a sensação de presença real no mundo do jogo.

Títulos como The Last of Us Part II, com trilha de Gustavo Santaolalla, exploraram composições emocionais, enquanto Red Dead Redemption 2 usou a trilha para reforçar a melancolia de Arthur Morgan. Em Elden Ring, os temas dos bosses transformam cada batalha em um evento grandioso. Jogos rítmicos como Hi-Fi Rush e Beat Saber também ganharam espaço, mostrando como a música continua sendo central na experiência dos games.

As trilhas sonoras dos videogames passaram de bipes eletrônicos a composições épicas dignas de cinema. De um elemento secundário, tornaram-se fundamentais na construção de mundos imersivos e narrativas envolventes. Com novas gerações chegando, a tendência é que essa evolução continue, trazendo emoções cada vez mais intensas para os jogadores.
O que vem a seguir? Se a história dos videogames mostrou algo, é que a música continuará acompanhando o crescimento da indústria e se reinventando a cada nova geração.

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