A recente descoberta sobre o exoplaneta K2-18b pode transformar a maneira como a humanidade encara a busca por vida extraterrestre. Cientistas encontraram evidências de que esse planeta, localizado a 124 anos-luz da Terra, pode abrigar organismos vivos. Se confirmada, essa será a primeira vez que sinais concretos de vida são encontrados fora do planeta.
O que torna o K2-18b tão especial?
O K2-18b é um exoplaneta que orbita uma estrela anã vermelha chamada K2-18. Sua órbita está dentro da chamada “zona habitável”, uma faixa onde as condições permitem a existência de água em estado líquido. A possibilidade de vida começou a ser considerada em 2019, quando cientistas detectaram traços de vapor de água em sua atmosfera.
Em 2023, novas observações com o Telescópio Espacial James Webb revelaram moléculas baseadas em carbono, como dióxido de carbono e metano, fortalecendo a hipótese de que o planeta poderia ser um candidato a abrigar vida. Além disso, os cientistas especulam que o K2-18b pode ser um planeta do tipo hycean—ou seja, um planeta oceânico coberto por água líquida, condição favorável ao surgimento de microorganismos.
A descoberta de biomarcadores e o impacto na ciência
A pesquisa liderada por Nikku Madhusudhan, do Instituto de Astronomia da Universidade de Cambridge, apresentou um avanço significativo nesta semana. Os cientistas identificaram na atmosfera do K2-18b gases como dimetil sulfeto (DMS) e dissulfeto de dimetila (DMDS), compostos que, na Terra, são exclusivamente produzidos por organismos vivos como fitoplâncton e bactérias.
O professor Madhusudhan afirmou que esta é “a evidência mais forte até agora de que possivelmente existe vida lá fora” e destacou que uma confirmação definitiva pode ocorrer “dentro de 1 a 2 anos”. Para ele, se a existência de vida no K2-18b for confirmada, isso indicaria que a vida é comum na galáxia.
O que ainda precisa ser confirmado?
Apesar da empolgação, cientistas ressaltam que os dados ainda não são conclusivos. Para que uma descoberta desse porte seja oficialmente reconhecida, é necessário atingir um nível de certeza de 99,99999%—algo chamado de certeza Cinco Sigma. No momento, os pesquisadores alcançaram 99,7% de certeza, o que ainda não é suficiente para afirmar categoricamente a existência de vida.
A astrônoma Catherine Heymans, da Universidade de Edimburgo, alerta que, embora na Terra esses gases sejam produzidos por microrganismos, é possível que em um mundo alienígena eles tenham origem geológica. “Coisas muito estranhas acontecem no Universo”, disse ela à BBC, sugerindo que processos desconhecidos poderiam estar gerando esses compostos no K2-18b sem envolver organismos vivos
No Brasil, o astrônomo Cássio Barbosa, do Centro Universitário FEI, também acredita que gases como DMS e DMDS poderiam ser resultado de atividade geológica, como vulcanismo. Ele argumenta que “a criação dessas duas moléculas tem passos intermediários que deveriam ter aparecido e não aparecem”, apontando falhas na hipótese biológica.
Qual será o próximo passo na investigação?
Com a impossibilidade de enviar sondas ao K2-18b devido à sua enorme distância, a única forma de obter mais informações é através de telescópios espaciais como o James Webb. No entanto, o estudo atmosférico de exoplanetas ainda apresenta desafios. “Nós não conseguimos fazer modelagem da atmosfera com 100% de certeza para Vênus, que está aqui do lado”, destacou Cássio Barbosa, reforçando a complexidade da análise remota.
Outra questão ainda em aberto é a real natureza do K2-18b. Embora muitos cientistas acreditem que seja um planeta oceânico, outras hipóteses sugerem que ele pode ser coberto inteiramente por lava derretida, o que impossibilitaria qualquer forma de vida.
Apesar das dúvidas, esta pode ser uma das descobertas mais importantes da história da astronomia. Se comprovada, confirmaria que a vida existe em outros pontos do Universo e pode ser muito mais comum do que imaginado. Por isso, o K2-18b continua sendo um dos exoplanetas mais observados e estudados no momento.
Será este o início da era em que finalmente descobriremos que não estamos sozinhos no cosmos? A resposta pode estar cada vez mais perto.
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