Eu publiquei um post sobre a falta de informações a respeito de Mass Effect Andromeda antes do lançamento. Quando fui jogar, eu pensei: uma série de RPG de ficção científica que eu amo, mas com um novo começo, nova bagagem e o extraordinário potencial de uma galáxia completamente diferente da nossa.
Não foi isso que eu joguei. As primeiras horas de Andromeda são um truque horrível através dos elementos mais triviais dos três jogos anteriores, tudo num cenário que é horrivelmente familiar, sobrecarregado com uma narrativa extraordinariamente terrível, enterrado sob uma interface que parece ter sido projetada pra enfurecer em todas as formas possíveis.
Eu assumi que este jogo seria mais uma obra de arte da BioWare. Até agora – e vamos ser claros, há muito espaço e tempo pra eles consertarem as coisas -, as primeiras horas foram apenas horríveis.
Desta vez você começa escolhendo se você é uma mulher ou um homem com o sobrenome Ryder, filha ou filho de um líder em uma expedição pra deixar a Via Láctea e começar vida nova em Andrômeda. Usando os telescópios mágicos, as várias raças familiares de Mass Effect foram capazes de detectar “planetas dourados” na nova galáxia e se estabeleceram em enormes naves chamadas “arcas”, cada raça enviando cerca de 20 mil passageiros em uma viagem de seiscentos anos em criogenia pra alcançar as novas terras. Eu adoro esse começo! Ele diz: “Podemos ser qualquer coisa, fazer qualquer coisa!” Se esse era o plano, o jogo não está mostrando serviço nesta seção inicial.
Eu estou desnorteado. O que eu espero da BioWare é um combate ágil e enredo e personagens esplêndidos. O que eu vi até agora é um combate decente – mas nada além do que você esperaria em um shooter em terceira pessoa – e algumas das mais terríveis narrativas. Eu não consigo enfatizar suficientemente o quão ruim está sendo.
A humanidade viaja pra uma nova galáxia pela primeira vez, há tanta esperança, tanto potencial, mas oh não, tudo é horrível, e há uma raça alienígena de aparência reptiliana em um planeta de areia que atira em você com armas de raio à primeira vista. Sério mesmo?! Uma galáxia diferente e o desvio da norma geram mais expectativa do que lagartos genéricos com cabeça de osso – literalmente – e tiroteio espacial e… Rochas flutuantes? Sério, o jogo acha que está inovando ao retratar uma realidade tão nova, que cada personagem sente a necessidade de mencioná-la. Em poucos segundos você é aparentemente o Escolhido, um Explorador, que significa alguém que pode olhar pra um planeta e dizer, “sim, eu acho que as pessoas podem viver aqui”. Oi?
Dentro dos primeiros minutos no jogo, há uma cena em que um tipo de soldado está atirando num cadáver já inteiramente morto, e alguém tem que dizer: “Ei, ei, vai com calma”, e ele atira mais um pouco e se declara satisfeito. Sem falar que eu não posso sequer imaginar como alguém pode se sentir bem com a jogabilidade depois de experimentar a vergonha de ver um NPC caminhar sem rumo até dar de cara na parede ou cair de um precipício.
Liam – um dos companheiros – e Addison – capitã pirata espacial rabugenta – parecem que foram dublados por atores que leram o roteiro distraidamente em páginas com letras minúsculas e numa sala mal iluminada, o que é um grande problema quando ambos representam papéis proeminentes. O sotaque de Addison faz parecer que ela está lendo palavras fonéticas numa língua desconhecida. Felizmente a dubladora da heroína – Fryda Wolff – é perfeita com sua personagem – ninguém joga Mass Effect como um cara, certo? Então pelo menos você não estremece ao som de sua própria voz. Outro dublador brilhante é Kumail Nanjiani, no papel de um salarian, o diretor Tann, mas ele até agora não disse nada de relevante – um desperdício de talento. O resto dos personagens são simplesmente descartáveis.
Isso é endêmico. É muito, muito bizarro estar jogando um jogo da BioWare onde os personagens são tão vazios e maçantes. Claro que os dois companheiros com quem você começa em todos os três jogos anteriores são os piores, e isso não é exceção aqui. Mas não fica muito melhor depois. Você é bombardeado com conversa por quase toda a sua tripulação no início, e eles são bizarramente estereotipados. O diálogo é tão doloroso que afoga qualquer esperança de conexão emocional. Personagens apenas dizem como as suas personalidades são – literalmente -, em vez de demonstrarem e agirem. “Eu costumo viver da maneira como trabalho: tipo ‘sinto isso, faço aquilo’. Não há muitos laços estreitos, nenhum sentido real de propósito.” – Esse diálogo realmente acontece.
A Capitã Espacial Rabugenta e Genérica está lá, bem na sua frente. Ela corrige seu vocabulário como os chatos adoram fazer e então, na mesma conversa, comete um desvio gramatical doloroso. Seja como for, mas não banque o Corretor de Gramatical, se você não for impecável. Obs: não foi erro de tradução, eu pesquisei e já estava errado em inglês também.
E tem também o lance do Explorador. Antes mesmo do termo ter sido explicado, você recebe o título “Explorador”. As pessoas param e murmuram reverentemente quando percebem que é você, muito antes mesmo de você saber o que é isso. Pra se familiarizar com o título, você precisa cavar através do Codex, uma péssima maneira de explicar um de seus conceitos fundamentais, até menos útil do que fazer a nomeação ridiculamente cedo, antes de qualquer façanha significativa. Chega a ser tosco, você é O Escolhido sem ter feito nada pra merecer esse título. Até mesmo no Dragon Age 2 leva um bom tempo até você ser consagrado “O Campeão”, mesmo sabendo desde o início que você se tornou tal herói até o final da história. Em Mass Effect Androme, dentro de uma hora do começo do jogo, você já foi intitulado.
E então, naturalmente, o primeiro NPC aleatório com quem você conversa simplesmente diz “você é o Explorador! Eles falam de você! Meu marido foi preso por um crime que não cometeu!” Há dúzias de pessoas nesta estação espacial, mas não, a BioWare desajeitadamente força o jogador a ganhar um título genérico e ainda oferece incontáveis side quests que parecem estranhamente familiares se você já jogou qualquer outro dos seus títulos.
Você deve querer saber sobre o combate. É melhor que os Mass Effect anteriores. Você ainda pode usar seus truques bióticos como arremessar as pessoas no ar e, em seguida, cortar fora suas cabeças com sua arma favorita, mas agora você pode fazê-lo no mundo aberto, em vez de em algum corredor bobo. Há muitas maneiras de abordar a luta, e você pode criar um tank, um ninja, um sniper, ou um mago, essencialmente. Como eu disse no início deste parágrafo, está tudo bem. A inteligência artificial dos inimigos não é nada espetacular – na maior parte do tempo, eles apenas brotam e procuram cobertura, nada de diferente dos outros jogos.
Mas a IA da sua própria equipe… Bem, veja:
O que mais eu experimentei? TUDO! O jogo arremessa conteúdo em cima de você sem pausar pra lhe dizer por que ou como você deve se importar. Você pode criar absolutamente tudo, mas o processo é uma confusão louca de ridículas listas que não rolam corretamente, onde cada ação requer dezessete cliques diferentes que confirmam que você deseja confirmar que você quer criar a coisa que você não sabe se precisa. Você pode coletar minerais e precisa deles pro crafting ou pro upgrade ou qualquer coisa, e eles estão distribuídos pelos mapas sem nenhuma coerência.
“Estou rastreando um enorme depósito mineral”, diz alguém da sua tripulação, então você rastreia a “anomalia”, voa até ela na laboriosamente lenta animação, digitaliza-a e depois clica pra pegar, digamos, “+147 Ferro “. O suficiente pra fazer um revolver.
O sistema de exploração de planetas é absurdamente terrível. Você tem que assistir a câmera dar zoom até onde você estava, em seguida, rastejar através do sistema solar pra onde quer que você clicou – em uma animação que não revela nada, não oferece nada – e, em seguida, dar mais zoom dentro do planeta escolhido, esperar dois segundos e finalmente escolher aonde você quer ir e esperar de novo pra interface abrir. Eu só posso assumir que os desenvolvedores da BioWare tinham uma maneira de ignorar esse processo, porque de outra forma qualquer um que jogou isso antes do lançamento teria questionado a sabedoria de criar esta experiência completamente irrelevante e tão inacreditavelmente chata.
O design da interface do usuário é um espetáculo de escolhas ruins, e esta é a única área onde definitivamente não vai melhorar após estas poucas horas. É um design tão mal montado que você não pode sequer olhar apenas pra uma lista de quests ativas. Em vez disso, você tem que escolher o seu caminho através de uma bagunça nada intuitiva e totalmente irritante de menus, clicando em cada categoria de missão em branco pra ver se você tem alguma coisa ativa dentro de cada item da lista. É um processo opaco e desajeitado. Inferno, minha mão se contrai incessantemente no botão do meu mouse pra voltar, como é padrão em todos os navegadores, mas isso não foi implementado aqui.
E por que o log de missões está em destaque com um ponto de exclamação indicando uma nova missão desta vez? Ele nem rotula as categorias pra mostrar a que pasta a exclamação se aplica, e às vezes não há realmente uma missão pro ponto de exclamação que ele mostra, então clique em cada categoria uma a uma até descobrir não, não, não, não, não, e então perceber que é porque ele moveu uma missão completa pra lista de missões completadas.
Oh, e no caso disso tudo não parecer ruim o suficiente, o jogo vai alegremente mudar qual missão você está perseguindo sem avisar-lhe! Eu estava seguindo essa missão de mistério de assassinato, mas porque havia uma trama na história principal no mesmo planeta, o jogo decidiu mudar minha quest. E faz isso o tempo todo. É de enfurecer.
As missões paralelas parecem um MMO coreano de 2004. Apenas vazias, correr de um ícone do mapa pro outro ícone do mapa, digitalizar objetos com o seu scanner e, em seguida, um companheiro avisando que, sim, a fonte dos defeitos foi encontrada / o animal foi capturado / o papel higiênico foi comprado, apesar de você realmente não fazer nada relevante pra narrativa.
Eu desesperadamente espero que tudo isso melhore. Isso é tudo o que eu experimentei até agora. A realidade dos jogos é, à medida que você se aprofunda e as coisas começam a melhorar, as frustrações anteriores podem se tornar temperadas, e seu impacto sobre a impressão geral diminui. Eu espero fortemente que seja o caso aqui, e eu vou ser capaz de relatar na próxima semana, “sim, era tudo verdade, mas fica melhor” ou “é uma merda do início ao fim”. Eu realmente espero que aconteça a primeira hipótese. Este é o Mass Effect mais esperado de todos os tempos.
Pra ser sincero, não fiquei tão decepcionado com a BioWare desde Dragon Age 2. Pensei que eles tivessem aprendido a lição. Quests sem absolutamente nenhuma história não são legais. Ver um ícone de quest num NPC, falar com ele e descobrir que você já pegou sabe-se lá o quê sem nem ter notado e acabou de devolver ao seu devido dono não incrementa em nada o enredo. Os gráficos estão lindos, os mapas são maravilhosos, mas eu não quero perambular pelo único propósito de completar uma missão inócua. Parece que eles mantiveram o world building do Dragon Age Inquisition, mas voltaram às fórmulas de bolo das quests repetitivas do Dragon Age 2, tudo somado a uma interface dolorosamente péssima.
No fim das contas, a BioWare prometeu pouco, mas sabia o que nós esperávamos. Tal qual Inquisition foi a redenção da franquia Dragon Age, Mass Effect precisava de uma redenção depois do final frustrante da trilogia original. Precisávamos de uma lufada de ar fresco e isso foi prometido. Prometeram uma galáxia completamente nova e personagens férteis. Não é isso que você sente jogando as primeiras horas e provavelmente não é o que vamos encontrar até o final de Andromeda.
Estou tão chocado quanto você e espero que a sua experiência seja mil vezes melhor do que a minha, se você ainda tiver coragem de comprar Mass Effect Andromeda. Na verdade, eu espero que possamos olhar pra trás e rir. Saberemos até semana que vem.
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