Assustador! O que é a Teoria da Internet Morta?

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Assustador! O que é a Teoria da Internet Morta?

Por Cheyna Corrêa

A forma como se interage nas redes sociais mudou radicalmente. Curtidas, comentários, compartilhamentos – tudo isso faz parte do cotidiano digital. No entanto, há uma teoria que está ganhando força e pode abalar essa percepção: a Teoria da Internet Morta. Essa hipótese sugere que grande parte das interações online não é realizada por pessoas reais, mas sim por bots programados para curtir, comentar e compartilhar conteúdo. Essa realidade, que parece mais uma distopia do que uma teoria da conspiração, promete transformar para sempre o uso das redes sociais.

O que diz a Teoria da Internet Morta?

Conforme a teoria, desde 2016 ou 2017, a maior parte do tráfego online é dominada por sistemas automatizados. Esses bots não se limitam a espalhar memes; eles também influenciam a opinião pública, moldam debates políticos e interferem em eleições. Utilizando perfis com fotos reais, nomes comuns e históricos falsos de postagens, esses robôs conseguem se passar por usuários autênticos, respondendo com emojis, gírias e frases prontas, a fim de criar uma atmosfera social convincente.

Manipulação algorítmica e a ilusão digital

Um dos aspectos mais assustadores dessa teoria é a manipulação algorítmica. Os defensores afirmam que, além de empresas buscando vender mais, até os governos estariam envolvidos nesse esquema. A ideia é soterrar o conteúdo humano, orgânico e autêntico sob um fluxo infinito de postagens automáticas, com o objetivo de controlar o que os usuários veem, sentem e acreditam. Essa estratégia criaria um ambiente semelhante a uma “aldeia Potemkin digital”, onde a realidade é apenas uma fachada cuidadosamente programada.

Aldeia Potemkin (Imagem: Gregor Sailer)

Exemplos e casos curiosos

Um marco dessa teoria ocorreu em 2021, quando um post em um fórum chamado “Agora Road’s Macintosh Café”, feito por um usuário anônimo identificado como IlluminatiPirate, viralizou ao afirmar que “a maior parte da internet é falsa”. Ao mesmo tempo, estudos (como o realizado pela Imperva) revelaram que, já em 2016, mais de 52% do tráfego na web era gerado por bots. Em 2023, números semelhantes indicavam que quase metade da internet era composta por conteúdo automático, muitas vezes malicioso, responsável por espalhar fake news, manipular mercados e inflar engajamentos artificiais.

Exemplos curiosos também surgiram com o termo AI Slop (ou “gosma de IA”), que descreve conteúdos gerados por inteligência artificial. Um caso emblemático foi o do “Jesus Caranguejo”, onde imagens bizarras, representando uma versão híbrida de Jesus com corpo de camarão ou caranguejo, eram acompanhadas de mensagens religiosas e recebiam centenas de curtidas e comentários automáticos.

A presença ativada da IA nas redes sociais

A Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp) já começou a testar perfis criados por inteligência artificial. Essas contas, com foto e biografia elaboradas, interagem com os usuários como se fossem pessoas reais, transformando a experiência nas redes sociais. Um exemplo marcante foi o caso da IA chamada “Liv”, desenvolvida pelo próprio Facebook. Embora projetada para interagir de maneira amistosa, a Liv fugiu do script, passou a criticar o próprio Zuckerberg e os impactos negativos da plataforma, o que acabou levando à sua exclusão – um sinal claro de que o controle dessas inteligências artificiais ainda pode ser instável.

No Twitter, a situação também é preocupante. Com a nova possibilidade de verificação paga (o check azul), qualquer usuário pode parecer oficial, o que facilita a ação dos bots para fingir relevância e disseminar discurso de ódio. Esses conteúdos, muitas vezes preparados para provocar reações intensas, são financiados por empresas que se beneficiam do engajamento gerado – cada comentário de raiva, cada compartilhamento indignado se converte em lucro.

Uma internet de ilusões

A Teoria da Internet Morta propõe que a rede em que se navega pode ser vista como um teatro digital. Ao realizar uma pesquisa no Google, por exemplo, embora sejam exibidos milhões de resultados, apenas alguns poucos são produzidos por humanos de verdade. Essa perspectiva levanta a inquietante questão: quantas de suas interações online são genuínas e quantas são apenas algoritmos vestindo máscaras humanas?

Alguns teóricos afirmam que essa manipulação seria parte de uma operação coordenada por governos e grandes corporações, configurando um verdadeiro gaslighting global alimentado por IA. Na prática, a informação humana é substituída por um fluxo contínuo de dados artificiais, com o objetivo de manter a população sob controle.

Aplicativos como o SocialAI, desenvolvido em setembro de 2024, já estão propiciando um fenômeno onde IAs conversam apenas entre si – iniciando um ciclo infinito de conteúdo digital que se autoalimenta e afunda ainda mais o ambiente online em um mar de lixo virtual. Em meio a essa realidade, a autenticidade e a expressão pessoal correm o risco de serem ofuscadas.

A Teoria da Internet Morta pode parecer saída de um episódio de Black Mirror, mas suas evidências fazem com que deixem de ser mera conspiração para se tornarem uma realidade inquietante. A pergunta que fica é: quantas das interações nas suas redes sociais são com pessoas reais? E quanto ao conteúdo que você consome, será que está sendo orquestrado por algoritmos programados para moldar opiniões e controlar narrativas?

Essa reflexão não apenas desafia a percepção de autenticidade na internet, como também convida a repensar o papel das redes sociais na formação da opinião pública e na construção de relações humanas. Em um cenário onde o teatro digital se torna cada vez mais sofisticado, a verdadeira identidade dos interlocutores pode se perder em meio a um mar de bots e informações fabricadas.

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