Durante muito tempo, o arco Lost Agent (também conhecido como Fullbringer ou Substituto de Shinigami Perdido) foi apontado como um dos mais fracos da franquia Bleach, ficando à sombra de sagas como Soul Society e Arrancar. No entanto, à medida que os anos passaram e a história foi revisitada por novos leitores e veteranos, cresce o reconhecimento de que essa fase foi injustiçada — e que, na verdade, é uma das mais ousadas e psicológicas já escritas por Tite Kubo.
Após a batalha épica contra Aizen, Ichigo havia perdido seus poderes e, com eles, sua identidade como Shinigami. Como seguir adiante após salvar o mundo e se tornar impotente novamente? Em vez de seguir a lógica de batalhas grandiosas, o arco Lost Agent opta por uma abordagem mais intimista e introspectiva, colocando Ichigo de volta em sua cidade natal e lidando com dilemas internos, novos personagens e uma sensação constante de desconfiança e manipulação.
A introdução dos Fullbringers, usuários de poderes derivados de objetos, também marca uma tentativa ousada de expandir o sistema de habilidades do universo. Embora esses poderes tenham sido criticados por parecerem repetitivos ou desconectados do cânone anterior, eles se mostraram cruciais para a proposta do arco: uma luta mental e emocional, e não apenas física.
Tsukishima, Ginjo e a batalha da mente
Dois personagens brilham nesse arco: Kugo Ginjo e Shukuro Tsukishima. Este último, com sua habilidade Book of the End, é capaz de se inserir nas memórias das pessoas, criando um dos momentos mais perturbadores da obra: Ichigo sendo rejeitado por seus próprios amigos e familiares, que acreditam que ele é uma ameaça. A manipulação emocional é extrema e leva Ichigo à beira da completa perda de identidade.
A reviravolta acontece quando Ginjo se revela o verdadeiro vilão, após inicialmente agir como aliado. A traição no capítulo 459, intitulada End of Bond, é um dos momentos mais dolorosos da série, com impacto emocional profundo e uma atuação impecável de Ichigo diante do desespero.
Impacto emocional maior que qualquer Bankai
Enquanto muitos arcos de Bleach se baseiam em grandes batalhas e revelações de lore, o destaque aqui é o conflito interno de Ichigo. Sua jornada de perda, negação, recuperação e superação emocional é o verdadeiro motor da narrativa. Mesmo com a participação tardia da Gotei 13, que resgata um pouco do ritmo tradicional da série, o arco permanece centrado no protagonista e sua reconstrução espiritual.
Apesar das críticas à época, o arco Lost Agent se mostra hoje uma obra essencial para compreender a evolução de Ichigo e a maturidade da narrativa de Tite Kubo em Bleach. Não é sobre vencer o vilão mais forte, mas sobre reconquistar a si mesmo. Em uma série onde espadas brilham e lutas decidem destinos, esse arco mostrou que a batalha mais difícil pode ser aquela contra os próprios sentimentos.
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