Blindado é um daqueles filmes que fazem você questionar suas escolhas na vida. Não porque ele tenha uma trama instigante ou um suspense arrebatador, mas porque, em algum momento dos seus 89 minutos, você vai se pegar pensando: “por que eu tô vendo isso?”. Se a proposta era um thriller de ação tenso e empolgante, o resultado final parece mais um vídeo institucional sobre o funcionamento de um carro-forte — só que mais tedioso.
A premissa até parece promissora: um roubo a um carro-forte blindado, liderado por Sylvester Stallone, que aqui faz um raro papel de vilão. Ele e sua gangue tentam roubar uma fortuna em ouro, enquanto os guardas do veículo, Jason Patric e Josh Wiggins (pai e filho no filme, porque alguém achou que isso seria mega emocionante), resistem bravamente do lado de dentro. O problema é que a execução dessa ideia é um desastre completo.
Vamos começar pelo óbvio: Stallone está no piloto automático. Ele tem a mesma expressividade de um pedaço de mármore esquecido num canto do museu. Em Tulsa King, ele mostrou que ainda sabe segurar um personagem interessante, mas aqui ele parece entediado o tempo inteiro, resmungando suas falas como se tivesse acabado de acordar de um cochilo. O personagem dele, que atende pelo nome super sutil de Rook (torre, em xadrez, porque, né, esse roteiro acha que é muito esperto), tenta soar como um vilão estrategista, mas na prática é só um cara genérico dando ordens burras e enchendo a tela de diálogos forçados.
E por falar em diálogos, meu Deus, que tortura. A coisa é tão artificial que parece que os personagens estão lendo placas de trânsito. E, quando finalmente há alguma tentativa de desenvolvimento de personagem, ele vem na forma de um flashback aleatório e mal encaixado, jogado na tela como quem tenta remendar um buraco num roteiro que já nasceu esburacado. Mas o melhor — ou pior — é que metade dos personagens não serve pra absolutamente nada. Você poderia tirar uns quatro ou cinco deles da história e o filme continuaria exatamente igual.
Agora, vamos ao prato principal: as cenas de ação. Ação, em teoria, é o que deveria salvar esse tipo de filme, certo? Pois bem, nem isso dá certo aqui. As perseguições são tão emocionantes quanto assistir uma fila de carro esperando o semáforo abrir. O confronto principal é literalmente uma van preta batendo no carro-forte algumas vezes até ele parar. Isso dura uns 40 minutos. Ok, pode não ter sido tanto assim, mas pareceu. E, quando as balas começam a voar, a coisa só piora: os efeitos em 3D são pavorosos, as balas digitais parecem saídas de um jogo ruim de PS2 e a coreografia das lutas parece improvisada cinco minutos antes da gravação.
E eu não tô nem tentando ser chato. Filme de ação não precisa ser inteligente pra ser bom. Ele só precisa entreter, ser maneiro, gerar tensão. Mas Blindado falha até nisso. Quer um exemplo? O filme brasileiro A Jaula tem uma premissa parecida — um homem preso num carro, tentando sobreviver — e consegue criar tensão genuína. Aqui, a única tensão que existe é a do espectador tentando decidir se continua assistindo ou desiste e vai ver um vídeo de três horas sobre como consertar uma máquina de lavar.
O pior de tudo é que o filme se leva a sério. O roteiro quer parecer inteligente com referências a xadrez e frases de efeito dramáticas, mas, no final das contas, é só um festival de burrices embalado em diálogos pseudo-filosóficos. O grande diferencial do carro-forte (porque todo filme desse tipo tem que ter um elemento especial) é que ele carrega uma mala cheia de ouro que não estava no relatório. Isso é uma virada de roteiro? Isso faz diferença na história? Eu me importo? Nem um pouco.
No fim das contas, Blindado é o equivalente cinematográfico de um pneu furado. Ele até tenta ir pra algum lugar, mas a jornada é arrastada, frustrante e cheia de momentos que te fazem questionar por que ainda está assistindo. Jason Patric é um bom ator e merecia algo melhor. Stallone já fez coisa muito melhor. E a gente, como público, com certeza merece coisa muito melhor.
Se você gosta de filmes de ação bons, fuja. Se você gosta de filmes de ação ruins, ainda assim, fuja. E se você não gosta de filmes de ação… bem, você provavelmente já estava planejando ver outra coisa.
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