Cancelamento de Concord foi tão grande que gerou discussões no parlamento do Reino Unido

Cheyna Corrêa (Texto: Vinícius Miranda)

Cancelamento de Concord foi tão grande que gerou discussões no parlamento do Reino Unido
Imagem: Reprodução/Sony Interactive Entertainment.

O colapso de Concord, lançado em agosto de 2024 para PlayStation 5 e PC, ainda está rendendo consequências — e agora o caso chegou até o Parlamento do Reino Unido. O jogo, que prometia ser o novo grande sucesso da Sony no formato “live service”, acabou se tornando o exemplo máximo de como um projeto sem identidade pode desabar rapidamente, prejudicando tanto os jogadores quanto a reputação da empresa.

Agora, políticos britânicos estão debatendo novas leis para garantir mais transparência e proteção ao consumidor em casos como esse — e, pela primeira vez, os estúdios podem ser obrigados a informar o tempo de vida estimado de um jogo online antes de ele ser vendido.

Concord: o exemplo que ninguém quer repetir

Em um discurso recente no Parlamento, o deputado Ben Goldsborough citou diretamente o caso de Concord, descrevendo-o como “um exemplo claro de má comunicação entre empresa e consumidor”. O título foi descontinuado poucos meses após o lançamento devido ao baixo número de jogadores e críticas negativas, mas a decisão de encerramento pegou muita gente de surpresa.

Seguindo um lançamento decepcionante, a Sony Interactive Entertainment tomou a decisão comercial de encerrar o jogo. Para o crédito deles, reembolsaram todas as compras — mas isso nem sempre acontece.

A fala do parlamentar reflete o sentimento de muitos jogadores que investem tempo e dinheiro em títulos online e, de repente, veem o conteúdo desaparecer sem aviso prévio.

Novas regras para o mercado digital

O Parlamento britânico aproveitou o caso Concord para reforçar a importância da Digital Markets, Competition and Consumers Act 2024, uma nova legislação que busca proteger consumidores no ambiente digital.

De acordo com o texto, as empresas agora terão que fornecer informações claras, precisas e antecipadas sobre a funcionalidade e a longevidade de produtos digitais, incluindo jogos online.

Na prática, isso significa que desenvolvedores e publishers terão de ser transparentes sobre o que o jogador pode esperar:

  • Por quanto tempo o jogo será mantido ativo;

  • Se haverá atualizações de conteúdo;

  • E o que acontece com quem comprou o título em caso de encerramento.

Essa medida é vista como uma tentativa de impedir que novos “casos Concord” se repitam, em que consumidores pagam caro por um game que simplesmente deixa de existir meses depois.

O desafio dos games como serviço

O problema é que, no papel, tudo parece simples — mas a realidade dos jogos como serviço é muito mais instável. Esses títulos dependem de um ciclo constante de atualizações, eventos e manutenção, e qualquer falha nesse ritmo pode causar queda abrupta no interesse da comunidade.

Além disso, há questões econômicas e corporativas por trás: demissões, cortes de orçamento e decisões de acionistas frequentemente colocam fim a projetos antes que eles amadureçam. Foi o caso de Concord, que chegou ao mercado sem identidade, tentando surfar na onda de Overwatch e Destiny, mas sem o carisma ou a profundidade que tornaram esses títulos duradouros.

“Desenvolver conteúdo contínuo para um jogo live service raramente segue o plano inicial. Atrasos e imprevistos são comuns, mas mesmo uma previsão aproximada de suporte pós-lançamento já ajudaria os consumidores a fazer escolhas mais conscientes”, destacou Goldsborough durante a sessão parlamentar.

Um futuro mais transparente para os jogadores?

Com o avanço dessas novas leis, o Reino Unido pode se tornar o primeiro país a exigir transparência total sobre o ciclo de vida dos jogos online. A expectativa é que, com mais clareza, o público consiga tomar decisões mais conscientes antes de investir em experiências que dependem de servidores e atualizações constantes.

Para os estúdios, isso pode representar uma mudança de paradigma: será preciso planejar melhor, comunicar mais e evitar promessas vazias. Já para os jogadores, é um passo importante para que o dinheiro gasto em um game digital seja tratado com o mesmo respeito de qualquer outro produto.

No fim das contas, Concord pode ter sido um desastre comercial — mas, paradoxalmente, seu fracasso pode ter aberto caminho para uma indústria mais justa e transparente.

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