A minissérie Chernobyl, lançada recentemente pelo canal HBO, logo se tornou um sucesso estrondoso. Como seu nome deixa implícito, ela retrata a tragédia de Chernobyl, considerada o maior desastre nuclear da história da humanidade, que ocorreu na Ucrânia, em 1986. Mas afinal, quais foram os acertos e os exageros cometidos pelo seriado?
Com isso em mente, confira o que Chernobyl acertou e o que foi inventado para a série?
O que foi inventado para Chernobyl
O fogo da explosão emitia o dobro da radiação de Hiroshima a cada hora
Jan Haverkamp, especialista em energia nuclear do Greenpeace, disse que no fundo, é difícil comparar a exposição a radiação de Chernobyl com a de Hiroshima.
Haverkamp explicou que no caso da cidade japonesa, o maior problema de saúde foi causado pela exposição direta à radiação liberada pela bomba jogada pelos EUA, o que é determinado pela distância em que a pessoa se encontra do ponto de exposição.
Já no caso de Chernobyl, o material radioativo se espalhou pela atmosfera e por consequência, uma grande área, o que afetou muitas pessoas por um longo período de tempo.
Tim Mousseau, professor da Universidade da Carolina do Sul, nos EUA, que já esteve inúmeras vezes em Chernobyl, afirmou que a radiação liberada pela usina está espalhada por diversos locais: em alguns, a radiação é baixa, enquanto que em outros, ela é muito alta, conforme visto em uma cena em que os dosímetros de algumas pessoas começaram a apitar freneticamente após se aproximarem de uma bicicleta em cima de um poça d’água.
“Chernobyl não é uma área uniforme de grande radioatividade”, explicou Mousseau.
Uma médica chamada Ulana Khomyuk ajudou no processo de limpeza
Uma das principais personagens de Chernobyl é uma médica soviética chamada Ulana Khomyuk. De acordo com Craig Mazin, criador da série, incluir uma mulher nesse meio era algo que tinha sentido, já que a União Soviética era conhecida por ter muitas médicas.
No entanto, Khomyuk não existiu na vida real e ela foi criada para representar todos os cientistas envolvidos no processo de limpeza de Chernobyl. Já Valery Legasov, o chefe da investigação sobre o que ocorreu na tragédia, realmente existiu.
Uma nova explosão deixaria boa parte da Europa inabitável
No segundo episódio de Chernobyl, Khomyuk afirmou que uma nova explosão do reator da usina nuclear eliminaria Kiev, capital da Ucrânia, do mapa e também acabaria com parte de Minsk, capital da Bielorrússia. E além disso, a radiação liberada do local afetaria toda a Ucrânia, Letônia, Lituânia, Bielorrússia, Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia e parte da Alemanha Oriental.
No entanto, Jan Haverkamp disse que não seria possível precisar o que ocorreria no cenário de uma segunda explosão. E disse que Khomyuk cometeu “um exagero” ao afirmar que a possível nova explosão teria uma força de 4 megatons.
Um helicóptero caiu pouco após a explosão
Sim, de fato, um helicóptero caiu na área da usina nuclear. Mas o acidente só ocorreu duas semanas após a explosão, e não pouco depois de o desastre acontecer, como foi retratado na série.
O próprio Craig Mazin já admitiu que essa foi uma das poucas coisas que ele precisou modificar para a série. “Queria que as pessoas soubessem que esse foi um dos perigos com os quais os pilotos tiveram de lidar: um reator aberto. A radiação estava em torno deles”, disse, em uma entrevista para a revista Men’s Health.
O que é verdade em Chernobyl
Os soviéticos tentaram usar robôs para o processo de limpeza, mas foi preciso utilizar trabalho humano
Uma das cenas mais marcantes do quarto episódio de Chernobyl é quando homens removem grafite radioativo do telhado da usina nuclear, no que a série chamou de “lugar mais perigoso da Terra”. E na vida real, mais de 3 mil homens, de fato, se revezaram para limpar o local.
Em 1990, Yuri Semiolenko, um dos oficiais responsáveis por esse trabalho, afirmou que o governo soviético, inicialmente, tentou limpar a usina com robôs controlados por controle remoto. No entanto, a ideia não deu certo, já que as máquinas começam a quebrar justamente por conta da radiação. Assim, tiveram de usar homens.
Como o planeta ainda vivia os últimos dias da Guerra Fria, os soviéticos optaram por não pedir ajuda dos EUA, que tinha robôs mais avançados para esse tipo de serviço.
Homens receberam ordens de matar animais próximos para não espalhar a radiação
Neste mesmo quarto episódio, é possível ver três homens recebendo a ordem de atirar em qualquer animal que estivesse no entorno da usina. E isso realmente aconteceu, já que havia o medo de que eles ajudassem a espalhar ainda mais a radiação.
36 horas após a explosão, os moradores de Pripyat, a cidade que ficava próxima de Chernobyl, tiveram apenas 50 minutos para recolher seus pertences e embarcarem em ônibus. No entanto, ninguém pôde levar nenhum animal de estimação.
Muitas pessoas pensaram que retornariam em três dias, no entanto, a mudança foi permanente e Pripyat, desde então, se tornou uma cidade fantasma. E nesse meio tempo, tropas soviéticas receberam a ordem de matar qualquer cachorro, animal de estimação ou selvagem que estivesse no local, como forma de evitar uma contaminação ainda maior.
Em torno de 300 cães ainda vivem na área de exclusão de Chernobyl. No entanto, muitos deles não vivem mais de que seis anos justamente por conta dos efeitos da radiação.
Tim Mousseau afirmou que a radiação liberada pela usina é capaz de alterar as bactérias do trato intestinal de roedores e reduzir a população de pássaros e a germinação de sementes. E que os efeitos devem ser sentidos pelos animais locais por milhares e milhares de anos.
Um bombeiro que seria pai em breve morreu pouco após a explosão
O bombeiro Vasily Ignatenko e sua mulher, Lyudmilla, iriam para a Bielorrússia na manhã do dia 26 de abril, mas ele teve de ir até a usina nuclear por conta da explosão. Ele disse que acordaria a esposa assim que chegasse em casa, mas absorveu tanta radiação que acabou parando no hospital.
Luydmilla foi até o hospital para visitar o marido, mas recebeu a ordem de não tocar nele. Ela estava grávida, mas mentiu para o médico para conseguir ver o marido. Vasily morreu 14 dias depois e da mesma forma que na série, ele teve de ser enterrado em um caixão de zinco. Chernobyl até mostrou Luydmilla carregando os sapatos de seu amado, já que seus pés estavam muito inchados.
Lyudmilla até deu à luz para o bebê, mas ele morreu quatro horas após o parto.
Fonte: Business Insider
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