Conclave é aquele filme que pega uma premissa aparentemente simples e transforma em algo tenso, intrigante e, honestamente, fascinante. Afinal, quem diria que acompanhar cardeais trancados no Vaticano, votando em quem será o próximo Papa, poderia ser tão interessante? O diretor Edward Berger, que já brilhou com o pesado Nada de Novo no Front, conseguiu criar um thriller político e religioso que, mesmo sem ameaças de morte ou ação, mantém você na ponta da cadeira.
A história começa com a morte do Papa, o que dá início ao conclave, uma votação secreta onde os cardeais decidem quem será o novo líder da Igreja Católica. Parece burocrático, né? Só que não. Digo… até é. Mas Berger transforma essa eleição em uma arena de intrigas, ambições e segredos. No centro disso tudo está o Cardeal Thomas Lawrence, interpretado brilhantemente por Ralph Fiennes, que, além de organizar a votação, precisa lidar com os jogos de poder, alianças improváveis e revelações que poderiam abalar a fé de qualquer um.
Ralph Fiennes está impecável. Ele entrega uma performance carregada de nuance, alternando entre a serenidade de um líder religioso e a ansiedade de alguém que se vê cada vez mais envolvido nos bastidores sujos da eleição. Lawrence é o coração do filme, um personagem que tenta manter a ordem e a justiça em um ambiente onde todos parecem ter algo a esconder. Se o Oscar não der uma olhadinha na atuação dele, vai ser um pecado — e dos grandes.
A direção de fotografia de Stéphane Fontaine é outro espetáculo à parte. O Vaticano ganha uma atmosfera quase sufocante, com salas escuras, corredores intermináveis e a opulência que parece pesar sobre os personagens. A câmera estática em alguns momentos e os closes carregados de tensão nos fazem analisar cada expressão, cada detalhe, como se estivéssemos tentando decifrar o próximo movimento dos cardeais. O Vaticano aqui não é só um cenário; é quase um personagem, uma entidade imponente que reflete o peso da responsabilidade e dos pecados desses homens.
Os coadjuvantes também têm seus momentos de brilho. Stanley Tucci, John Lithgow, Sergio Castellitto e Lucian Msamati dão vida a cardeais com personalidades bem distintas, cada um representando uma visão diferente da Igreja. O conservadorismo de uns, o progressismo de outros, e até as sombras de segredos passados tornam a dinâmica entre eles tão imprevisível quanto uma partida de xadrez. E por falar em segredos, a entrada do misterioso Cardeal Benítez, vindo de Cabul, adiciona uma camada extra de suspense muito bem vinda, que me deixou intrigado do começo ao fim.
O roteiro, adaptado do livro de Robert Harris, é afiado. Ele equilibra bem o drama político e as discussões religiosas, sem cair na tentação de julgar ou santificar seus personagens. Uma das melhores frases do filme é:
“Representamos um ideal, mas ainda somos homens comuns”.
Essa linha resume bem o tom do filme, mostrando que, por trás das vestes sagradas, existem ambições, fraquezas e, claro, muita política.
A trilha sonora de Volker Bertelmann também merece destaque. Ela adiciona um senso de urgência e mistério, especialmente nas cenas mais tensas, como as votações e as conversas nos bastidores. É impressionante como uma simples fumaça branca ou preta, que indica o resultado das votações, consegue gerar tanta expectativa com a música certa ao fundo.
Mas nem tudo é perfeito. Um ponto que talvez não agrade a todos é o ritmo. O filme é deliberado e, em alguns momentos, parece se arrastar, especialmente quando mergulha demais nos rituais e na pompa do conclave. Ainda assim, para quem, assim como eu, curte narrativas que constroem tensão lentamente, isso pode ser mais um charme do que um problema.
No geral, Conclave é um filme que surpreende ao transformar um processo tão formal em um thriller cheio de camadas. Edward Berger prova mais uma vez que sabe como prender a atenção do público, mesmo com um tema tão incomum. O elenco, liderado por Ralph Fiennes, é simplesmente fantástico, e a direção de arte e fotografia elevam o filme a outro nível.
Se você gosta de histórias sobre poder, ambição e segredos, Conclave é um prato cheio. O filme estreia no dia 23 de janeiro, então VALE MUITO A PENA assistir. É aquele tipo de filme que te faz pensar no que realmente acontece por trás das portas fechadas do Vaticano — e em como até os homens de Deus não estão imunes às tentações do poder. E, olha, depois desse filme, toda vez que eu vir uma fumaça saindo da Capela Sistina, vou me perguntar: o que realmente está acontecendo lá dentro?
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