Crítica: Filme nacional, O Doutrinador deve agradar aos fãs de HQs

Igor Miranda

Crítica: Filme nacional, O Doutrinador deve agradar aos fãs de HQs
Foto: Aline Arruda

Não consigo me recordar, exatamente, se o Brasil já produziu algum filme de herói de quadrinho. O Doutrinador, com estreia marcada para o dia 1° de novembro, é o primeiro longa-metragem do tipo – e o personagem, criado por Luciano Cunha, ainda renderá uma série de TV, a ser exibida em 2019 no canal Space.

O personagem que protagoniza o filme é definido como “Um anti-herói brasileiro que depois de uma tragédia pessoal decide escolher os maus políticos como objeto de sua vingança, caçando corruptos independentemente do matiz ideológico”. A descrição soa atual para o brasileiro, embora sua história tenha sido criada em 2008 – problemas políticos em terras tupiniquins parecem ser atemporais, não é?

O Doutrinador é, na verdade, o alter-ego do agente federal Miguel (interpretado por Kiko Pissolato), que trabalha na investigação e detenção de políticos corruptos. No entanto, uma tragédia pessoal – a perda da filha, que morre após ser atingida por uma bala perdida e, devido à ausência de médicos e estrutura, não é atendida a tempo em um hospital público – deixa o policial revoltado a ponto de se tornar um anti-herói. O personagem é auxiliado pela jovem hacker Nina (Tainá Medina), que tem uma visão bastante crítica sobre o sistema judicial brasileiro graças a uma situação também pessoal.

Embora os protagonistas de O Doutrinador sejam menos conhecidos do público geral, nomes como Eduardo Moscovis, Marília Gabriela, Helena Ranaldi, Natália Lage, Tuca Andrada e Samuel de Assis completam o elenco. Contudo, foram justamente Kiko Pissolato e Tainá Medina que roubaram a cena durante o filme, com boas interpretações de seus papéis – Pissolato, em especial, merece destaque por ter incorporado um personagem que estamos acostumados a ver apenas em filmes gringos. Moscovis também dá show de interpretação, adotando a figura de “político asqueroso” com naturalidade.

Além das boas atuações, a parte visual de O Doutrinador surpreendeu positivamente. Sabemos que esse é um ponto importante para quem gosta de HQs e filmes derivados desse universo. E, nesse sentido, o longa não decepciona em quesitos como efeitos especiais, figurino e produção geral.

Também foi prudente escolher um personagem sem superpoderes para uma produção desse tipo. Reconhecidamente, O Doutrinador não dispõe do mesmo orçamento de filmes da DC ou do Universo Marvel, por exemplo. Em termos visuais, fazer o “arroz com feijão” de qualidade era essencial – e isso foi feito.

O roteiro, por sua vez, deixa um pouco a desejar – aliás, esse é um ponto problemático em quase todos os filmes brasileiros. Dá para perceber que a história não foi tão bem desenvolvida quanto poderia. O início é um pouco lento, talvez sob o pretexto de facilitar a empatia entre os personagens e o público. A partir da tragédia pessoal, o longa se desenvolve bem. No entanto, em seu “ato final”, as ações passam a não fazer mais tanto sentido, pois aceleram-se de forma um pouco desnecessária e o público pode ficar um pouco perdido ou disperso.

Além disso, a proximidade excessiva do Doutrinador com o Justiceiro pode incomodar quem conhece bem a história do anti-herói da Marvel. O fã mais ligado às HQs pode passar boa parte do filme fazendo comparações – o que é ruim, pois ofusca os méritos da produção brasileira.

Embora existam alguns pontos que poderiam ser melhorados, o saldo final de O Doutrinador é positivo. Fui surpreendido, pois, para ser sincero, não esperava tanto: o filme é bem produzido, tem boas cenas de ação e, na maior parte do tempo, é envolvente. Não precisa de muito além disso para termos um bom longa-metragem do gênero.

Por si só, ter um filme nacional baseado em um (anti-)herói de quadrinho também brasileiro é uma ótima notícia. Porém, não foi por acaso que justo O Doutrinador se tornou um projeto pioneiro: o filme é bom o bastante para valer o ingresso.

Elenco:

Kiko Pissolato (Miguel)
Samuel de Assis (Edu)
Tainá Medina (Nina)
Marília Gabriela (Ministra Marta Regina)
Eduardo Moscovis (Sandro Correa)
Helena Ranaldi (Julia Machado)
Natália Lage (Isabela)
Natallia Rodrigues (Penélope)
Tuca Andrada (Delegado Siqueira)
Gustavo Vaz (Anterinho)
Carlos Betão (Antero Gomes)
Nicolas Trevijano (Diogo)
Eduardo Chagas (Oliveira)

Ficha técnica:

  • Direção: Gustavo Bonafé
  • Roteiro: Mirna Nogueira, LG Bayão, Rodrigo Lages, Denis Nielsen, Guilherme Siman, Gabriel Wainer e Luciano Cunha
  • Produção: Marcio Fraccaroli, Sandi Adamiu, Bruno Wainer – Produção Executiva: Renata Rezende
  • Direção de Fotografia: Rodrigo Carvalho – Produtora de elenco: Renata Kalman
  • Diretor de Arte: Marghe Pennacchi – Figurinista: Flavia Lhacer
  • Montador: Federico Brioni e Sabrina Wilkins

Para saber mais sobre O Doutrinador, veja:

8 curiosidades sobre O Doutrinador que você não sabia

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