Entre os filmes que estreiam nos cinemas brasileiros nesta semana, A Moça do Calendário chama a atenção por vir cheio da linguagem visual de Helena Ignez. A Primeira Noite do Crime, Dez Segundos para Vencer e Sansão também são destaques.
Veja:
Sansão
O velho mito bíblico de Sansão reaparece neste filme de Bruce McDonald e Gabriel Sabioff. O personagem (Taylor James) recebe de Deus o dom da força descomunal e usa cabelos longos. A cabeleira é a chave da sua força, como todos sabem. A história já foi filmada diversas vezes, inclusive por Cecil B. de Mille, um especialista em dramas bíblicos.
https://www.youtube.com/watch?v=0Ob-kbd04iU
De Mille descobriu, e a realidade nunca o desmentiu, que o Velho Testamento está repleto de histórias ótimas, cheias de ação, sedução e violência. Ou seja, de tudo que o cinema gosta e o público aprecia. De modo que, volta e meia, um novo produtor acha que não tem nada a perder ao beber na imemorial fonte das Sagradas Escrituras. Eles devem ter razão.
A Moça do Calendário
A Moça do Calendário parte de um roteiro de Rogério Sganzerla (1946-2004). Quem o filma é Helena Ignez, que foi casada com Rogério e com ele teve duas filhas, Djin e Sinai. O roteiro foi modificado, mas mostra as linhas de inspiração de Rogério, um dos expoentes de um cinema, que, à falta de denominação melhor, ficou conhecido como “marginal”. Aliás, essa denominação existe e deve-se ao crítico Jairo Ferreira, que o chamava de “cinema de invenção”.
Invenção é o que temos a partir do primeiro fotograma de A Moça do Calendário. Helena, atriz notável do Cinema Novo e do, vá lá, cinema de invenção (O Padre e a Moça, O Bandido da Luz Vermelha, etc.), cria a partir do roteiro e constrói sua obra com linguagem visual própria.
O protagonista é menos a personagem a que alude o título e mais o dublê de mecânico e dançarino Inácio (André Guerreiro Lopes). Alternando trabalho durante o dia e as pistas de baile à noite, Inácio sonha com a doce figura de mulher (Djin Sganzerla) estampada na parede de sua oficina. Ou seja, a garota da folhinha é uma projeção da fantasia romântica de Inácio.
Lindamente filmado, A Moça do Calendário traz sequências memoráveis de São Paulo que, magicamente, se torna uma cidade bela sob o olhar de Helena. Há um passeio de bicicleta de antologia pelas ruas da cidade – que, em certo sentido, evoca o “neorrealista” O Grande Momento, de Roberto Santos. Praças e ruas tornam-se personagens desse filme lúdico e leve, e a Praça da República é vista sob um ângulo luminoso.
Mas o que há, talvez, de mais importância a ser retido desse exercício cinematográfico, é o grau de liberdade que sua diretora se permite. Helena é um espírito livre e esse é seu estilo. Faz um cinema que não apenas evoca a liberdade, mas é libertário em sua própria linguagem. Faz-nos sonhar, pensar e sentir. Esse é o pão do espírito de que tanto necessitamos.
PéPequeno
Uma versão na contramão da história do ‘abominável homem das neves’. Você acha que é mito? Pois para o tal homem das neves, os humanos é que são mitos, e ele vai querer provar.
Quem viu o trailer dificilmente vai perder a fábula, que promete agradar a adultos e crianças com sua fantasia.
Coração de Cowboy
Embora tenha feito mestrado de cinema nos EUA, e ame westerns, o diretor inspirou-se na própria música sertaneja e em filmes como 2 Filhos de Francisco e A Estrada da Vida para contar sua fábula de perda e superação. Acredite – o filme é bom, e Gabriel Sater tem jeito como ator.
10 Segundos para Vencer
Claro que é sobre boxe – afinal, trata-se de uma cinebiografia do nosso maior campeão, Eder Jofre. Mas 10 Segundos para Vencer, de José Alvarenga Jr., também é mais que isso. Fala do comovente relacionamento entre pai e filho, no caso Eder (Daniel de Oliveira) e seu pai e treinador, Kid Jofre (Osmar Prado, iluminado).
Eder veio de uma família de lutadores e deu duro para chegar ao título mundial, sob o olhar severo de Kid. O filme retrata uma São Paulo que o tempo levou, numa época de otimismo da sociedade brasileira. As lutas são bem encenadas. E a história do rapaz que de fato deu a cara a bater para conquistar o mundo é fantástica e tocante. 10 Segundos para Vencer é um Touro Indomável, com final feliz.
A Primeira Noite de Crime
O filme anuncia um tipo de distopia política sob a forma de jogo. Um novo partido político, chamado New Founding Fathers of America, assume o poder e promove um experimento social: durante 12 horas não haverá lei e as pessoas poderão fazer o que bem entenderem.
Não há obrigatoriedade de participação, mas o governo oferece US$ 5 mil a quem permanecer na cidade e prêmios para os que entrarem no jogo. Dirigido por Gerard McMurray, o filme é a quarta continuação da franquia Noite de Crime. A ideia parece ser avaliar o que significa, em experimento temporário, a ausência de Estado regulador. Ou seja, a volta àquilo que os filósofos chamavam de “estado de natureza”, a guerra de todos contra todos.
Crimes em Happytime
Ex-policial une-se à antiga parceira que o levou a ser expulso da instituição para investigar quem está matando integrantes de uma série de sucesso dos anos 1980.
Com a fofa Melissa McCarthy no elenco, vai ser difícil a comédia não ser divertida. As trapalhadas dela garantem boas risadas.
A Fábrica de Nada
Uma noite, os operários de uma fábrica de elevadores percebem que o maquinário está sendo levado do local. Este é o mote de A Fábrica de Nada, do português Pedro Pinho, olhar original sobre os desvarios do capitalismo e a (problemática) luta dos trabalhadores.
À maneira de outros filmes do cinema português contemporâneo, este também é direto e politizado. Agarra a realidade pelo colarinho, mas não se contenta com formas gastas para comentá-la. É também inventivo na forma, sem cair no hermetismo. As divisões entre facções de operários, a tentativa de manipulação dos gerentes, as palavras de ordem política e a indiferença dos patrões: tudo está lá, soletrado em linguagem tão simples como inovadora.
Marcha Cega
Em junho de 2013, o fotógrafo Sérgio Silva saiu de casa para cobrir um ato contra o aumento das passagens em São Paulo. Atingido por uma bala de borracha, perde a visão. Ele é personagem de Marcha Cega, de Gabriel Di Giacomo.
Com muitas imagens de rua (e não apenas das chamadas Jornadas de Junho), e entrevistas com manifestantes e especialistas, Marcha Cega traça um panorama sombrio da ação da PM. Há policiais que reprimem com cacetadas e tiros manifestações tidas pelo Estado como indesejáveis, em outras circunstâncias outros policiais posam para selfies com as pessoas, como se viu em concentrações na Avenida Paulista pelo impeachment de Dilma.
Um Pequeno Favor
Anna Kendrick, uma das princesas dos musicais da Broadway, divide-se entre cuidar do filho e o trabalho como vlogueira.
Mas, quando sua melhor amiga desaparece, ela resolve investigar. Anna é ótima, e o filme foi recebido com simpatia pela crítica. Ou seja, mais uma comédia policial para competir com Crimes em Happytime.
O Que de Verdade Importa
O Que de Verdade Importa reverterá a venda de ingressos para instituições de combate ao câncer infantil. É, assim, um filme benemérito, quaisquer que sejam suas eventuais qualidades estéticas. Dirigido por Paco Arango, conta a história de Alec Bailey (Oliver Jackson-Cohen), um homem desencantado da vida, em especial depois de perder o irmão gêmeo para um câncer fatal.
Alec comporta-se como se não houvesse amanhã, mas algo diferente se passa quando um tio distante surge do nada para proporcionar grandes mudanças em sua vida. Pela sinopse, a história fala do aprendizado pela experiência e trabalha na ideia de que, sem fé, a existência nada vale. Pelo visto, a trama reúne alguns temas clássicos da autoajuda e da crença religiosa.
O Homem Perfeito
Além do sucesso Bruna Surfistinha, Marcus Baldini conseguiu o prodígio de fazer um raro blockbuster que, neste ano, não negou fogo na bilheteria – Uma Quase Dupla.
Luana Piovani faz escritora que tem a vida perfeita – até descobrir que o marido tem outra, e com metade da idade dela. Crise, crise!
Uma Noite de 12 Anos
O diretor Brechner conta como foi emocionante apresentar esse filme e ser ovacionado pelo público em Veneza.
A história do cativeiro do futuro presidente José ‘Pepe’ Mujica pela ditadura militar uruguaia tem força. Prepare seu coração.
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