Poucos jogos conseguem mexer com o jogador logo nos primeiros minutos. Death Howl é um desses casos raros. Desde o início, ele carrega um peso emocional que não é comum nesse tipo de experiência, colocando você na pele de uma mãe que se recusa a aceitar a morte do próprio filho e decide atravessar o mundo espiritual para trazê-lo de volta. Só essa premissa já cria uma conexão forte. E o que vem depois só aprofunda ainda mais essa sensação.
O jogo aposta em uma mistura que, no papel, parece improvável: soulslike com deck builder. Mas, surpreendentemente, funciona. E funciona muito bem.
Um sistema de cartas que vai além do óbvio

Diferente dos deck builders tradicionais, aqui as cartas não são só ataques ou defesas. Elas são o coração de toda a estratégia. Em Death Howl, você constrói seu baralho enquanto explora diferentes regiões do mundo espiritual. Cada área possui suas próprias cartas e mecânicas.
Existe um detalhe interessante: usar cartas de outras regiões gera penalidades, custando mais mana para serem ativadas. Isso obriga o jogador a pensar antes de simplesmente montar um “baralho perfeito”.
Mas tem algo que incomoda. Que seria o grind. A moeda de progressão do jogo são os Howls. Eles são conquistados ao derrotar inimigos, mas perdidos se você morrer antes de recuperá-los. Esse sistema, claramente inspirado em jogos no estilo Dark Souls, gera tensão, mas também força o jogador a repetir batalhas várias vezes para conseguir criar novas cartas e habilidades.
Combate tático em grids que exige cérebro, não reflexo
As batalhas acontecem em arenas em forma de grade. Cada combate é quase como um quebra-cabeça.
Você escolhe a posição inicial, define seus movimentos e depois precisa lidar com inimigos que não são nada previsíveis. Eles se adaptam, mudam o ritmo do combate e, em alguns casos, invocam aliados que podem virar a luta em segundos.
O desafio não vem só da força bruta do inimigo, mas da necessidade de aprendizado. Errar faz parte. Muito. Cair e se reerguer é praticamente uma mecânica do jogo.
Exemplos de desafios que fazem a diferença:
- Inimigos que aplicam veneno, forçando cartas de cura na sua mão
- Oponentes de longo alcance que obrigam um estilo de jogo mais paciente
- Chefes que invocam reforços se a luta se estende demais
Totens: bênçãos que cobram um preço
Durante a jornada, você encontra totens espalhados pelo mapa. Eles oferecem bônus, mas nunca são gratuitos.
Alguns aumentam sua mana, mas inserem cartas negativas no seu baralho. Outros fortalecem sua defesa, mas forçam o descarte de cartas por turno. Essas decisões criam um jogo psicológico constante: você aceita o benefício ou evita o risco?
Esse sistema adiciona uma camada de profundidade que faz cada escolha parecer importante.
Mundo aberto, mas não tão livre quanto parece
Apesar de permitir explorar regiões em diferentes ordens, o jogo impõe barreiras naturais através da dificuldade. É possível andar livremente, mas o mundo deixa claro quando você não está pronto para seguir adiante.
As Sacred Groves funcionam como pontos de descanso, lembrando muito as fogueiras dos soulslikes. Elas curam sua personagem, permitem upgrades e desbloqueiam viagens rápidas. Em troca, todos os inimigos da área voltam.
Esse ciclo cria uma dinâmica interessante: segurança versus risco.
Onde o jogo brilha — e onde tropeça
A ambientação é um dos pontos mais fortes. Cada região possui identidade própria, com transições suaves e uma direção de arte minimalista, mas cheia de alma. A trilha sonora e os efeitos sonoros ajudam a construir um clima quase meditativo… até o próximo combate começar.
Por outro lado, o jogo sofre com picos de dificuldade muito bruscos. A progressão pode parecer lenta, principalmente para quem não está acostumado com grind pesado.
O sistema de missões também cria certa frustração, já que algumas quests exigem idas e vindas desnecessárias. Em vez de fluidez, você sente que está fazendo tarefas apenas por obrigação.
Vale a pena jogar Death Howl?
Apesar dos tropeços, Death Howl entrega algo raro: identidade. Ele não parece um jogo genérico tentando copiar fórmulas conhecidas. Pelo contrário, ele mistura ideias que poucos teriam coragem de unir e consegue criar uma experiência memorável.
Para quem curte desafios de verdade e gosta de jogos que exigem estratégia e paciência, esse é um título que merece atenção. E a sensação que fica é uma só: esse não é um jogo feito para pressa — é feito para ser sentido, pensado e superado.





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