Uma discussão antiga volta de tempos em tempos nas redes: a Coca-Cola teria sido responsável por definir o vermelho como a cor oficial do Papai Noel? A hipótese, que circula desde os anos 2000, sugere que o personagem teria adotado o tom escarlate por influência direta da marca. No entanto, documentos históricos e registros artísticos mostram que isso simplesmente não é verdade.
De acordo com arquivos consultados ao longo dos anos, a figura natalina já aparecia com roupas em diferentes variações de vermelho — como rubi, carmesim e bordô — desde meados do século XIX, muito antes das campanhas da companhia lançadas na década de 1930.
Origens do Papai Noel
Em 2008, o então diretor do departamento de Arquivos da Coca-Cola, Phil Mooney, esclareceu oficialmente a polêmica. Segundo ele:
“Na verdade, não reivindicamos a cor do casaco do Papai Noel, embora isso tenha funcionado bem para nós, já que o vermelho está muito ligado à Coca-Cola! Mas não fomos nós que tivemos a ideia de vestir o Papai Noel com roupas vermelhas.”
A cor já aparecia em anúncios e ilustrações dos anos 1860, como um registro de 1868 produzido pela US Confection Company, em Nova York. O artista Louis Prang, considerado o “pai do cartão de Natal americano”, também retratou a figura em trajes rubros. Além dele, o influente cartunista político Thomas Nast deu forma ao corpo rechonchudo e aos símbolos que acompanham o personagem até hoje — ainda que o tenha vestido com roupas de diversas tonalidades, não apenas vermelhas.
Grande parte dessas tradições chegou aos Estados Unidos pela imigração alemã e holandesa. Não por acaso, celebrações como calendários do Advento, casas de biscoito e árvores de Natal têm forte influência germânica. A concepção do Papai Noel também deriva de São Nicolau, bispo do século IV conhecido por realizar doações secretas, incluindo moedas deixadas em sapatos e dotes oferecidos a jovens sem recursos.
Da figura religiosa ao personagem popular
Os primeiros registros visuais de São Nicolau eram ícones religiosos, como a famosa pintura russa do século XIII encontrada na Igreja de Lipnya, em Novgorod. Com o passar dos séculos, o santo ganhou novos nomes e representações. O termo “Santa Claus”, nome do Papai Noel em países de língua inglesa, deriva do holandês Sinterklaas, uma abreviação de Sint Nikolaas.
Segundo tradições holandesas, o personagem percorria telhados montado em um cavalo branco enquanto seus ajudantes observavam as chaminés das casas. Esses relatos se misturaram a elementos da mitologia nórdica, aproximando a figura de Odin, que também julgava o comportamento das crianças.
A partir do século XIX, especialmente com a convivência entre imigrantes alemães, holandeses e britânicos nos EUA, o visual do Papai Noel ganhou contornos mais padronizados. Nos anos 1860, Nast o retratou com trenó, renas, barba longa e semblante alegre — elementos reconhecidos até hoje.
A participação da Coca-Cola na construção da imagem atual
Embora a imagem do Papai Noel já estivesse estabelecida décadas antes, a chegada da Coca-Cola ao imaginário natalino ampliou e fixou a versão mais conhecida globalmente. A empresa, fundada em 1886, só começou a associar o bom velhinho à marca no início dos anos 1930.
O diretor de publicidade Archie Lee contratou o artista Haddon Sundblom para desenvolver novas ilustrações do personagem. Entre 1931 e 1964, Sundblom produziu imagens que mostravam um Papai Noel mais humano, caloroso e simpático, com bochechas rosadas e expressões realistas. Suas criações foram inspiradas tanto em artistas anteriores quanto no poema de 1822 escrito por Clement Clarke Moore, “A Visit from St. Nicholas” — também conhecido como “Twas the Night Before Christmas”.
Essas campanhas ajudaram a popularizar e padronizar mundialmente o visual moderno do personagem, mas não foram responsáveis por criá-lo.
O que dizem os registros oficiais
Um comunicado oficial da empresa reforça essa conclusão:
“A Coca-Cola não criou a lenda do Papai Noel. Mas a publicidade da Coca-Cola teve um grande papel em moldar o personagem alegre que conhecemos hoje.”
A marca acrescenta que, antes de 1931, havia representações muito distintas do personagem ao redor do mundo — de figuras altas e magras a versões mais sombrias. A partir das ilustrações de Sundblom, o visual caloroso e acessível passou a ser dominante.





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