Era de Ouro, Era de Prata… como é dividida a história dos quadrinhos?

Cheyna Corrêa (Texto: André Luiz Fernandes)

Era de Ouro, Era de Prata… como é dividida a história dos quadrinhos?
Reprodução: DC Comics

Você provavelmente já ouviu alguns termos, mas pode não saber bem o que eles significam; Era de Ouro, Era de Prata e outros períodos da história dos quadrinhos marcam a história da mídia, especialmente nos Estados Unidos, de onde vêm as histórias e personagens mais famosos. Mas afinal, o que significa tudo isso?

Entre os autores e estudiosos dos quadrinhos americanos, surgiu uma forma de classificar os períodos iniciais que se estende até hoje. As datas são aproximadas, mas ajudam a entender melhor as tendências e inovações que cada período, editora, autor, artista e personagem trouxe em colaboração à nona arte.

Resumidamente, os períodos são divididos da seguinte forma:

Era Vitoriana (1842-1882)

Normalmente, a expressão Era Vitoriana diz respeito ao reinado da Rainha Vitória no Reino Unido, que, não por coincidência, se encaixa com o período citado aqui. Temos o que é chamado de proto-quadrinhos, especialmente em 1842, com a publicação do livro ilustrado The Adventures of Mr. Obadiah Oldbuck, de Rodolphe Töpffer. Não parecia com uma HQ moderna, mas provavelmente foi o primeiro passo nessa direção, seguida por outras obras.

Era de Platina (1882-1938)

A virada do século marca também uma época de transição das histórias ilustradas para os quadrinhos propriamente ditos, desenvolvidos a partir das clássicas tirinhas de jornais, que logo viraram revistas e livros com histórias contadas daquela maneira. A Era de Platina marca também o advento das tintas coloridas, elemento crucial para uma HQ mais próxima do que se considera moderno.

Era de Ouro (1938-1954/1956)

Em 1938, é publicada a revista Action Comics #1, que marca a primeira aparição do Superman e o início da Era de Ouro dos quadrinhos. O Superman era o herói por definição e gerou diversas “cópias”, algumas bem conhecidas até hoje, como o Lanterna Verde, o Batman, o Capitão América e muitos outros. As histórias traziam vários gêneros e temas e um universo realmente rico nascia ali, mas logo os primeiros limites seriam impostos.

Era de Prata (1956-início dos anos 70)

Nos anos 50, o governo americano começou a tentar regular os quadrinhos. Não precisou: a própria Comics Magazine Association of America criou o Código de Autoridade dos Quadrinhos e assim nasceu a Era de Prata. Embora as histórias dessa época sejam consideradas “bobas” atualmente, devido à censura, foi também nesse período que Marvel e DC despontaram como as principais editoras.

A primeira, principalmente, ganhou força nessa época com os Vingadores, os X-Men, o Homem-Aranha e outros personagens. Já a DC precisou se adaptar às novas regras vigentes e acabou criando versões novas de personagens já conhecidos da Era de Ouro, como o Flash Barry Allen, por exemplo.

Era de Bronze (início dos anos 70-1985)

Com a chegada dos anos 70, muita coisa começou a mudar dentro dos escritórios das editoras, o que se refletiu nas publicações. Os autores estavam conseguindo driblar a censura – ou simplesmente ignorá-la – com mais facilidade, ao mesmo tempo que introduziam temas sociais, de ordem mais séria, fruto da própria época. A Era de Bronze foi uma retomada das HQs como mídia realmente importante, passando a ser encarada dessa forma pelo grande público.

Era de Cobre (1985-1992)

Como esperado, a temática mais séria chegou a um auge durante a chamada Era de Cobre, a partir da metade dos anos 80. Muitos dos clássicos modernos saíram nessa época, em HQs como A Piada Mortal, O Cavaleiro das Trevas Ressurge, A Última Caçada de Kraven, todas elas mais “dark” do que o habitual, além de títulos isolados como Sandman, Watchmen e outros.

A Era de Cobre marca também a chamada Invasão Britânica, quando muitos artistas britânicos migraram para o mercado americano e imprimiram novas ideias e novas formas de se contar histórias. Entre os nomes mais lembrados do movimento estão autores como Alan Moore, Grant Morrison e Neil Gaiman.

Era de Cromo (1992-2000)

A Invasão Britânica afetou as bases dos quadrinhos americanos e já no início dos anos 90, histórias chocantes, que mudavam o status quo dos universos, já eram publicadas. Era do Apocalypse, A Morte do Superman, Morte na Família e a Saga do Clone do Homem-Aranha dão o tom da chamada Era de Cromo, que ganhou esse nome pelo visual exagerado dos quadrinhos da época, tentando chamar a atenção inclusive com cores metálicas nas capas.

A Morte do Superman, em especial, levou a uma verdadeira corrida entre Marvel e DC para ver quem chocava mais. Isso deixou a qualidade de lado em muitos momentos e as duas grandes experimentaram um declínio financeiro notável. Para piorar, surgiu uma terceira força na época, a Image Comics, fundada por nomes como Todd McFarlane, Rob Liefeld e outros da nova geração. Muitas das HQs da editora tiveram sucesso comparável à DC e Marvel, como Spawn.

Era de Plástico (2000-2011)

A virada do milênio trouxe também a chegada do cinema no mundo dos super-heróis e as duas mídias se influenciaram entre si. No que ficou conhecido como Era de Plástico, os quadrinhos tinham uma pegada realista, inspirada nos filmes, enquanto os filmes tentavam adaptar o que se via nos quadrinhos. O visual era militarizado, feito para parecer mais realista, e as histórias frequentemente lidavam com temas recorrentes, como guerras.

Ao mesmo tempo, foi uma tentativa de reverter os efeitos da Era de Cromo dos anos 90, mas feito de uma forma séria até demais. Financeiramente, as coisas melhoraram, já que os filmes e o nascimento do MCU colocaram o mundo dos quadrinhos em evidência novamente. A Image Comics também ganhou sua “galinha dos ovos de ouro”: The Walking Dead.

Nova Era Azul/Modernização (2011-2019)

A partir da década seguinte, os quadrinhos passaram a tentar acompanhar a explosão dos filmes de super-heróis e se aproveitar disso. O tom sério até demais foi deixado para trás, já que os filmes não eram assim. Foi feito um esforço consciente para trazer mais representatividade, variedade e “good vibes” para as HQs no que foi chamado de Modernização.

Se por um lado, aqui nasceram e cresceram personagens cruciais, como Miles Morales, Ms. Marvel e Arlequina, por outro, os quadrinhos passaram a se tornar cada vez mais “item de colecionador”. As belas edições encadernadas, com capa dura e impressões de luxo aumentaram os preços consideravelmente, enquanto ao mesmo tempo, a era da internet tornava tudo mais acessível – embora nem sempre legalmente.

Era do Pixel (2019-atualmente)

Quadrinhos e cinema foram afetados pela pandemia de covid-19 e tiveram baixas significativas e atualmente, ainda tentam se recuperar do baque, no que é chamado de Era do Pixel. Isso porque as vendas online aumentaram muito, não só pelo acesso mais fácil e preço mais barato, mas também como forma de frear a pirataria, o que tem rendido bons resultados.

Além disso, a internet dominou de vez o mercado e fez com que artistas independentes ganhassem reconhecimento tanto quanto qualquer coisa da DC ou da Marvel, inclusive prestando serviços a essas duas com frequência. As pessoas se interessam por artistas e seguem os trabalhos deles, independente do título ou do personagem no qual trabalham.

Marvel e DC ainda dominam, mas não são mais as únicas. A Image segue forte com Invencível, que chegou também à TV, e títulos como The Boys, da Dynamite, também ganharam destaque. Há ainda o boom dos mangás, que já vem de outras eras, mas agora, mais do que nunca, se tornou concorrência e também possibilidade de novos lançamentos. HQs e mangás conversam entre si com mais frequência.

O que será que vem por aí?

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