Uma nova pesquisa do Instituto de Santa Fé, nos EUA, traz à tona o impacto da imprensa na popularização da caça às bruxas, um fenômeno que aterrorizou a Europa entre os séculos XV e XVII.
Com a invenção da prensa por Johannes Gutenberg em 1450, o cenário da comunicação e da disseminação de informações mudou radicalmente. Embora tenha facilitado a disseminação em massa da literatura, essa inovação também contribuiu para a propagação de desinformação.
O estudo destaca que o principal responsável pelo início dessa perseguição foi o Malleus Maleficarum, um manual de caça às bruxas publicado em 1487. Este livro, amplamente distribuído, levou a aproximadamente 90 mil julgamentos de mulheres acusadas de bruxaria entre 1450 e 1750, resultando em cerca de 45 mil execuções. O manual não só detalhava a teoria da bruxaria, como também fornecia diretrizes sobre como identificar e condenar essas supostas praticantes.
A ideia de bruxas já existia no folclore desde os tempos dos antigos romanos, sendo a bruxaria vista como uma “atividade conspiratória contra a sociedade”. Com a impressão em massa do Malleus Maleficarum, as ideias sobre bruxaria se espalharam rapidamente, influenciando cidades vizinhas e criando um efeito dominó. “A combinação de novas ideias pelos livros e a influência dos julgamentos em lugares próximos criaram as condições perfeitas para a disseminação dessa prática de perseguição”, afirma Kerice Doten-Snitker, co-autora da pesquisa.
Os pesquisadores também observaram que, antes do surgimento do manual, havia apenas um entendimento vago entre as autoridades sobre a natureza e as atividades das bruxas.
O estudo analisou dados relacionados aos julgamentos e constatou que novas edições do Malleus Maleficarum resultavam em um aumento significativo nos julgamentos na localidade onde eram impressas.
É importante ressaltar que, embora a prensa tenha facilitado a propagação das ideias de perseguição, “a prensa não deu início a teorias elaboradas sobre bruxaria e ao subsequente movimento de caça às bruxas, mas nossos resultados mostram que a prensa fomentou a disseminação dessas ideias”, concluem os autores do estudo. Sem a invenção de Gutenberg, a difusão do Malleus Maleficarum teria sido muito mais limitada.
Este estudo não apenas ilumina a interseção entre tecnologia e história, mas também convida à reflexão sobre como as inovações podem moldar narrativas sociais e influenciar comportamentos coletivos.
Fonte: Uol
Seja o primeiro a comentar