O roteirista Emil Pagliarulo, conhecido por seu trabalho nas franquias Fallout e The Elder Scrolls, comentou recentemente sobre as diferenças narrativas entre as duas séries e explicou por que considera Fallout um universo mais complexo de se escrever. A declaração foi feita em entrevista ao site GamesRadar+ e destaca como as escolhas morais influenciam diretamente a construção das histórias nos RPGs da Bethesda.
Segundo Pagliarulo, jogos de RPG densos como Fallout e The Elder Scrolls exigem inúmeras decisões criativas, especialmente quando envolvem múltiplos finais e facções com interesses conflitantes. Em títulos como ‘Fallout: New Vegas’, por exemplo, o jogador se depara com diversos grupos disputando apoio, sem que fique claro qual deles representa, de fato, o melhor caminho para a humanidade.
Ao comparar as duas franquias, o roteirista apontou que a fantasia de The Elder Scrolls tende a facilitar a construção moral da narrativa. “Acho que é mais fácil em um jogo de fantasia como The Elder Scrolls, onde muitos dos clichês são ‘existe um grande mal absoluto’”, afirmou. De acordo com ele, nesse tipo de cenário, a separação entre bem e mal costuma ser mais evidente.
Essa clareza, no entanto, não se aplica ao universo pós-apocalíptico de Fallout. Para Pagliarulo, a série se destaca justamente por trabalhar com zonas cinzentas. “Com Fallout, existem muitas áreas de ambiguidade moral”, explicou, ressaltando que raramente as decisões apresentadas ao jogador são simples ou totalmente corretas.
O roteirista citou especificamente os conflitos presentes em ‘Fallout 4’ como exemplo dessa complexidade narrativa. “Acho que em Fallout 4, especialmente com a Irmandade do Aço e o Instituto, independentemente do que eles façam, você acaba pensando: ‘talvez eles tenham um ponto’”, comentou.
Ao falar sobre o Instituto, Pagliarulo destacou os dilemas éticos envolvendo os synths. “Os synths são apenas torradeiras? São apenas máquinas? Nós os criamos, eles merecem ter liberdade?”, questionou. Esse tipo de reflexão, segundo ele, é central para a experiência de Fallout e coloca o jogador diante de decisões que não possuem respostas fáceis.
Já no caso da Irmandade do Aço, o dilema segue por outro caminho. “A Irmandade é dura, mas a humanidade realmente merece controlar essa tecnologia que claramente não está usando de forma responsável?”, pontuou o roteirista. Para ele, mesmo facções com posturas extremas apresentam argumentos que fazem sentido dentro daquele mundo devastado.
Esses conflitos morais são parte essencial da identidade da franquia Fallout e ajudam a explicar por que muitos jogadores se envolvem profundamente com suas histórias. As decisões raramente são binárias, obrigando o jogador a ponderar consequências e valores antes de escolher um lado.
Embora essa abordagem torne o processo de escrita mais desafiador, ela também é um dos principais atrativos da série. A construção de facções com motivações compreensíveis, ainda que controversas, contribui para a longevidade e o impacto narrativo dos jogos.
As declarações de Emil Pagliarulo reforçam como a diferença entre fantasia e ficção científica influencia diretamente o tom e a complexidade das histórias. Enquanto The Elder Scrolls aposta em arquétipos mais tradicionais, Fallout se consolida como um RPG focado em dilemas morais, escolhas difíceis e consequências que permanecem na memória dos jogadores.





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