Um dos últimos sobreviventes da internet brasileira dos anos 2000, o site de compartilhamento de fotos Flogão, fundado em 2004, chegou ao fim na última semana.
Para muita gente, mais surpreendente do que o encerramento é saber que o serviço ainda existia. Embora sem a popularidade de outros tempos, quando rivalizava com o Fotolog, o serviço abrigou até seus últimos dias comunidades um tanto específicas: caminhoneiros, jogadores do game Tibia, apreciadores de ônibus, fãs de pipas (os pipeiros) e grupos religiosos.
Nem sempre foi assim. No auge, entre 2007 e 2008, o Flogão tinha 25 milhões de acessos mensais e cerca de 7 milhões de perfis — a internet brasileira na época tinha 32 milhões de pessoas. Desde o surgimento, a proposta dele era clara: focar menos nas fotos e mais no caráter de rede social que popularizou o Fotolog e o Orkut no País.
“O Fotolog olhou para o Flickr para ser um repositório de fotos, mas logo foi ganhando o aspecto de rede social. Quando o Flogão chegou, olhou apenas para o lado social. A referência do Flickr não existia mais”, diz a apresentadora MariMoon. Ela não teve Flogão, mas virou celebridade digital com seu perfil no Fotolog exatamente na mesma época. Entre os famosos que tinham conta no site, estão o meia do Fluminense Paulo Henrique Ganso.
De fato, o Flogão não poderia ser especializado em fotos como é, por exemplo, o Instagram. Pouca gente tinha câmeras digitais e os poucos celulares com câmeras tinham resoluções precárias.
Era comum fazer imagens, muitas vezes borradas, com webcams acopladas no topo do monitor. Dadas as barreiras tecnológicas, o bordão do Flogão que permanece até hoje “O Fotolog do seu jeito” poderia muito bem ter sido “O Fotolog do jeito que dá”. Era realmente o aspecto social a chave para o sucesso do Flogão.
O perfil mais visitado da história do site, por exemplo, não é dedicado a imagens do seu dono. Com quase 11 milhões de visualizações, o “dirrego” é dedicado a Tibia, jogo da Cipsoft que dominou as lan houses do Brasil no mesmo período de popularidade do Flogão.
O criador do perfil, o analista de sistemas Diego Valverde Gerolamo de 31 anos, conta que a página era uma espécie de agregador do que acontecia nos mundos virtuais do game — histórias de amizades, de guerras e de caçadas épicas contadas por pixels quase incompreensíveis para quem não é versado no game.
Gerolamo se tornou uma celebridade na comunidade brasileira, sendo reconhecido nas ruas e nos eventos de fãs — chegou até a dar entrevistas nos veículos que cobriam o RPG. “Foi uma experiência legal, aprendi bastante coisa”, diz. Ele conta que parou para se dedicar aos estudos e ao trabalho.
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