Fuja: final explicado do suspense que está bombando na Netflix

Cássia Capellini

Fuja: final explicado do suspense que está bombando na Netflix

Fuja é a grande sensação do mês de abril na Netflix. O filme mal havia estreado e logo alcançou o TOP 3 do Brasil, posição que ocupa até hoje, dez dias depois.

Fuja estreou no fim de 2020 pela Hulu nos Estados Unidos e logo se tornou o filme mais assistido da história dessa plataforma. Depois de assistir a esse longa, entende-se que esse dado não foi à-toa.

A história de Fuja (com spoilers)

O filme conta o dia-a-dia entre mãe e filha, respectivamente Diana (Sarah Paulson) e Chloe (Kiera Allen).

Diana é uma mãe superdedicada que vive inteiramente para cuidar de Chloe, uma jovem cadeirante que apresenta uma série de graves problemas de saúde. Mesmo assim, Chloe é dedicada aos estudos e aguarda ansiosamente ir para a faculdade.

[irp posts=”100267″ name=”Afinal, o que é um ‘gambito da rainha’? Série da Netflix impulsiona buscas no Google”]

No decorrer da história, Chloe passa a desconfiar de um certo medicamento que a a mãe ministra a ela todos os dias e logo descobre que se trata de um remédio de uso veterinário (!) que causa paralisia (!!!).

A relação das duas desaba com a descoberta de que Diana é a causadora de todos os males na saúde de Chloe e mantém, desde sempre, uma maternidade abusiva e doentia.

Por sua vez, Chloe não se rende ao domínio da mãe e faz de tudo para tirar a história a limpo e se libertar do cativeiro que virou a própria casa.

Mantida em cárcere privado, Chloe descobre ainda que a mãe escondeu todas as cartas com as respostas das faculdades nas quais se inscreveu.

Para piorar, a garota também encontra provas de que Diana teve um bebê que morreu horas depois de nascer e, logo em seguida, a roubou de seus pais biológicos ainda na maternidade. Além do mais, ela era uma criança com a saúde perfeita.

Com todas as provas, Chloe chega às últimas consequências para ser internada às pressas e sair das garras de Diana. No entanto, a mãe não desiste e a sequestra do hospital mais uma vez na vida. Porém, o plano dá errado e ela acaba sendo presa.

Sete anos depois, Chloe ainda visita a mãe no presídio e executa – pouco a pouco – uma vingança à altura dos traumas que sofreu nas mãos de Diana.

fuja netflix sarah paulson

Opinião: Fuja é um filme de tirar o fôlego (várias vezes!)

Como pôde ser visto, a premissa do filme é bem simples – mas não quer dizer que não seja surpreendente. Fuja é um filme de terror psicológico que ultrapassa os clichês de várias formas.

Pra começar, ele se faz valer de uma rotina aparentemente tranquila entre as personagens. Isso poderia ser maçante, mas em Fuja, ao contrário do que possa parecer, isso se torna apenas o primeiro entre os vários incômodos que o filme causa.

[irp posts=”89016″ name=”American Horror Story: acontecimentos da vida real inspiraram 1ª temporada”]

Uma vez que Fuja incomoda pela rotina, começa uma curva ascendente de revelações, descontrole e desespero.

Uma boa característica é que o filme não perde muito tempo se explicando – nos primeiros 12 minutos o espectador já é capaz de notar que “algo errado não está certo”.

O sentimento de desconfiança se estabelece de imediato e permanece durante todo o primeiro arco da história.

Esteticamente é possível se incomodar com algumas cenas mais escuras, mas claramente não é desleixo: na verdade é uma decisão conceitual do diretor.

O filme alterna entre cenas iluminadas e escuras. Esse jogo de luz e sombras faz uma perfeita costura com o enredo, já que tudo nele ocorre entre o que é escondido e o que se torna revelado.

O ritmo do filme é um ponto à parte. Mesmo se tratando de um filme mais lento, essa velocidade é perfeita pra criar conexões com as personagens e deixar aflorar o perfil psicológico de ambas.

Além disso, toda a impressão de lentidão é absolutamente esquecida quando a trama começa a se construir. Uma vez que o espectador cai na teia de Fuja, é impossível sair. Primeiramente porque a história é engenhosa e muito bem amarrada.

Em segundo lugar porque as personagens crescem igualmente em direções opostas e ficam muito fortes. Quanto mais determinada fica Chloe para desvendar a perversidade da mãe, mais Diana revela suas características doentias e perigosas.

Vale ressaltar que a maior parte do filme é interpretada somente pelas duas atrizes. Sarah e Kiera desempenham personagens igualmente grandiosas e há um perfeito equilíbrio de atuação entre as duas.

Nessa escalada vertiginosa das personagens, o filme presenteia o público com vários plot twists, momentos desesperadores, suspense e quebras de expectativa.

O interessante em Fuja é que todos esses efeitos causados em quem assiste ocorrem num cenário absolutamente comum, sem recorrer a coisas sobrenaturais, monstros, assombrações ou algum maluco com a serra-elétrica.

O medo e a agonia nesse filme surgem nas ocasiões normais na vida de qualquer um, como aceitar remédios e comida das mãos da própria mãe ou ir até a farmácia para pedir uma informação sobre um remédio. O cotidiano de Chloe é desesperador e sufocante tanto para ela quanto para quem assiste.

Uma nota?

Fuja é avaliado atualmente com nota 6,7 no IMDB, além de 88% da crítica e 75% do público no Rotten Tomatoes. Entretanto, com certeza, poderia ser melhor avaliado.

Por se tratar de um filme de recursos simples, mas com uma história e atuações brilhantes, além de um final concreto, Fuja passa bem acima da média das produções atuais e merece 8/10.

[irp posts=”87019″ name=”Devemos confiar nos dados do Rotten Tomatoes antes de assistir a um filme?”]

fuja netflix

Entenda o final de Fuja, da Netflix

O final do longa é tão surpreendente quanto satisfatório. Depois de muito esforço para se livrar do domínio de Diana, a história dá um salto temporal de 7 anos e Chloe é vista entrando em um presídio para visitar Diana na ala hospitalar.

A primeira revelação desse final é que, conversando com uma agente de segurança, a fala de Chloe demonstra que ela vai até lá com frequência, já que ela responde à mulher que está da mesma forma que estava no mês anterior.

Logo em seguida, é possível notar que, apesar de ainda estar usando cadeira de rodas, a saúde de Chloe está evoluindo, já que ela consegue se levantar sozinha e dar alguns passos através do detector de metais, mas ela comenta que existe a possibilidade das sequelas nunca desaparecerem.

Então Chloe entra no quarto/cela de Diana que, por sua vez, permanece imóvel todo o tempo (esse detalhe é importante!).

A filha conta como está sua vida atual e descobrimos que ela está trabalhando, que é casada e tem uma filha pequena. Durante todo o relato animado de Chloe, Diana tem um olhar transtornado e não fala nem uma palavra.

Algum tempo se passa e, ao fim da conversa, Chloe se despede dizendo “foi bom te ver, mãe”. (Mesmo sabendo que não é sua mãe biológica). Nessa despedida, Diana demonstra ficar ainda mais transtornada, mas ainda permanece emudecida.

Nesse instante, Diana já sabe exatamente o que nós iriamos descobrir em seguida: que Chloe havia escondido as tais pílulas verdes na boca – as mesmas que Diana dava para ela ficar paralítica. Chloe diz para a mãe que a ama e pede que ela abra a boca.

Tudo isso significa que Chloe está executando, há muito tempo, um plano de vingança requintado.

[irp posts=”46465″ name=”A vingança daquele spoiler custa menos de R$ 7″]

Se pararmos para pensar, todo o enredo do filme é baseado em traumas e sequelas da mãe a da filha. No passado Diana teve um bebê morto e tentou compensar a dor roubando outro recém-nascido – Chloe.

Desde então, Chloe foi criada como uma emulação do bebê que Diana perdeu e, por isso, a mãe conscientemente provoca na filha todas as enfermidades que seu bebê teria se tivesse sobrevivido.

fuja netflix

Por esse motivo, a vingança de Chloe é tão requintada, já que o poder na relação das duas foi transferido da mãe para a filha no momento em que a mãe foi presa.

Desde então, Chloe tomou as rédeas da relação e passou a dominar Diana tirando toda a sua autonomia e fazendo exatamente o mesmo que a mãe fez para ela.

Isso fica claro com as pílulas verdes que causam paralisia. Na cena final, Diana já não fala e não se move – justamente porque não consegue.

Mesmo que Chloe diga que a ama e a chame de mãe, nada disso é real. Ela está simplesmente pagando na mesma moeda o que Diana fez com ela – usando seus mesmos métodos e palavras.

Síndrome de Münchausen por Procuração

Vale citar que, mesmo que o filme não dê nome aos bois, o que a personagem Diana tem não é apenas maldade no coração: ela sofre de um transtorno psiquiátrico raríssimo, mas conhecido da medicina.

A Síndrome de Münchausen por Procuração (SMPP) também é chamada de “transtorno factício imposto a outros” e foi reconhecida pela primeira vez em 1977.

Em poucas palavras, a pessoa diagnosticada é aquela que toma conta do paciente (geralmente pais ou cuidadores) e que fabrica sintomas na tentativa de chamar a atenção para si. A doença também é considerada uma espécie de abuso infantil.

A SMPP já foi retratada em vários documentários sobre casos reais de pessoas com o transtorno. Além disso, é o tema principal da série The Act, também do Hulu. O seriado, apesar de ser em tom de ficção, é baseado em fatos reais.

[irp posts=”60726″ name=”Os personagens do Ursinho Pooh representam transtornos mentais?”]

VEJA MAIS Fuja Netflix
COMPARTILHE Facebook Twitter WhatsApp

Leia Também


Mais Lidas

ASSINE A NEWSLETTER

Aproveite para ter acesso ao conteúdo da revista e muito mais.

ASSINAR AGORA