Em meio à polêmica envolvendo arte gerada por inteligência artificial, a distribuidora norte-americana dos filmes do Studio Ghibli, a GKids, emitiu um comunicado que reacendeu o debate sobre o futuro da animação tradicional. A fala, embora sutil, foi interpretada como uma crítica direta ao uso de IA para replicar o estilo artístico de Hayao Miyazaki e do estúdio como um todo.
“Em um tempo em que a tecnologia tenta replicar a humanidade, estamos empolgados em ver que o público ainda valoriza uma experiência cinematográfica que respeita e celebra o trabalho à mão de Hayao Miyazaki e do Studio Ghibli em toda sua glória.”
— Chance Huskey, vice-presidente de distribuição da GKids
A declaração ocorre após o lançamento de uma nova ferramenta de IA da OpenAI, que permite gerar imagens em diversos estilos artísticos — incluindo o visual icônico dos filmes do Ghibli. Isso resultou numa onda de artes geradas por IA inundando as redes sociais, muitas das quais se passam por criações feitas por humanos.
O problema não é novo para o Studio Ghibli. O próprio Hayao Miyazaki já havia criticado duramente a aplicação da IA na animação, chamando a tecnologia de “insulto à vida”. A visão do diretor reflete a filosofia do estúdio: cada quadro deve transmitir alma e intenção humanas, algo que a IA, segundo ele, não pode simular.
Um ataque direto ao legado artesanal de Miyazaki
Ao contrário de produções animadas digitais ou automatizadas, os filmes do Ghibli são notórios por serem desenhados à mão, com supervisão pessoal de Miyazaki. Segundo Akihiko Yamashita, animador de O Castelo Animado, o diretor chega a redesenhar quadros inteiros para garantir que tudo esteja exatamente como imaginou.
A ascensão da arte por IA levanta preocupações legítimas: será que o público saberá diferenciar o que é real do que é gerado? E mais: essa popularização da arte automatizada poderia reduzir o valor das obras feitas com esforço humano, desacreditando o trabalho árduo de ilustradores e animadores.
Homenagem ou apropriação?
Com mais ferramentas de IA surgindo para emular estilos como o do Ghibli, a linha entre homenagem e exploração começa a desaparecer. Para os defensores da animação tradicional, como a equipe do estúdio, o alerta é claro: a IA pode estar minando a própria essência da arte, que é feita de suor, imperfeição e emoção humana — tudo o que uma máquina ainda não consegue reproduzir.
Com a estreia da versão restaurada de Princesa Mononoke em 4K nos cinemas IMAX, que arrecadou US$ 1,2 milhão em prévias, a mensagem da GKids é contundente: a beleza do feito à mão ainda tem valor — e deve ser preservada.
Fonte: Variety
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