Herege, da A24, começa bem, mas cai nos clichês de sempre

Melo

Herege, o novo queridinho da A24, chega para reafirmar o amor do público pelo estúdio. Afinal, quando até a logo da produtora já ganha aplausos no cinema, você sabe que a expectativa tá lá em cima. E olha, o filme começa entregando tudo: uma premissa intrigante, momentos de tensão de roer as unhas e humor inesperado que pega a gente totalmente de surpresa. Mas, como nem tudo é perfeito, ele dá aquela tropeçada no final que faz a gente querer evangelizar os roteiristas sobre como concluir uma história.

A trama segue duas missionárias, Irmã Paxton (Chloe East) e Irmã Barnes (Sophie Thatcher), que saem pela cidade tentando converter as pessoas e, como esperado, não são levadas muito a sério. Enquanto Paxton é a otimista que acredita na bondade humana (fofa, mas coitada), Barnes é mais pé no chão e traz um peso emocional que equilibra a dupla. Quando elas batem à porta do Sr. Reed (Hugh Grant), um sujeito tão simpático quanto ameaçador, as coisas começam a desandar. Literalmente. Porque o cara não só tem umas ideias filosóficas meio doidas sobre fé, como também um labirinto subterrâneo que faz você questionar se tudo isso não é só um episódio de Scooby-Doo com orçamento milionário.

Herege: Terror da A24 com Hugh Grant ganha primeiro trailer

O maior acerto do filme é o jogo de expectativas. Aqui, a tensão é construída com maestria – você sente o perigo no ar o tempo todo. Mas, ao invés de cair em sustos baratos, Herege prefere brincar com o público: no momento em que você acha que vai levar um susto ou presenciar um assassinato brutal, o filme solta uma piada ou manda uma referência a Star Wars. É aquele humor de “rir pra não chorar” que só aumenta a tensão, porque, no fundo, você sabe que algo ruim pode acontecer a qualquer instante. É como assistir a uma comédia enquanto tem uma bomba debaixo da mesa. Divertido? Sim. Relaxe demais e vai explodir na sua cara.

Hugh Grant está simplesmente impecável como o Sr. Reed. Ele domina cada cena, indo do galã sarcástico ao vilão perturbador com uma naturalidade absurda. E aquele monólogo dele sobre religião, Radiohead e Banco Imobiliário? É um dos momentos mais brilhantes do filme. Quem diria que um suéter quadriculado poderia ser tão ameaçador? Honestamente, se existisse um Oscar para “Melhor Uso de Referências Aleatórias em um Monólogo”, Grant já podia preparar o discurso de agradecimento.

Herege: Novo filme de terror da A24 preserva o mistério em trailer

Falando em referências, a trilha sonora dá conta do recado, mas, sério, o uso de Creep, do Radiohead, aqui nem chega perto da genialidade de O Homem do Futuro. Desculpa, Scott Beck e Bryan Woods, mas Cláudio Torres já fez melhor.

Agora, vamos falar do elefante na sala – ou melhor, da bagunça no terceiro ato. Depois de construir uma história cheia de tensão e diálogos afiados, o filme se perde no final. As reviravoltas não são tão impactantes assim, e as conveniências aparecem aos montes. Personagens sobrevivendo a coisas absurdas, outros que simplesmente não ouvem passos suspeitos atrás deles… Parece que alguém esqueceu de revisar o roteiro antes de filmar. E o pior? O desfecho é tão genérico que você sai do cinema com aquela sensação de “era só isso?”. Não dá pra perdoar.

Assim como o Sr. Reed teve que improvisar em certo ponto, o roteiro de Herege parece também ter tomado alguns improvisos por não saber onde queria chegar.

No geral, Herege é um filme cheio de potencial que começa brilhantemente, mas não sabe muito bem como aterrissar. Ainda assim, vale a pena assistir, nem que seja pela atuação de Hugh Grant e pelos momentos de tensão misturados com humor – uma combinação que poucos filmes conseguem fazer tão bem. Só não vá esperando uma grande revelação ou um final que te deixe refletindo por dias. Nesse quesito, Herege erra o alvo e entrega só mais um terrorzinho ok.

NOTA: 6,5

COMPARTILHE Facebook Twitter Instagram

Leia Também


Mais Lidas

ASSINE A NEWSLETTER

Aproveite para ter acesso ao conteúdo da revista e muito mais.

ASSINAR AGORA