Injustice é um desserviço para o Superman? Entenda

Vinicius Miranda

Desde 2013, Injustice se consolidou como uma das franquias mais conhecidas da DC Comics na era moderna. Iniciada como um jogo de luta, a marca se expandiu para uma sequência nos videogames, diversas séries em quadrinhos e até uma adaptação em animação. No entanto, uma história publicada anos antes pela própria editora levanta questionamentos diretos sobre a base narrativa da franquia ao apresentar uma abordagem oposta para o personagem Superman.

A trama de ‘Injustice’ se passa em um universo alternativo no qual Superman se torna um governante autoritário após ser manipulado pelo Coringa a matar Lois Lane, evento que culmina na destruição de Metrópolis. A partir desse ponto, Batman lidera uma resistência contra o antigo aliado. O enredo ganhou notoriedade por retratar o “Homem de Aço” como vilão, uma representação que se espalharia por diferentes mídias nos anos seguintes.

Superman: Batalha Final – Divulgação / DC Comics

Entretanto, em 2002, a DC Comics publicou a história ‘Superman: Batalha Final’, que apresenta um conflito semelhante, mas conduzido por um caminho narrativo distinto. Nessa trama, Superman é colocado sob pressão extrema ao enfrentar um inimigo misterioso que conhece sua identidade secreta e mobiliza praticamente toda a sua galeria de vilões contra ele e as pessoas mais próximas.

Ao longo da história, o herói descobre que o responsável pelos ataques é Manchester Black, personagem conhecido por sua postura crítica aos heróis tradicionais. Ele havia aparecido anteriormente como antagonista em ‘O que há de tão engraçado na verdade, justiça e no modo americano?’. Dotado de poderes telepáticos e telecinéticos, Black busca provar que Superman não é tão incorruptível quanto aparenta.

O confronto atinge seu ponto mais delicado quando Manchester Black apresenta Lois Lane aparentemente morta, repetindo uma estratégia muito semelhante à utilizada pelo Coringa em ‘Injustice’. Assim como no universo alternativo, o vilão acredita que o assassinato de Lois seria suficiente para levar Superman a abandonar seu código moral e cometer um homicídio movido pela vingança.

A narrativa sugere inicialmente que o herói seguirá esse caminho. Em meio ao luto e às provocações constantes de Black, Superman reage com fúria e chega a derrotar o vilão utilizando sua visão de calor. No entanto, a história revela que toda essa batalha ocorreu apenas dentro da mente do herói, sem que qualquer dano real tivesse sido causado.

De volta à realidade, Superman afirma que não desonraria a memória de Lois Lane ao ceder ao ódio ou ao ato de tirar uma vida. A postura surpreende Manchester Black, que questiona por que o herói se recusa até mesmo a agredi-lo fisicamente. Diante da incapacidade de quebrar os princípios do “Homem do Amanhã”, o vilão revela a verdade: Lois nunca esteve morta, e tudo não passou de uma ilusão cuidadosamente criada.

Após o reencontro entre Superman e Lois Lane, Manchester Black, tomado pela culpa por tentar corromper alguém que considera genuinamente bom, tira a própria vida. O desfecho reforça a ideia de que, mesmo diante de situações extremas, o herói mantém seu senso moral intacto.

Superman em Injustice 2 – Divulgação / Netherrealm Studios

A comparação entre ‘Superman: Batalha Final’ e ‘Injustice’ passou a ser utilizada por leitores e analistas como um contraponto direto entre duas interpretações do mesmo personagem. Enquanto ‘Injustice’ apresenta um Superman que sucumbe rapidamente à dor e ao poder, a história publicada em 2002 retrata um herói capaz de enfrentar impulsos sombrios sem abandonar seus valores centrais.

Esse contraste também alimentou debates sobre a popularização do arquétipo do “Superman maligno” em quadrinhos, filmes, séries e jogos a partir do final da década de 2010. Para parte do público, a franquia ‘Injustice’ ajudou a consolidar a percepção de que o personagem estaria sempre a um evento traumático de se tornar um tirano.

Por outro lado, ‘Superman: Batalha Final’ enfatiza o personagem como alguém que, apesar de emoções complexas e conflitos internos, escolhe preservar vidas e agir de acordo com princípios éticos. A história reforça o Superman como símbolo de esperança, empatia e responsabilidade, em contraste com versões que priorizam sua queda moral.

A coexistência dessas abordagens dentro da própria DC Comics evidencia como diferentes narrativas podem moldar a percepção pública de um mesmo herói. Ao revisitar histórias clássicas, leitores encontram contrapontos claros às versões mais recentes, ampliando o debate sobre quem é, afinal, o Superman dentro do universo dos quadrinhos.

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