Quarenta anos após a chegada de It: A Coisa às livrarias, a figura de Pennywise continua entre as mais reconhecidas do horror moderno. Embora muitos associem imediatamente o monstro ao palhaço dançarino, o personagem criado por Stephen King é apenas uma das inúmeras manifestações de uma entidade muito mais antiga — e muito mais complexa.
Com novas discussões reacendidas pela série It: Bem-Vindos a Derry, fãs voltam a perguntar: o Pennywise das telas é fiel ao que King descreveu nos livros?
A verdadeira forma de Pennywise
No romance, King explica que a criatura que aterroriza Derry há séculos não é um palhaço, mas um ser alienígena ancestral e mutável, que chegou ao planeta bilhões de anos antes dos humanos. Depois de hibernar por eras no subsolo da cidade, ela desperta em ciclos de 27 anos para se alimentar.
A preferência por crianças está ligada ao sabor do medo que, segundo a entidade, “salga a carne”.
Quando o Clube dos Perdedores encara a criatura já adultos, finalmente observa sua forma original: um ser gigantesco e semelhante a uma aranha, com luzes laranjas pulsando no interior do corpo. A aparência, porém, ainda é apenas uma tentativa de Pennywise de se traduzir de maneira compreensível para a mente humana.
Luzes da Morte
O livro também apresenta as Luzes da Morte, descritas como luzes cósmicas retorcidas e de cor alaranjada, impossíveis de compreender. A entidade utiliza Pennywise como uma espécie de isca, com a finalidade de atrair crianças
Quem encara as Luzes da Morte diretamente sofre consequências devastadoras: perde a consciência, enlouquece ou morre, enquanto sua mente é arrastada ao Macroverso, um vazio à beira do universo onde a entidade consome sua essência.
As Luzes da Morte representam, segundo o romance, a incapacidade humana de encarar o vazio cósmico sem colapsar.
Como o cinema traduziu o monstro de King
As adaptações de It: A Coisa variam na forma de interpretar Pennywise. Em 1990, na minissérie estrelada por Tim Curry, o palhaço tinha um visual mais humano, algo próximo do que King descreve no livro: um traje tradicional, cores vibrantes e expressões que oscilavam entre o amigável e o ameaçador.
Décadas depois, nos filmes dirigidos por Andy Muschietti (2017 e 2019), Bill Skarsgård entregou uma versão mais sombria. Com um sorriso distorcido e maquiagem exageradamente ameaçadora, sua aparência já despertava medo antes mesmo de qualquer transformação.
Apesar das diferenças, ambas as interpretações reforçam um ponto presente na obra original: Pennywise não precisa ser ostensivamente assustador para causar pânico.
It: Bem-Vindos a Derry expande o poder de transformação da criatura
A série It: Bem-Vindos a Derry apresenta novos exemplos da capacidade da entidade de se moldar ao medo individual de cada vítima.
Em um dos momentos mais impactantes, surge na forma da mãe falecida de Ronnie Grogan — uma escolha diretamente ligada à culpa e ao trauma da personagem. Já Lily Bainbridge enfrenta a criatura em um supermercado, onde Pennywise revive lembranças que alimentam sua instabilidade emocional.
As cenas reforçam a essência do monstro em todos os formatos: a criatura age explorando medos primitivos, ultrapassando qualquer aparência fixa.
Embora cada adaptação interprete a criatura de modo diferente, a visão original de Stephen King permanece como base: Pennywise é a face visível de algo maior, uma força antiga, impessoal e insaciável. O horror não está apenas no palhaço, mas no que ele simboliza: o medo que não pode ser descrito, explicado ou limitado à forma humana.





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