Judith Colell, diretora de ‘Elisa K.’, comenta sobre ‘Frontier’, seu novo thriller ambientado na Segunda Guerra Mundial

Cheyna Corrêa (Texto: William Prado)

A premiada cineasta espanhola Judith Colell, conhecida por filmes como ‘Elisa K’ e ‘15 Horas’, retorna aos holofotes com Frontier’ (Fronteira), um drama histórico ambientado nos Pirineus durante a Segunda Guerra Mundial. A produção, apresentada pela Filmax e vencedora do Prêmio Especial do Júri em San Sebastián, acaba de ser adquirida para distribuição na América do Norte pela Menemsha Films.

Misturando tensão política, drama humano e reflexão moral, o longa acompanha Manel Grau, um agente alfandegário espanhol que, em 1943, desafia as ordens do regime franquista ao ajudar judeus a cruzar a fronteira da França ocupada pelos nazistas em direção à Espanha.

Uma história sobre coragem em tempos de silêncio

Em entrevista ao Variety, Colell descreveu o filme como “um ato de reflexão sobre o valor de ajudar quando a maioria prefere se calar.”

Para a diretora, ‘Frontier’ é mais do que um thriller histórico — é um espelho do presente.

Em 1943, milhares fugiam dos nazistas. Hoje, outras milhares de pessoas atravessam mares e desertos tentando escapar da guerra e da fome. O cinema serve para isso: denunciar e refletir sobre o presente a partir do passado.

O dilema moral e a humanidade em crise

A narrativa se passa em uma pequena vila nos Pirineus, um microcosmo dividido entre aqueles que ajudam, os que denunciam e os que simplesmente fingem não ver.

Colell afirma que quis retratar a fragilidade moral do cotidiano — pessoas comuns diante de decisões extraordinárias.

Cada personagem carrega as marcas da Guerra Civil Espanhola. Ajudar um estranho pode ser um gesto de heroísmo, mas também um risco de vida. A fronteira é tanto física quanto moral.

O elenco reúne Bruna Cusí (Upon Entry), Miki Esparbé (Se Organizar Direitinho?), Asier Etxeandia (Dor e Glória), Maria Rodríguez Soto, Kevin Janssens (Close) e Jordi Sánchez (La que se avecina).

A paisagem como personagem

Filmado nos Pirineus de Lleida, o longa transforma o cenário em parte essencial da narrativa.
Colell e o diretor de fotografia Andreu Adam Rubiralta (The Gypsy Bride) usaram câmeras Alexa 35 e lentes vintage para criar uma atmosfera atemporal e opressiva.

“As montanhas são um personagem silencioso. Elas testemunham tudo, guardam segredos e refletem o isolamento dos protagonistas. A natureza, aqui, é uma força moral”, comenta Colell.

Entre o drama íntimo e o suspense

Conhecida por sua abordagem sensível e intimista, Colell admite que este foi seu primeiro grande projeto com elementos de thriller. O desafio foi equilibrar emoção e tensão, mantendo a humanidade dos personagens.

Eu venho do cinema social, então o que me interessa são os rostos, os olhares, o que não é dito. Trabalhar com a montadora Liana Artigal foi essencial para encontrar esse ritmo — um equilíbrio entre introspecção e perigo constante.

O significado da fronteira

Para Colell, a ideia de “fronteira” vai além da geografia. É também um símbolo político e emocional.

A fronteira é o lugar onde a humanidade é testada. Ninguém abandona o lar sem motivo. Como escreveu a poeta Warsan Shire: ‘Ninguém atravessa o mar a menos que a água seja mais segura do que a terra.’ Esse é o coração do filme.

Uma produção de alcance internacional

Frontier é uma coprodução entre Espanha e Bélgica, reunindo Coming Soon Films, Diagonal TV, Crespeth Films e Bulletproof Cupid.
A diretora destaca que a união entre diferentes produtores foi crucial para o resultado final:

A experiência da Diagonal em dramas de época deu estrutura, enquanto Marta Ramírez, da Coming Soon, trouxe uma sensibilidade artística essencial. Essa combinação foi a alma do projeto.

Um olhar contemporâneo sobre o passado

Com estreia marcada para 12 de dezembro nos cinemas espanhóis, após o lançamento no Festival de Valladolid, ‘Frontier’ promete ser uma das obras europeias mais comentadas do ano.

Mais do que revisitar a Segunda Guerra, o longa busca provocar o público sobre a responsabilidade moral diante do sofrimento alheio — um tema que, segundo Colell, “continua urgente, porque o que alguns viveram ontem, muitos ainda vivem hoje.

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