A premiada cineasta espanhola Judith Colell, conhecida por filmes como ‘Elisa K’ e ‘15 Horas’, retorna aos holofotes com ‘Frontier’ (Fronteira), um drama histórico ambientado nos Pirineus durante a Segunda Guerra Mundial. A produção, apresentada pela Filmax e vencedora do Prêmio Especial do Júri em San Sebastián, acaba de ser adquirida para distribuição na América do Norte pela Menemsha Films.
Misturando tensão política, drama humano e reflexão moral, o longa acompanha Manel Grau, um agente alfandegário espanhol que, em 1943, desafia as ordens do regime franquista ao ajudar judeus a cruzar a fronteira da França ocupada pelos nazistas em direção à Espanha.
Uma história sobre coragem em tempos de silêncio
Em entrevista ao Variety, Colell descreveu o filme como “um ato de reflexão sobre o valor de ajudar quando a maioria prefere se calar.”
Para a diretora, ‘Frontier’ é mais do que um thriller histórico — é um espelho do presente.
Em 1943, milhares fugiam dos nazistas. Hoje, outras milhares de pessoas atravessam mares e desertos tentando escapar da guerra e da fome. O cinema serve para isso: denunciar e refletir sobre o presente a partir do passado.
O dilema moral e a humanidade em crise
A narrativa se passa em uma pequena vila nos Pirineus, um microcosmo dividido entre aqueles que ajudam, os que denunciam e os que simplesmente fingem não ver.
Colell afirma que quis retratar a fragilidade moral do cotidiano — pessoas comuns diante de decisões extraordinárias.
Cada personagem carrega as marcas da Guerra Civil Espanhola. Ajudar um estranho pode ser um gesto de heroísmo, mas também um risco de vida. A fronteira é tanto física quanto moral.
O elenco reúne Bruna Cusí (Upon Entry), Miki Esparbé (Se Organizar Direitinho?), Asier Etxeandia (Dor e Glória), Maria Rodríguez Soto, Kevin Janssens (Close) e Jordi Sánchez (La que se avecina).
A paisagem como personagem
Filmado nos Pirineus de Lleida, o longa transforma o cenário em parte essencial da narrativa.
Colell e o diretor de fotografia Andreu Adam Rubiralta (The Gypsy Bride) usaram câmeras Alexa 35 e lentes vintage para criar uma atmosfera atemporal e opressiva.
“As montanhas são um personagem silencioso. Elas testemunham tudo, guardam segredos e refletem o isolamento dos protagonistas. A natureza, aqui, é uma força moral”, comenta Colell.
Entre o drama íntimo e o suspense
Conhecida por sua abordagem sensível e intimista, Colell admite que este foi seu primeiro grande projeto com elementos de thriller. O desafio foi equilibrar emoção e tensão, mantendo a humanidade dos personagens.
Eu venho do cinema social, então o que me interessa são os rostos, os olhares, o que não é dito. Trabalhar com a montadora Liana Artigal foi essencial para encontrar esse ritmo — um equilíbrio entre introspecção e perigo constante.
O significado da fronteira
Para Colell, a ideia de “fronteira” vai além da geografia. É também um símbolo político e emocional.
A fronteira é o lugar onde a humanidade é testada. Ninguém abandona o lar sem motivo. Como escreveu a poeta Warsan Shire: ‘Ninguém atravessa o mar a menos que a água seja mais segura do que a terra.’ Esse é o coração do filme.
Uma produção de alcance internacional
Frontier é uma coprodução entre Espanha e Bélgica, reunindo Coming Soon Films, Diagonal TV, Crespeth Films e Bulletproof Cupid.
A diretora destaca que a união entre diferentes produtores foi crucial para o resultado final:
A experiência da Diagonal em dramas de época deu estrutura, enquanto Marta Ramírez, da Coming Soon, trouxe uma sensibilidade artística essencial. Essa combinação foi a alma do projeto.
Um olhar contemporâneo sobre o passado
Com estreia marcada para 12 de dezembro nos cinemas espanhóis, após o lançamento no Festival de Valladolid, ‘Frontier’ promete ser uma das obras europeias mais comentadas do ano.
Mais do que revisitar a Segunda Guerra, o longa busca provocar o público sobre a responsabilidade moral diante do sofrimento alheio — um tema que, segundo Colell, “continua urgente, porque o que alguns viveram ontem, muitos ainda vivem hoje.”





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