por Cheyna Corrêa
O K-pop é hoje um fenômeno global, conhecido pelos shows espetaculares, fandoms engajados e produções audiovisuais de alto impacto. Mas antes de BTS, Blackpink e EXO dominarem as paradas, a Coreia do Sul viveu décadas de transformações sociais, políticas e culturais que pavimentaram o caminho para o sucesso do pop coreano.

Blackpink (Reprodução)
Contexto histórico e origens
Após quase um século sob domínio japonês (1910–1945), quando até o idioma nativo foi reprimido, a península coreana mergulhou em guerras, ditadura militar e crises econômicas. A separação em duas nações (Coreia do Norte pró-soviética e Coreia do Sul pró-americana) somou violência e pobreza ao cotidiano. Na década de 90, um novo presidente, Kim Dae-Jung, o “Presidente da Cultura”, baniu parte da influência japonesa e criou incentivos financeiros para artistas locais, um gesto que, junto à crise de 1997, levou o governo a investir pesado no entretenimento como forma de ressurgimento nacional. Foi nesse cenário que o rap e o pop ocidental, tocados em rádios e TVs desde os anos 60, encontraram solo fértil para florescer como K-pop.

BTS (Reprodução)
Primeira e segunda gerações
O marco inicial apareceu em 1992, com Seo Taiji & The Boys, mesclando rap, pop e elementos tradicionais. Nascia a primeira geração, da qual emergiram H.O.T., S.E.S e Shinhwa, e as gigantes SM, YG e JYP Entertainment. Na virada do milênio, a segunda geração trouxe lightsticks personalizados, clipes coreografados virais e a consagração de papéis dentro dos grupos (o “visual”, o “rapper”, o “maknae”). Wonder Girls entrou na Hot 100 da Billboard em 2009, abrindo portas para Girls’ Generation, BIGBANG e 2NE1 conquistarem mídia, comerciais e parcerias internacionais.
Terceira geração e globalização
A partir de 2010, BTS, Blackpink, EXO e TWICE transformaram o K-pop em movimento mundial. O estouro de Gangnam Style (2012) provou o alcance do pop coreano, enquanto collabs com nomes ocidentais e a inclusão de membros não-coreanos ampliaram seu apelo. Mesmo com sanções na China, o estilo se espalhou pela Ásia, Estados Unidos, Europa e América Latina, impulsionado por plataformas digitais e o culto ao treinamento rigoroso.

Psy Gangnam Style (Reprodução)
Quarta e quinta gerações: inovação, soft power e desafios
Em meio à pandemia, a quarta geração (Aespa, Stray Kids, Itzy, ATEEZ) se destacou em lives recordistas, realidade virtual e identidade visual futurista, abrindo espaço para agências independentes e artistas criados em startups. Desde 2023, a quinta geração (ZeroBaseOne, Riize, Babymonster) valoriza ídolos all-rounders, sem rótulos fixos, e produz conceitos cada vez mais ousados. O K-pop consolidou-se como soft power sul-coreano: produto de políticas governamentais, tornou-se a marca nacional mundialmente reconhecida, unindo Coreia do Sul e até aproximando o Norte. No entanto, a pressão estética, treinamentos exaustivos e a cultura de desempenho extremo têm gerado crises de saúde mental, lembrando que, por trás do brilho, há histórias de sacrifício e resiliência.

Aespa (Reprodução)
O K-pop é o resultado de um legado histórico, de investimentos estatais e de agências visionárias que transformaram um gênero musical em força cultural global. Hoje, mais que música, representa a identidade de um país e a ambição de influenciar o mundo com criatividade, inovação e, claro, muito ritmo.
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