Luiz Melodia – No Coração do Brasil | Crítica

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Luiz Melodia – No Coração do Brasil | Crítica

Luiz Melodia – No Coração do Brasil é aquele tipo de documentário que te pega de jeito, mesmo se você não for fã de carteirinha do artista. Sob a direção de Alessandra Dorgan, o filme te convida a conhecer — ou revisitar — a vida e a obra do “Poeta do Estácio” de uma forma que é ao mesmo tempo emocionante e bem pé no chão. Não tem aquela vibe piegas de transformar o cara num santo. Melodia aparece aqui como ele era: um gênio rebelde, cheio de personalidade, que nunca aceitou ficar dentro de nenhuma caixinha, seja ela musical ou social.

Logo de cara, o filme já te ganha ao deixar o próprio Luiz Melodia contar sua história. Nada de depoimentos intermináveis de amigos famosos ou especialistas forçando interpretações. É ele, com a sua voz e suas reflexões, que te guia por sua trajetória. Isso dá ao documentário uma autenticidade que combina muito com o artista. E, pra quem conhece as músicas de Melodia, é quase como se ele estivesse te dando um show particular enquanto te conta sobre a vida no Morro do Estácio, suas conquistas e, claro, as tretas com o mercado fonográfico.

Falando nisso, uma coisa fica bem clara no filme: Luiz Melodia era teimoso no melhor sentido da palavra. Enquanto a indústria queria moldá-lo pra ser algo mais “vendável”, ele fazia questão de seguir seu próprio caminho. Isso, obviamente, rendeu uns problemas pra ele, mas também criou um legado único. Melodia não era só samba, nem só rock, nem só MPB. Ele era tudo isso junto, com uma pitada de ousadia e aquele tempero carioca que só ele sabia dar.

Luiz Melodia - No Coração do Brasil - IN-EDIT BRASIL | Festival  Internacional do Documentário Musical

As imagens de arquivo são outro ponto alto. Tem registros raros e inéditos que ajudam a montar o quebra-cabeça da vida do cantor. Seja ele andando pelo Estácio com aquele ar de quem tá em casa, ou brilhando nos palcos ao lado de nomes como Gal Costa e Maria Bethânia, cada cena é uma peça importante na história que o documentário quer contar. E, claro, a trilha sonora é simplesmente maravilhosa. Com músicas como Pérola Negra, Ébano e A Voz do Morro, você sente a força da obra de Melodia, que não era só sobre ritmos, mas sobre resistência e identidade.

Mas o filme não passa a mão na cabeça do artista. Ele mostra o lado “difícil” de Melodia, aquele que não fazia questão nenhuma de agradar gravadoras ou de seguir as regras do mercado. Essa postura, que às vezes era vista como problema, na verdade era o que tornava ele tão único. É divertido ver como ele respondia às pressões do mercado: em vez de ceder, ele saía pela tangente e criava algo que ninguém esperava. É aquele tipo de rebeldia que você respeita, sabe?

Apesar de tudo isso, o documentário não é perfeito. Em alguns momentos, a narrativa perde o ritmo e parece meio solta, como se faltasse uma cola pra ligar os pedaços da história. E, mesmo com tantas músicas incríveis, a repetição de algumas cenas e depoimentos pode cansar um pouco. Não chega a estragar a experiência, mas dá aquela sensação de que o filme poderia ser ainda melhor se fosse mais amarrado.

Agora, se tem uma coisa que o documentário faz muito bem, é capturar o impacto de Melodia na música brasileira e na sociedade. Ele não era só um artista incrível; era um símbolo de resistência. Suas músicas falavam de amor, de luta, de identidade, e até hoje têm aquele poder de tocar fundo. O filme consegue mostrar isso de um jeito honesto, sem exageros, o que só reforça o quanto Luiz Melodia era único.

No final das contas, Luiz Melodia – No Coração do Brasil é um baita tributo a um artista que nunca deixou ninguém dizer o que ele devia ser. É aquele tipo de documentário que te faz sair cantarolando as músicas e pensando na coragem que é necessária pra ser tão autêntico num mundo que tenta te encaixar o tempo todo. Seja você fã de longa data ou alguém que só conhece Melodia de nome, esse filme é uma chance imperdível de conhecer melhor um dos maiores nomes da música brasileira. Afinal, como o próprio Luiz dizia, “se você marca touca, eles te engolem e fazem um bolinho” — e ele nunca deixou isso acontecer.

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