A vida horrível de quem mora perto de uma mina de Bitcoin

Maysa Vilela

A vida horrível de quem mora perto de uma mina de Bitcoin
Foto: Rory Doyle/The New York Times

Localizada a uma curta distância ao norte de Little Rock, uma mina de bitcoin é apenas uma entre várias no Arkansas que geraram uma disputa acirrada entre empresas e comunidades.

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Moradores locais denunciam que o barulho incessante dos computadores, operando a todo vapor, não só perturba a paz, mas também deprecia imóveis e afugenta a fauna local.

No mundo digital de hoje, a ‘Mina de Bitcoin’ pode parecer algo saído de um filme de ficção científica, mas é uma realidade.

Imagine uma enorme sala cheia de computadores superpotentes, todos trabalhando incansavelmente dia e noite. Esses computadores estão resolvendo enigmas matemáticos extremamente complexos. Por quê?

Cada vez que um desses enigmas é resolvido, novos Bitcoins são criados e recompensados ao dono dos computadores.

É como se fosse uma corrida do ouro digital, onde os “mineiros” usam suas máquinas como pás e picaretas em busca de tesouros ocultos na forma de Bitcoins.

Assim, uma mina de Bitcoin não é um buraco na terra, mas sim um local repleto de tecnologia avançada, buscando novas moedas no vasto universo digital.

Nos Estados Unidos, as minas de bitcoin se proliferam, impulsionadas pela promessa de lucro significativo – cerca de US$ 250 mil por cada conjunto de números aceitos pelo algoritmo do bitcoin.

Contudo, essa corrida pelo ouro digital vem com um custo alto: o consumo energético exorbitante, frequentemente criticado por beneficiar a indústria de combustíveis fósseis, e a poluição sonora.

Apesar de algumas autoridades, incluindo Brown, simpatizarem com os moradores afetados, uma recente legislação no Arkansas conferiu às mineradoras uma vantagem considerável.

A Lei dos Centros de Dados, ou ‘Lei do Direito à Mineração‘, blindou legalmente as operações de mineração contra oposições comunitárias, gerando controvérsia ao ser rapidamente aprovada com a influência do Fundo de Ação Satoshi, uma organização sem fins lucrativos que já atuou em defesa de políticas ambientais da administração Trump.

A tensão entre o crescimento da mineração de bitcoin e os interesses das comunidades locais reflete um dilema nacional.

Enquanto ativistas ambientais clamam por regulamentações federais diante do impacto ambiental e energético das minas, defensores argumentam que estas trazem estabilidade às redes elétricas e impulsionam a economia local em áreas rurais.

A complexidade do debate se aprofunda com a revelação de ligações das operações no Arkansas com investidores chineses, aumentando as preocupações de segurança nacional.

Investigações estão em curso para determinar a legalidade dessas operações sob leis estaduais que restringem a propriedade de terras por entidades controladas por cidadãos chineses.

Embora o Fundo Satoshi busque apoio para suas causas em diversos estados, principalmente entre republicanos, a resistência cresce.

No Arkansas, a oposição à ‘Lei do Direito à Mineração’ vem de figuras conservadoras que questionam as proteções especiais concedidas às mineradoras, considerando-as injustas.

Enquanto o debate sobre a mineração de criptomoedas e suas implicações continua, as comunidades locais enfrentam as consequências diretas dessa indústria em expansão, buscando maneiras de conciliar o avanço tecnológico com a qualidade de vida e o bem-estar ambiental.

Mina de bitcoin 02

Foto: Rory Doyle/The New York Times

O barulho insuportável da Bitcoin

Em meio à pacata vida de Greenbrier, a chegada de uma operação de mineração de bitcoins transformou o cotidiano de Gladys Anderson e seus vizinhos em um verdadeiro inferno acústico.

A menos de cem metros de sua residência, o incessante zumbido dos computadores, que operam dia e noite em busca da valiosa criptomoeda, perturba a tranquilidade da área.

Gladys, cujo filho autista necessita de um ambiente calmo, desabafou em entrevista: “A razão pela qual nos mudamos para cá foi para ficar longe das pessoas e do barulho. É exaustivo mental, emocional e fisicamente“. 

A perturbação provocada pela NewRays, a empresa por trás da mineração, levou Gladys e quase duas dezenas de moradores a buscar justiça.

Eles alegam que a operação não só prejudica a saúde – manifestando-se em pressão alta, ansiedade, insônia e alterações de humor  – mas também desvaloriza suas propriedades.

Quem gostaria de comprar uma propriedade perto de um local barulhento? Ninguém“, questiona Rebecca Edwards, uma das moradoras afetadas.

Veja uma foto de Gladys Anderson, uma das moradoras insatisfeitas com a mina de Bitcoin:

Gladys Anderson - Mina de bitcoin

Foto: Rory Doyle/The New York Times

A defesa da NewRays, baseando-se na Lei do Direito à Mineração, pede o arquivamento do caso. A empresa, marcada como um “vizinho responsável” por um de seus advogados, enfrenta o escrutínio público e legal, aguardando a chance de se defender em tribunal.

A controvérsia se estende além de Greenbrier, alcançando a esfera política do Arkansas. A recente legislação assinada pela governadora Sarah Huckabee Sanders, que limita os níveis de ruído em operações como a da NewRays, reflete a tensão entre os direitos dos mineradores e o bem-estar das comunidades.

Deputados e senadores se dividem sobre a questão, enquanto propostas de proibição da mineração de criptomoedas em nível industrial ganham força.

A Cryptic Farms, uma das apoiadoras da legislação pró-mineração, expressa surpresa com as consequências negativas da lei, reconhecendo a necessidade de ajustes para proteger os interesses dos moradores.

Enquanto isso, em Greenbrier, a luta legal dos moradores contra a mineração de bitcoins segue, com esforços comunitários para arrecadar fundos e sustentar a batalha judicial.

A determinação de não serem expulsos de suas casas motiva a comunidade a persistir, apesar das dificuldades financeiras.

Este drama, que se desenrola entre os sons incessantes das máquinas e a busca por justiça, destaca os desafios enfrentados pelas pequenas comunidades diante do avanço tecnológico e da ambição econômica.

O futuro de Greenbrier, e de tantas outras cidades afetadas, pende na balança, enquanto a sociedade busca um equilíbrio entre inovação e qualidade de vida.

Mina de bitcoin 04

Foto: Rory Doyle/The New York Times

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