O Clube das Mulheres de Negócios é DESASTROSO | CRÍTICA

Melo

O Clube das Mulheres de Negócios é DESASTROSO | CRÍTICA

O Clube das Mulheres de Negócios é aquele filme que chega com o peso de uma boa ideia, mas sai tropeçando como um convidado que exagerou na caipirinha na festa de fim de ano da firma. A premissa é intrigante: um mundo onde os papéis de gênero são invertidos, colocando as mulheres no poder e os homens em posições submissas, tudo isso temperado com críticas ao machismo, racismo e à corrupção. No entanto, o resultado é como aquele bolo bonito que você vê na vitrine e, quando morde, descobre que esqueceram o açúcar.

A trama acompanha Jongo (Luís Miranda), um fotógrafo renomado, e seu amigo jornalista Candinho (Rafa Vitti), que se metem em uma sequência de eventos absurdos ao visitar um clube de campo comandado pelas influentes Cesárea (Cristina Pereira) e Brasília (Louise Cardoso). Até aqui, parece promissor, certo? Infelizmente, o filme se perde rapidamente em um mar de exageros e clichês que transformam o que poderia ser uma sátira afiada em um espetáculo desajeitado e, por vezes, embaraçoso.

A inversão de papéis funciona no começo, arrancando algumas risadas e levantando reflexões interessantes. Porém, a graça vai se desgastando rapidamente, como aquele amigo que conta a mesma piada cinco vezes na mesma noite. O humor parece não saber para onde ir e, no final, só resta uma sensação de confusão. É como se o filme tentasse ser muitas coisas ao mesmo tempo: uma comédia, uma crítica social, um drama e, inexplicavelmente, um thriller com… onças?

E aí vêm as onças. Vamos falar sobre elas. Quem teve a ideia de introduzir onças CGI como parte central da trama merece, no mínimo, uma advertência criativa. As feras são apresentadas como uma ameaça quase mitológica, mas o CGI é tão mal feito que você se sente transportado para um jogo de videogame dos anos 2000 — e não de um jeito nostálgico. Em vez de criar tensão ou emoção, as cenas envolvendo as onças só conseguem arrancar gargalhadas involuntárias. O pior é que o filme insiste em colocá-las em destaque, como se estivesse orgulhoso do desastre visual. É um daqueles momentos em que você se pergunta: “Será que eles assistiram isso antes de lançar?”

O Clube das Mulheres de Negócios: veja o trailer do novo filme de Anna Muylaert

O elenco faz o que pode com o material, mas até mesmo grandes talentos como Luís Miranda e Cristina Pereira parecem presos em uma narrativa que nunca encontra seu tom. Miranda traz carisma ao seu papel, mas não o suficiente para sustentar a confusão ao seu redor. Rafa Vitti tenta entregar um Candinho simpático, mas o personagem é tão mal desenvolvido que sua jornada acaba sendo esquecível. Já Pereira e Cardoso, apesar de entregarem atuações competentes, são sabotadas por diálogos expositivos e situações que desafiam a lógica — e não de um jeito criativo.

E vamos deixar claro: isso não tem nada a ver com lacração, cultura woke ou qualquer uma dessas besteiras que adoram culpar por tudo. Não é o tema do filme que o torna ruim; subversões de papéis de gênero acontecem o tempo todo no cinema e podem resultar em obras geniais. O problema está na forma como a mensagem é transmitida. E a forma que O Clube das Mulheres de Negócios tenta passar sua mensagem soa como um caco de vidro rasgando os tímpanos. É terrível, simplesmente terrível.

A ideia de trocar papéis entre homens e mulheres não é nova, e filmes que criticam o patriarcado existem aos montes. Mas tudo depende da execução. Aqui, a execução é tão desastrosa que mais atrapalha a mensagem do que ajuda. O filme não é uma crítica potente nem uma comédia engraçada — é apenas uma confusão de ideias mal desenvolvidas, embrulhadas em diálogos expositivos e situações absurdas.

Fiquei em choque ao descobrir que este filme foi dirigido e roteirizado por Anna Muylaert, a mesma mente brilhante por trás de Que Horas Ela Volta, uma das melhores críticas sociais do cinema nacional. Em que momento deu tudo errado? Como alguém que entregou um filme tão equilibrado e impactante pôde criar algo tão desastroso?

Que Horas Ela Volta? – Wikipédia, a enciclopédia livre

O maior problema de O Clube das Mulheres de Negócios é sua falta de sutileza. A mensagem, por mais importante que seja, é martelada na cabeça do espectador com uma força que deixa o final didático e redundante. Sabe aquele professor que repete a mesma explicação até você querer fingir que entendeu só para ele parar? É exatamente isso que o filme faz. E o pior: ele faz isso no final, quando você já está cansado da montanha-russa desgovernada que é o roteiro.

O filme consegue a façanha de ser ignorante nos melhores momentos e profundamente reacionário nos piores. Na tentativa de criticar o patriarcado, ele escorrega em clichês tão forçados que parece estar mais interessado em caricaturas mal feitas do que em discutir qualquer coisa séria. E, quando você pensa que não pode piorar, o roteiro dá um giro de 180 graus e começa a reforçar os mesmos preconceitos que deveria estar combatendo. No fim, ele atira no patriarcado, mas acerta o próprio pé — e ainda acha que foi genial.

Se você estiver procurando algo para assistir e se divertir, talvez seja melhor revisitar clássicos como Que Horas Ela Volta, também dirigido por Anna Muylaert, que consegue equilibrar crítica social com narrativa envolvente. Já O Clube das Mulheres de Negócios pode até ser uma opção, mas apenas se você estiver disposto a enfrentar onças de CGI duvidoso, piadas que perdem o timing e um roteiro que mais parece um ensaio escolar de última hora.

É como dizem: de boas intenções o inferno está cheio. E se você conseguir sobreviver a este filme, já pode considerar que ganhou pontos suficientes para o céu.

NOTA: 0,5/5,0

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