A franquia Neon Genesis Evangelion sempre foi conhecida por seu final altamente filosófico e psicológico, abordando temas como ego, identidade e o significado da existência. No cerne da narrativa está o Projeto de Instrumentalização Humana, um plano concebido para forçar a evolução da humanidade e transcender a realidade atual. Segundo Gendo Ikari, o objetivo desse processo não era a destruição, mas sim um retorno ao estado primordial da existência.
Nos episódios finais da série original, Evangelion adota uma abordagem abstrata e introspectiva, levando os personagens — principalmente Shinji Ikari — a questionarem seus próprios motivos, traumas e percepções de realidade.
Shinji percebe que seu único propósito parece ser obedecer os outros e buscar validação, enquanto Asuka confronta o mesmo dilema, mas de maneira agressiva. Ela o acusa de usar a autopiedade como forma de fugir da responsabilidade sobre sua própria felicidade.
Rei Ayanami, por outro lado, lida com sua própria identidade, separando-se de sua origem artificial e questionando se sua existência é definida apenas pela percepção dos outros. Misato, por fim, representa o lado de Shinji que acredita não merecer amor ou felicidade, refletindo a luta contra a vergonha e a fuga emocional.
Esses conflitos culminam no que se pode chamar de “morte do ego”, um conceito presente tanto no budismo quanto na psicologia junguiana. Shinji é levado a um estado onde ele precisa se desconstruir completamente para encontrar um novo significado para sua existência.
Shinji chega à conclusão de que a verdade é subjetiva e que sua percepção pode ser moldada por sua própria visão de mundo. Ele enfrenta seu maior inimigo: ele mesmo. Ao perceber que se isolou em um ciclo de autopiedade e negação da realidade, ele entende que precisa tomar as rédeas de sua própria vida.
No entanto, essa introspecção leva Shinji ao solipsismo, a ideia de que apenas ele próprio existe e que tudo ao redor pode ser uma mera ilusão. A Instrumentalidade cria um espaço onde não há dor, mas também não há individualidade, e Shinji percebe que um mundo sem conexão com os outros é tão vazio quanto o nada absoluto.
No fim, ele entende que deve aceitar sua própria existência, seus sentimentos e suas relações para, de fato, seguir em frente e construir uma nova realidade para si mesmo.
Enquanto os episódios finais do anime apresentam uma conclusão mais simbólica e positiva, onde Shinji aprende a aceitar a si mesmo, The End of Evangelion traz uma perspectiva diferente. O filme mostra um Shinji quebrado e isolado, enfrentando a dor da realidade ao invés de uma solução abstrata.
O Rebuild of Evangelion, por sua vez, introduz Mari, um novo personagem que funciona como uma espécie de guia para Shinji, ajudando-o a encontrar a felicidade com a ajuda dos outros, em contraste com a lição original, que enfatizava a necessidade da mudança interna sem depender de terceiros.
Mesmo sendo alvo de críticas, confusão e até ameaças de morte ao diretor Hideaki Anno, o final de Evangelion é considerado uma obra-prima introspectiva. O próprio Anno afirmou que os episódios 25 e 26 refletem fielmente seu estado mental na época, e que ele não se arrepende de sua decisão.
No fim das contas, Evangelion não é apenas um anime sobre robôs e monstros gigantes, mas sim uma profunda jornada psicológica sobre autoconhecimento, isolamento e a luta para aceitar a própria existência. O debate sobre seus finais e significados persiste até hoje, consolidando-o como uma das obras mais influentes da história da animação japonesa.
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