O gênero de RPG por turnos nunca esteve “de volta” — porque, na verdade, ele nunca foi embora. Nos últimos anos, vários títulos brilhantes mantiveram vivo o amor por batalhas estratégicas, desde Dungeon Encounters e Shin Megami Tensei até Sea of Stars e Chained Echoes. Mesmo assim, a chegada de Octopath Traveler 0 encontrou um cenário competitivo, onde cada lançamento precisa lutar por espaço entre grandes nomes do gênero.
E, apesar do visual deslumbrante e das batalhas envolventes, o novo capítulo da Square Enix chegou cercado de expectativas… e de um detalhe que incomodou boa parte do público.
Octopath Traveler 0 enfrenta o peso do próprio legado
O maior desafio do jogo é, curiosamente, ser um “reimaginado” de um título mobile, Octopath Traveler: Champions of the Continent. A estrutura original ainda está lá, servindo de esqueleto para tudo o que o novo game tenta construir — e isso acaba sendo sentido o tempo todo.
A história se divide em três grandes arcos: “mestres” do poder, da riqueza e da fama. As primeiras trinta horas oferecem progresso fragmentado entre esses arcos, enquanto a reta final ganha tom mais linear. A proposta é interessante, mas não totalmente eficaz.
A sensação de “vai e volta” das narrativas lembra o primeiro Octopath, gerando uma experiência arrítmica que pode cansar quem busca algo mais fluido.
Belíssimo, bem dublado… e ainda assim irregular
Se existe algo que Octopath Traveler 0 domina com maestria, é a estética. Os cenários foram ilustrados pela artista e cartógrafa italiana Francesca Baerald, trazendo um charme quase Tolkien à jornada. No Switch 2, especialmente no modo portátil, o visual impressiona.
A dublagem em inglês também surpreende: natural, envolvente e muito superior ao padrão que muitos RPGs japoneses apresentam no ocidente.
Mas, mesmo com esses acertos, a estrutura herdada do mobile pesa. A sensação é a de caminhar por um mosaico de histórias costuradas às pressas.
Nem mesmo o sistema de reconstrução da cidade natal — que lembra Bravely Default — consegue evitar a impressão de que cada parte pertence a um projeto diferente.
Narrativa arrastada e encontros longos demais tornam a jornada exaustiva

Em um ano marcado por grandes histórias emocionais, como Tactics e Clair Obscur, Octopath Traveler 0 parece deslocado no tempo.
Os arcos demoram a se conectar, e quando finalmente se encontram, a recompensa não acompanha o investimento — principalmente após quarenta horas de avanço entre pausas e retomadas.
E se você acha que, após tanto esforço, o jogo finalmente engata… ele cria novos segmentos e até falsos finais, lembrando O Retorno do Rei de Peter Jackson. Isso acaba tornando a experiência cansativa, especialmente quando os chefes extremamente resistentes prolongam batalhas por longos minutos.
Combate sólido, mas incapaz de salvar tudo
O sistema de batalhas continua empolgante, especialmente pelo uso de oito personagens simultaneamente, o dobro dos jogos anteriores. A possibilidade de recrutar NPCs para ataques pontuais cria um meta divertido e estratégico.
Mas, quando você precisa trocar membros o tempo todo só para superar adversários super resistentes, a novidade perde força — especialmente após cinquenta horas de jogo.
No fim, Octopath Traveler 0 é menor que a soma de suas partes. Cada sistema isolado funciona bem, mas juntos eles formam uma experiência irregular, que tenta amarrar conceitos demais em uma estrutura que não sustenta o peso dessa ambição.





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