O mais recente episódio de Pacificador deixou claro que James Gunn não tem medo de trazer debates profundos para dentro do universo de heróis. A história levou o público até a Terra X, realidade alternativa onde os nazistas venceram a Segunda Guerra Mundial, e usou esse cenário para levantar reflexões sobre como o mal pode ser normalizado e relativizado ao longo do tempo.
A banalização do mal
Gunn mostra que é fácil rejeitar atrocidades que já fazem parte da memória coletiva, como os crimes cometidos pelos nazistas. Porém, a grande provocação do episódio é: e quando o mal deixa de ser algo explícito e passa a ser apenas um processo burocrático, escondido atrás de discursos ideológicos, políticos ou religiosos?
Essa crítica fica evidente no diálogo entre Adebayo e Judomaster, que comentam como as minorias vivem sob opressão na Terra X. O episódio destaca que a população não é racista apenas por “natureza”, mas porque foi moldada a enxergar a desigualdade como algo normal, aceitando a opressão sem resistência.
Paralelos com a vida real
Ao exagerar na ficção, Gunn sugere que mecanismos parecidos acontecem no nosso mundo. Muitas atrocidades históricas — como a Era dos Linchamentos nos EUA — acabam esquecidas ou relativizadas ao longo do tempo. O mesmo vale para casos atuais de exploração, como trabalhadores do setor da moda em condições precárias ou mineradores de coltan no Congo, que sustentam tecnologias modernas sem receber visibilidade ou justiça.
A mensagem central
No fim, o episódio reforça a ideia de que a verdadeira ameaça não é apenas o mal explícito, mas sua banalização. O maior risco é quando a responsabilidade moral deixa de ser do indivíduo e passa a ser terceirizada para líderes, governos ou ideologias. É nesse ponto que injustiças passam a ser aceitas e perpetuadas como se fossem parte da normalidade.
Com isso, James Gunn entrega um dos episódios mais impactantes da temporada, unindo crítica social, ficção ousada e um retrato desconfortável do que acontece quando o ser humano escolhe se acomodar diante da opressão.
Seja o primeiro a comentar