por Vinícius Miranda
Se você já gastou dinheiro em roupas digitais, boosters ou cosméticos dentro de um jogo da Ubisoft, talvez fique surpreso com a justificativa da empresa. Em seu mais recente relatório anual de 400 páginas, a publisher afirma que microtransações tornam a experiência dos jogadores mais divertida.
Isso mesmo. Segundo a Ubisoft, esses recursos “enriquecem” os games e são totalmente opcionais. Mas será que essa visão combina com a realidade da comunidade?
A tal da “regra de ouro” da Ubisoft
O documento, chamado de “universal registration document”, cobre tudo sobre a atuação da empresa entre 2024 e 2025. Logo na décima página, a Ubisoft destaca sua “organização de produção única” e reforça que sua estratégia se baseia em políticas de monetização que “respeitam a experiência do jogador”.
A chamada regra de ouro, segundo o relatório, é permitir que os jogadores aproveitem o jogo por completo sem gastar além da compra inicial. Porém, ao mesmo tempo, a empresa diz que micro transações podem “tornar a experiência mais divertida”, seja com personalização de avatar ou progresso mais rápido.
Monetização com “responsabilidade”, diz a empresa
Nas páginas seguintes, a Ubisoft afirma que prioriza a segurança e o bem-estar dos jogadores, garantindo ambientes saudáveis e mecanismos de monetização responsáveis. Inclusive, o relatório cita um “código de conduta” que se compromete com uma abordagem justa e transparente nesse quesito.
Ainda segundo a empresa, a estratégia de monetização é guiada por dois pilares: opcionalidade e justiça. Em outras palavras, o jogador escolhe se quer pagar e, se decidir fazer isso, recebe algo que não afeta negativamente quem opta por jogar de graça.
Na teoria, até faz sentido. Mas na prática, a comunidade já viu jogos da própria Ubisoft implementarem sistemas que geraram muita crítica, como boosts de XP pagos ou economia inflada artificialmente para incentivar microtransações.
A visão está alinhada com o público?
O trecho mais polêmico talvez seja justamente aquele em que a empresa afirma que esse modelo torna os jogos “mais divertidos”. Uma declaração que pode soar um tanto desconectada da realidade, especialmente quando boa parte dos jogadores vê essas práticas como intrusivas ou, no mínimo, desnecessárias.
Vale lembrar que jogos como Assassin’s Creed Odyssey e Far Cry 6 enfrentaram duras críticas por apresentar conteúdos e melhorias que pareciam estar “presas” atrás de uma parede de pagamento.
A Ubisoft pode até acreditar que está oferecendo algo justo, mas o sentimento da comunidade é um termômetro que não pode ser ignorado. Afinal, será que pagar para progredir mais rápido realmente torna a experiência melhor? Ou apenas encurta artificialmente o tempo de jogo, enfraquecendo o desafio?
Com a indústria cada vez mais debatendo modelos de monetização, especialmente em jogos AAA, talvez seja hora de rever algumas definições. Porque entre o discurso de “diversão” e a sensação de estar sendo empurrado para gastar mais, há um abismo que só quem joga pode realmente medir.
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