O escritor britânico Alan Moore, um dos nomes mais influentes da história dos quadrinhos, voltou a ser assunto entre leitores após reafirmar seu arrependimento por ter criado Batman: A Piada Mortal. A graphic novel, publicada em 1988, é considerada um marco na trajetória do Cavaleiro das Trevas — mas, para Moore, sua repercussão teve efeitos negativos.
Desde os anos 1980, Moore consolidou seu status com clássicos como Watchmen, V de Vingança e Miracleman. Seu estilo mais sombrio ajudou a remodelar o gênero de super-heróis, influenciando gerações de criadores e guiando personagens como Batman a territórios mais violentos e psicológicos.
Ao chegar à DC Comics, o autor reformulou personagens importantes, especialmente em A Saga do Monstro do Pântano, onde redefiniu completamente a natureza do protagonista. Em 1986, ele transformou a indústria com Watchmen, obra amplamente citada como o momento em que “os quadrinhos amadureceram”.
O peso de A Piada Mortal na trajetória do Batman
Com Batman: A Piada Mortal, criada ao lado do artista Brian Bolland, Moore apresentou uma narrativa alternada entre o passado do Coringa e os esforços de Batman para salvar Jim e Barbara Gordon. A história deu ênfase a temas como trauma, violência psicológica e limites morais, influenciando profundamente obras posteriores do universo do herói.
No entanto, em entrevistas ao longo dos anos, Moore declarou que o impacto da HQ não o agrada. Ele afirmou que A Piada Mortal é “provavelmente a pior coisa que já escrevi”.
Embora tenha elogiado o trabalho de Bolland, Moore criticou o efeito que a trama teve sobre o tom das histórias do Batman e sobre a própria indústria. Para ele, Bruce Wayne deveria ser retratado como um jolly uncle, expressão que ele explicou como uma figura mais alegre e acessível. Segundo o autor, o quadrinho foi pensado como uma crítica aos adultos que ainda liam a série — mas acabou se tornando um clássico cult.
Controvérsias e repercussões do quadrinho
Desde o lançamento, A Piada Mortal é alvo de debates sobre sua influência no afastamento de narrativas mais leves envolvendo o herói. Parte desse debate gira em torno do tratamento dado à personagem Barbara Gordon e do aval do editor Len Wein à decisão de deixá-la paraplégica após o ataque do Coringa — decisão resumida na frase “aleje a vadia”.
Críticos apontam que a HQ reforçou a tendência de histórias mais sombrias, gráficas e brutais, tendência já em ascensão após obras como Batman: O Cavaleiro das Trevas e Batman: Ano Um, de Frank Miller.
Mudança de tom na carreira
Após sua saída da DC, Moore se distanciou das narrativas violentas e investiu em obras mais leves e imaginativas, como Tom Strong, Top 10 e A Liga Extraordinária, todas publicadas pelo selo America’s Best Comics. Esses projetos demonstraram um autor mais inspirado, explorando ficção científica, literatura clássica e elementos pulp.
Mesmo assim, títulos dos anos 1980 continuam sendo seus maiores sucessos de vendas — incluindo Watchmen e A Piada Mortal, que seguem entre as graphic novels mais procuradas décadas depois do lançamento.
Especialistas lembram que a transformação do Batman em um personagem mais sombrio já estava em curso antes de Moore. Desde as primeiras décadas, o herói transitava entre o horror gótico e aventuras mais leves, alternando períodos de maior seriedade com fases voltadas ao público infantil, como Batman e Mistérios com Scooby-Doo.




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