Ghost in The Shell, de Masamune Shirow, é uma das mais aclamadas peças de ficção moderna feitas no Japão. Seja com o mangá ou o filme animado, a história original e suas sequências já receberam diversos elogios da crítica e tiveram sucesso comercial. Muito por conta da poderosa narrativa utilizada pelo autor e a importância dos temas que são explorados.
Ghost in The Shell conta a história de oficiais de polícia em um Japão futurista, especificamente A Major e o Chefe Daisuke Aramaki, e eles tem como alvo um misterioso manipulador de fantoches que está hackeando tecnologias e causando o caos. Através das lentes desses três personagens e seu extenso elenco de apoio, Shirow levanta diversas questões, como o que significa ser humano e como a tecnologia pode mudar a sociedade em décadas futuras.
Com o lançamento, na última semana, da adaptação em live action de Ghost in The Shell nos cinemas, é aparente que a história de Shirow é mais relevante do que nunca. Abaixo, você pode conferir alguns momentos cruciais em que o mangá, o anime e o novo filme lida com problemas importantes que nos confrontam de uma forma ou de outra, segundo o site Comicbook.
1) Integração da tecnologia
Um dos fatores mais importante de Ghost in The Shell é como a tecnologia pode ser integrada no nosso dia-a-dia. Personagens podem conseguir informações, trocar mensagens e se comunicar pelo celular enquanto correm nas ruas. Isso parece normal atualmente, mas considerando que as ideias são de 1989, esse é um flagrante bem profético. O que é mais interessante que as previsões do que a tecnologia pode ser capaz de fazer no futuro, é o quanto que nós precisamos dela.
A tecnologia não é apenas algo que os personagens de Ghost in The Shell usam, é literalmente parte deles. A Major é quase inteiramente uma máquina, enquanto que a aparência do Chefe é notada por conta de seus olhos cobertos. Eles não precisam tirar iPhones de seus bolsos, eles são os iPhones em uma certa extensão. Ghost in The Shell examina seriamente as consequências de deixarmos nossos aparelhos digitais se tornarem parte integral de nossa existência diária, uma dependência.
2) Definições de humanidade
Essa combinação de tecnologia e humanidade levanta questões sobre o que define a última dentro da história de Ghost in The Shell. A Major é notada por quase ser inteiramente uma máquina. Seu corpo é uma construção que é o lar de um cérebro livre flutuante. Essa é uma aproximação moderna do Navio de Teseu, uma questão filosófica clássica sobre a substituição de vários elementos que nos fazem abandonar o eu original.
Ainda não possuímos tal tecnologia para sermos seres digitais, mas existem questões para o que consideramos ser parte nossa e o que nos conecta como seres humanos. Por exemplo, próteses estão cada vez mais avançadas e o uso de melhorias biológicas e tecnológicas já se tornaram parte da vida de muitas pessoas. Essa é uma questão que Ghost in The Shell levanta e nos ajuda a responder.
3) Ofuscação do mundo
Enquanto Ghost in The Shell é um clássico moderno de ficção científica, ele também é um maravilhoso thriller político. Enquanto os membros da Seção 9 de Segurança Pública caçam o manipulador de fantoches, eles acabam se envolvendo em uma conspiração muito maior do que podem lidar. É uma história que envolve governo e interesses individuais de várias corporações. E o mais assustador nessa conspiração é o fato de ser fácil de reconhecer as razões e os atores dentro de nossos próprios sistemas.
Desta forma, Masamune Shirow nos lembra da importância de supervisionar e exigir transparência de todos os sistemas, bem como o perigoso aumento de sigilos na sociedade moderna.
4) A política de raça
Esse tópico é diferente dos demais, já que essa é uma questão que não está muita clara no mangá. É até possível levantar tal discussão na obra e nos filmes originais, mas é a adaptação em live action que realmente trouxe esse problema a vista.
A escalação de Scarlett Johansson para o papel da Major foi considerada uma espécie de “lavagem branca”, e trouxe algumas questões sobre como histórias são alteradas para audiências e o que isso diz a respeito dos indivíduos que produzem o entretenimento. Parece haver falta de confiança na capacidade de atores com descendência japonesa de participarem de um filme com personagens nipônicos.
É uma escolha que questiona tanto as decisões dos produtores de Hollywood quanto potenciais prejuízos com a audiência, e é algo precisamos confrontar. Enquanto isso não é exatamente um componente de Ghost in The Shell, tal escolha e a controvérsia que a cercou levantaram questões significantes, que não devem ser ignoradas.
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