Por que o ‘Pacificador’ não percebeu que estava na Terra X antes?

Cheyna Corrêa (Texto: William Prado)

Por que o ‘Pacificador’ não percebeu que estava na Terra X antes?
John Cena em 'Pacificador' (Divulgação/HBO Max)

O 6º episódio da segunda temporada de Pacificador trouxe uma revelação surpreendente: o universo considerado “perfeito” pelo herói era, na verdade, um mundo governado por nazistas — uma clara referência à Terra X, dos quadrinhos da DC.

Seus amigos logo perceberam a ausência de pessoas de outras etnias naquele cenário. Mas por que o Pacificador levou tanto tempo para notar?

O que os olhos não veem, o “Chrisão” não sente

A resposta está no próprio passado do personagem. Criado por um pai nazista, Christopher Smith teve suas referências moldadas dentro de um ambiente racista e abusivo. O que para outros soava estranho, para ele parecia natural. O “mundo perfeito” diante de seus olhos era exatamente o que seu pai, o Dragão Branco, pregava durante toda a sua vida.

Esse detalhe não significa que o Pacificador seja nazista. Pelo contrário: a série de James Gunn trabalha justamente a redenção do personagem, mostrando sua evolução desde a morte de Rick Flag Jr. até o rompimento com as amarras preconceituosas herdadas de sua criação.

Não notar a ausência de pessoas negras naquele universo pode parecer absurdo hoje, mas por muito tempo isso foi retratado como normal até mesmo em Hollywood. E não estamos falando de séculos atrás, mas de poucas décadas — nos anos 80, 90 e 2000.

O efeito do meio no comportamento humano

Na Terra X, tanto o Pacificador quanto Harcourt são nazistas. A explicação não está apenas em traços de caráter, mas no contexto social em que cresceram.

Esse é justamente o ponto central do livro O Efeito Lúcifer, de Philip Zimbardo. O psicólogo mostrou, através do famoso Experimento da Prisão de Stanford (1971), como pessoas comuns podem se tornar abusivas e cruéis quando inseridas em determinados papéis sociais.

Na simulação, estudantes que assumiram o papel de guardas passaram a agir com violência, enquanto aqueles que se tornaram prisioneiros desenvolveram submissão e sofrimento.

O meio, portanto, exerce enorme influência — ainda que não seja o único fator. No caso do Pacificador original, um momento decisivo o afastou da ideologia do pai: a morte do irmão. Esse trauma criou uma ruptura emocional com o Dragão Branco, abrindo espaço para que Christopher Smith seguisse outro caminho, longe do lado mais sombrio da humanidade.

Assim, o episódio não apenas revela um universo alternativo, mas também reforça uma das maiores mensagens da série: ninguém nasce pronto para o bem ou para o mal; é a combinação entre caráter, escolhas e contexto que molda quem realmente nos tornamos.

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