Por que os brasileiros não valorizam o cinema nacional?

Melo

Por que os brasileiros não valorizam o cinema nacional?

É um fato preocupante: o cinema brasileiro enfrenta desprezo dentro de casa. Produções nacionais são muitas vezes ignoradas e subestimadas pelo próprio público, enquanto as salas de cinema lotam para estreias de Hollywood.

Mas o que está por trás desse desinteresse e, mais ainda, dessa falta de apoio dos brasileiros à própria cultura cinematográfica?

Primeiramente, há um preconceito histórico com o cinema nacional. Boa parte do público brasileiro associa os filmes feitos no Brasil a conteúdos de baixa qualidade, abordando apenas temas de violência ou retratando o país de maneira negativa.

Isso, porém, é uma visão estreita e ultrapassada. O cinema brasileiro moderno apresenta uma diversidade de temas e abordagens ricas e inovadoras.

Filmes como Bacurau, Que Horas Ela Volta? e Cidade de Deus são aclamados mundo afora, com histórias intensas, originais e potentes. Mesmo assim, muitos brasileiros desconhecem ou desvalorizam essas produções.

Filme 'Estômago' é exibido em Ribeirão com a presença do diretor Marcos Jorge

Estômago

Há, também, uma percepção equivocada de que o cinema nacional se resume a Tropa de Elite, O Auto da Compadecida e Cidade de Deus.

Embora esses títulos sejam excelentes e amplamente reconhecidos, o cinema brasileiro vai muito além disso. Existem produções de diversos gêneros – comédias, dramas, suspenses, ficção científica e até terror – que nada ficam devendo aos filmes estadunidenses e que são tão envolventes quanto os blockbusters hollywoodianos.

Filmes como O Som ao Redor, Aquarius, Bingo: O Rei das Manhãs e Hoje Eu Quero Voltar Sozinho são apenas alguns exemplos de produções que merecem mais destaque e prestígio dentro do próprio país.

Outro ponto que não pode ser ignorado é o próprio desinteresse cultural. Em vez de enxergar o cinema nacional como uma oportunidade de aprender e de ver nossas histórias e realidades retratadas com profundidade, a maioria das pessoas prefere consumir narrativas estrangeiras, geralmente mais fantasiosas e distantes da nossa realidade.

Essa escolha reflete uma falta de curiosidade e orgulho pela nossa própria cultura. Em vez de valorizar o que é nosso, muitos ainda se voltam exclusivamente para produções estrangeiras, mesmo quando a qualidade das produções brasileiras é indiscutível.

Em muitas conversas, surgem comentários como “o Brasil não consegue fazer um único filme sem ser sobre favela e pobreza?”, que evidenciam um enorme desconhecimento do próprio cinema nacional.

Essa visão rasa ignora a ampla diversidade de temas abordados pelo cinema brasileiro e reforça estereótipos injustos. Esse tipo de comentário demonstra a falta de interesse em explorar a própria cultura e o preconceito com o que é nacional, reforçando um ciclo de desvalorização.

Crítica: 'Reflexões de um Liquidificador'(2010), de André Klotzel - Cinefilia Incandescente

Reflexões de Um Liquidificador

A visão de que “se é brasileiro, é ruim” permeia não só o cinema, mas várias áreas da cultura nacional. Essa autossabotagem impede que o cinema brasileiro evolua ainda mais e se fortaleça economicamente.

O resultado é uma indústria fragilizada, dependente de incentivos públicos e que, muitas vezes, vê talentos migrando para o exterior em busca de reconhecimento.

O Brasil produz filmes originais, ricos em narrativa e com atores e diretores excepcionais, mas muitos desses profissionais só encontram respeito e valorização fora do país. Isso é uma vergonha cultural que não pode ser ignorada.

Outro fator que contribui para essa situação é a falta de iniciativas de valorização do cinema nacional nas escolas e na mídia. Enquanto outros países celebram suas produções, aqui o cinema brasileiro é constantemente relegado a segundo plano.

Seria essencial que, desde cedo, o público fosse apresentado ao cinema nacional e seus diversos gêneros. No entanto, a própria mídia muitas vezes reforça a visão estereotipada de que os filmes brasileiros só tratam de pobreza e violência. Isso prejudica a imagem do nosso cinema e afasta o público.

Saneamento Básico, O Filme" é a comédia nacional que prende o espectador do início ao fim - Metro 1

Saneamento Básico, O Filme

Não é exagero dizer que o maior inimigo do cinema nacional é o próprio público brasileiro. Esse desinteresse é um círculo vicioso: o público não valoriza, as produções têm menos retorno financeiro, os incentivos culturais são menores e, assim, fica mais difícil investir em novos projetos.

Enquanto o cinema de outros países cresce e se torna motivo de orgulho nacional, o Brasil parece empenhado em boicotar o próprio sucesso.

Está na hora de mudar essa mentalidade atrasada e reconhecer o valor do cinema brasileiro.

Quando o público brasileiro entender que o cinema nacional pode ser tão bom ou melhor que qualquer blockbuster estrangeiro, o mercado interno se fortalecerá, e o cinema brasileiro poderá florescer, ganhando ainda mais visibilidade no cenário mundial.

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Carandiru

Chegou o momento de parar de menosprezar o que é nosso e de apoiar, prestigiar e valorizar as histórias que falam sobre nós mesmos. Afinal, quem vai valorizar o cinema brasileiro se não for o próprio brasileiro?

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