Um recente conteúdo original brasileiro na Netflix causou muito furor e burburinho nas redes sociais: trata-se do filme A Primeira Tentação de Cristo, do grupo de humor Porta dos Fundos. Depois de muita polêmica, a Justiça do Rio de Janeiro ordenou que a plataforma retire o filme do ar. A decisão saiu nesta quarta-feira (8) e as informações são do colunista Ancelmo Gois, do jornal ‘O Globo’.
A produção especial de Natal é uma comédia que tem um Jesus Cristo homossexual como protagonista e se tornou o centro de acaloradas discussões na web.
Quem acionou a Justiça foram diversos líderes e grupos religiosos brasileiros, que se sentiram ofendidos pela produção. Em primeira instância, o pleito havia sido negado. Agora acatado, ainda cabe recurso quanto à decisão.
A medida atende, especificamente, a um pedido feito pela Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura. Em seu voto, o desembargador argumentou que a retirada do vídeo seria “benéfica para acalmar os ânimos da sociedade brasileira, majoritariamente cristã”. Cabe citar que a decisão foi uma liminar, ou seja, provisória.
“Por todo o exposto, se me aparenta, portanto, mais adequado e benéfico, não só para a comunidade cristã, mas para a sociedade brasileira, majoritariamente cristã, até que se julgue o mérito do agravo, recorrer-se à cautela, para acalmar ânimos, pelo que concedo liminar na forma requerida”, disse o texto.
A assessoria de imprensa da Netflix informou que a empresa ainda não foi notificada e que não vai se pronunciar.
A polêmica
Logo que A Última Tentação de Cristo entrou no ar pela Netflix, iniciaram-se as polêmicas na internet. A própria sinopse diz que esse é “um especial de Natal tão errado que só podia ser do Porta dos Fundos”. Mesmo assim, esse suposto romance gay de Jesus Cristo revoltou muitos grupos cristãos.
De um lado, muita gente se sentiu ofendida, considerando que os assuntos religiosos não deveriam ser tratados dentro do universo do humor. Do outro lado, argumenta-se que a produção tem o intuito de ser engraçada e não tenta ofender ninguém. No meio, há quem acredite apenas que o filme não seja bom.
A decisão negativa da Justiça em primeira instância chegou a motivar um ataque terrorista à sede do grupo na cidade do Rio de Janeiro. O local foi atacado na madrugada do dia 24 de dezembro, com coquetéis molotov. Leia mais clicando aqui.
Nas redes sociais brasileiras, após a decisão desta quarta-feira (8), além do vocábulo ‘Porta’, a palavra ‘Censura’ também está entre os assuntos mais comentados da noite no Twitter. Confira algumas reações dos usuários:
A censura, a imoralidade, o charlatanismo e o cinismo sempre vêem de onde mais se espera. Da "igreja e da mente vazia desses moralistazinhos religiosos do país". pic.twitter.com/02bfLHbyYT
— Rodrigo Silveira 🇧🇷🇦🇺🇺🇲 (@brcelsilveira) January 8, 2020
https://twitter.com/laura_hav/status/1215026047063908353
Não vi e não pretendo ver o filme.
Porém, a censura de algo que não viola nenhuma lei é um ataque à liberdade de expressão que nos aproxima de países autoritários e distancia dos que deram certo.
O Estado existe justamente para preservar o direito da menor minoria: o indivíduo
— João Amoêdo (@joaodamoedo) January 8, 2020
As pessoas têm o direito de gostar ou não do vídeo do Porta dos Fundos, de criticar ou defender. São liberdades democráticas. O resto é CENSURA. O respaldo de um juiz só a torna mais vergonhosa.
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) January 8, 2020
A justiça recorrendo à censura como necessária para “conter os ânimos” em uma sociedade “majoritarimente cristã.” E assim enterra o estado laico. Mais do que absurda, a decisão fere a constituição que consagra a liberdade de expressão como cláusula pétrea.https://t.co/QA5bTkyKmE
— Jandira Feghali 🇧🇷🚩 (@jandira_feghali) January 8, 2020
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