Quando foi que o videogame virou esporte?

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Quando foi que o videogame virou esporte?

Por Cheyna Corrêa

Desde seus primórdios, os videogames sempre estimularam a competição entre jogadores. Mas, em que momento essa prática se consolidou como um esporte oficial? A evolução do cenário competitivo e a profissionalização dos gamers transformaram a forma como se encara os jogos digitais – de um entretenimento casual para uma atividade que exige habilidades, estratégia e preparo físico e mental.

A origem da competição nos videogames

A ideia de competir em videogames sempre existiu, mesmo antes de serem reconhecidos formalmente como esportes. Nos anos 70, por exemplo, o primeiro evento competitivo oficialmente realizado foi a Olimpíada Intergaláctica de Spacewar em 1972, na Universidade de Stanford. Nesse jogo de batalha espacial, os participantes precisavam destruir meteoros e ficar o máximo de tempo vivo, e o vencedor ganhava até um ano de assinatura gratuita de uma revista. Essa iniciativa pioneira demonstrou que, mesmo em um cenário incipiente, a habilidade e a competitividade já tinham seu espaço.

Imagem: Reprodução

O que define um esporte e a transição para os e-sports

A discussão sobre se videogames podem ser considerados esporte sempre foi intensa. Inclusive, a ex-ministra do Esporte, Ana Moser, chegou a afirmar que jogos de videogame não eram verdadeiras competições, pois dependiam da programação do jogo e não da habilidade do jogador. Contudo, a definição tradicional de esporte – qualquer atividade física ou mental, com regras definidas, submetida a uma organização oficial – foi expandida ao longo do tempo. Se o xadrez, apesar de ser um jogo predominantemente mental, é classificado como esporte, então os videogames também podem ser incluídos, especialmente quando a habilidade, estratégia e tomada de decisão determinam o resultado.

A consolidação dos videogames como esporte

Durante os anos 80 e 90, as competições em fliperamas eram comuns, mas os torneios eram esporádicos e não regulamentados de forma consistente. A grande transformação começou com o lançamento de StarCraft, no final dos anos 90.

StarCraft não só encantou pela sua rica lore, mas também estabeleceu o primeiro sistema online de competição (Battle.net), criado pela Blizzard. Essa plataforma permitiu que jogadores de todo o mundo se conectassem, formando clãs e competindo em torneios organizados. O sistema de ranking incentivava os gamers a melhorarem continuamente, marcando o início de uma revolução no cenário dos e-sports.

O papel dos pioneiros e a explosão na Coreia do Sul

Por volta dos anos 2000, um fenômeno emergiu na Coreia do Sul com o surgimento de jogadores excepcionais em StarCraft. O jogador Lim Yo-Hwan, conhecido pelo nick BOXER, redefiniu o jogo com sua habilidade extraordinária de microgerenciar cada unidade em tempo real. Um torneio televisado, realizado em um estádio especialmente alugado para a ocasião, consolidou a popularidade do jogo e abriu as portas para a profissionalização das competições. Esse evento foi tão marcante que novas organizações começaram a surgir, e a febre dos jogos competitivos se espalhou pelo mundo – fenômeno que se estenderia a outros títulos como Counter-Strike, jogos de luta e até mesmo o FIFA.

O reconhecimento oficial e a profissionalização dos e-sports

Hoje, o cenário dos videogames como esporte é incontestável. No Brasil, por exemplo, há a regulamentação por meio da Associação Brasileira de Clubes de e-sports, e grandes clubes tradicionais, como o Flamengo, possuem suas próprias equipes de League of Legends. O reconhecimento dos e-sports alcançou um novo patamar: jogadores que competem profissionalmente são tratados como atletas, treinam constantemente e participam de campeonatos que atraem milhões de espectadores ao redor do mundo.

Além disso, outros segmentos também ganham destaque; mesmo jogos que não se encaixam perfeitamente na definição de esporte competitivo, como os speedrunners – atletas que quebram recordes ao completar jogos no menor tempo possível – demonstram que a habilidade e a persistência são valorizadas, independentemente do formato da competição.

Jogadores da LOUD disputam a final do 2º Split do Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLOL) de 2022 no Ginásio do Ibirapuera, em SP — Foto: Riot Games

Um ponto de virada: de antes para depois

O que realmente transformou os videogames em um esporte foi o advento dos sistemas online e a profissionalização dos torneios, marcados principalmente pelo surgimento da Battle.net e o impacto revolucionário de StarCraft. Esses marcos inauguraram uma nova era em que os jogos digitais deixaram de ser apenas uma atividade de lazer para se tornarem competições de alto nível, com regras, organizações oficiais e reconhecimento global.

Enquanto alguns ainda podem resistir à ideia de que os videogames são um esporte, a realidade mostra que, com a evolução tecnológica e a crescente demanda por competições, os e-sports se firmaram como uma modalidade que exige tanto preparo mental quanto físico.

A partir desse ponto de virada, a cultura do videogame se mesclou com o universo esportivo, e hoje os e-sports estão entre os mais populares do mundo, impulsionando uma nova geração de atletas digitais e transformando a forma como as pessoas interagem, competem e se divertem na era digital.

Qual a importância dos videogames na sua vida? Talvez seja hora de repensar o conceito de esporte e reconhecer que os e-sports são uma realidade que veio para ficar.

 

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