A franquia Metal Gear está sumida dos holofotes desde 2015, quando foi lançado Metal Gear Solid V: The Phantom Pain. Essa época também foi marcada pela conturbada saída do criador da franquia, Hideo Kojima, da Konami, por conta de várias divergências. A Konami até mesmo tentou dar uma sobrevida pra saga sem o seu criador resultando na criação do polêmico spin-off Metal Gear Survive, lançado em 2018. Esse jogo os fãs preferem esquecer que existiu.
Mas agora finalmente a franquia está de volta, 10 anos depois do seu último game principal, com Metal Gear Solid Delta: Snake Eater, o remake do clássico do PS2 Metal Gear Solid 3: Snake Eater. Mas será que o jogo cumpre o que prometeu e faz jus ao jogo original?
A história do game
A franquia Metal Gear como um todo é considerada uma das mais complexas do mundo dos games quando o assunto é enredo, mas vamos tentar resumir o que acontece nesse jogo. Metal Gear Solid 3 é um prequel de toda a franquia, ou seja, cronologicamente falando ele é o primeiro jogo da saga, sendo considerado uma boa porta de entrada para novos fãs. Provavelmente foi por isso que a Konami decidiu fazer um remake dele.
A história se passa no ano de 1964, no auge da Guerra Fria. Um cientista chamado Sokolov criou uma poderosa arma, mas desertou para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, ocorreria a Crise dos Mísseis de Cuba, evento histórico que quase culminou na Terceira Guerra Mundial. No mundo fictício de Metal Gear, essa crise foi superada quando os Estados Unidos concordaram em devolver Sokolov para a União Soviética.
Após isso, a Unidade Fox da CIA iniciou uma operação secreta pra resgatar Sokolov. Um agente seria selecionado para se infiltrar em território soviético e buscar o cientista. Esse seria o protagonista do game, o agente de codinome Naked Snake. Porém, a missão sofre um grande contratempo quando a mentora de Snake, e considerada a maior soldado dos Estados Unidos, conhecida como The Boss, anunciou sua deserção e aliança com uma organização soviética clandestina chamada de GRU. Isso desencadeia um novo escândalo internacional que resulta em Snake agora tendo não apenas que resgatar Sokolov, mas matar The Boss e também destruir uma arma de destruição em massa chamada Shagohod. Essa missão ficaria conhecida como Operação Snake Eater.
Tem muito mais o que falar da história, tendo personagens extremamente carismáticos e muitas referências para quem jogou os jogos anteriores da saga. Caso você seja um veterano da franquia, pode ficar tranquilo que nada foi removido ou acrescentado. É exatamente a mesma história do game lançado em 2004.
Fiel até demais
De cara, isso foi uma das maiores preocupações dos fãs da franquia. Principalmente depois fiasco que foi Metal Gear Survive. Afinal, Metal Gear Delta seria um remake fiel ao original? Parece que a Konami entendeu a responsabilidade de mexer nessa franquia, pois desde o início eles deixaram claro que a ideia era ser o mais fiel possível ao material original. E isso eles fizeram muito bem.
Metal Gear Solid Delta é o que chamam de “remake 1 pra 1”, ou seja, ele aproveita tudo o que existe do original, sendo extremamente fiel a ele, sem cortar absolutamente nada, apenas acrescentar. E nesse caso aqui, o que ele acrescenta é mínimo, como alguns itens e modos extras. Cenários, personagens, cenas, enredo, tudo está exatamente igual ao Metal Gear Solid 3 de PS2, porém com visuais modernos. A fidelidade é tanta, que até os áudios são os mesmos do original, apenas remasterizados.
O maior diferencial aqui, com certeza, é a gameplay. Essa parte foi relativamente alterada, adotando o esquema que era usado nos últimos jogos da saga, como Metal Gear Solid: Peace Walker e, principalmente, Metal Gear Solid V. A câmera é atrás do personagem, e na hora de mirar e atirar, ela muda pra uma posição over the shoulder. Tanto normal como quando apontamos as armas, tem a opção de mudar a câmera pra primeira pessoa também. O Snake também é capaz de andar agachado, que é um movimento que estreou no Metal Gear Solid 4. No Metal Gear Solid 3, só podíamos andar em pé ou se arrastar no chão.
Outro sistema que melhorou foi o das camuflagens. No original, para mudar as pinturas faciais e os uniformes, precisávamos obrigatoriamente ir no menu e fazer a mudança. Isso ainda é possível aqui, mas temos uma opção mais dinâmica de fazer essa mudança em tempo real, com direito a combinações já estabelecidas para facilitar as nossas escolhas.
Para os jogadores mais puristas, ainda assim é possível ativar um Modo Clássico e jogar com a mesma gameplay do jogo de 21 anos atrás, mantendo apenas os visuais renovados. E assim, teoricamente, tendo o melhor dos dois mundos.
Visual lindo, mas com pequenas ressalvas
Provavelmente o maior destaque desse remake são os gráficos. Feito na Unreal Engine 5, Metal Gear Solid Delta mostra uma repaginada total do jogo original. São exatamente as mesmas cenas, porém refeitas com gráficos da atual geração. Tudo extremamente detalhado, desde as expressões faciais, texturas das roupas, densidade dos cenários, e até mesmo as camadas das pinturas faciais. Tudo está lindíssimo, ou quase tudo.
Sim, há pequenas ressalvas em relação aos visuais. Principalmente nos cabelos. Em casos de personagens como EVA, por exemplo, que tem cabelos compridos e soltos, os gráficos mostram suas falhas, apresentando dificuldades nas animações, o que resulta em pequenos serrilhados. Nada que estrague a experiência, mas chama a atenção.
Outro elemento que ficou meio estranho são os dedos do Snake, que parecem não estar tão bem renderizados assim, mas isso fica evidente apenas em cenas que mostram bastante as mãos do personagem.
De resto, praticamente nada a reclamar. Temos um fator realista até mesmo durante a gameplay, pois agora o Snake fica sujo ao passar pela lama, por exemplo. Apesar de não ser algo permanente e que logo ele volta ao normal, o que é uma pena. Mas um elemento bacana e que é permanente são os ferimentos. Conforme vamos enfrentando os inimigos e sofrendo ferimentos, algumas cicatrizes permanecem no corpo de Snake até o final da história, o que é bem bacana.
Extras diferenciados
Outro elemento interessante do Delta são os seus extras. Por exemplo, quando começamos um novo jogo, eles apresentam algumas opções como “Eu gosto de jogar Metal Gear Solid 1” ou “Eu gosto de jogar Metal Gear Solid: Peace Walker”. Isso não é novidade, uma vez que o jogo original apresentava essas opções, porém se limitando a, obviamente, os jogos lançados até então. Como agora temos a franquia fechada, opção dos jogos lançados depois de Metal Gear Solid 3 também aparecem, com exceção dos spin-offs. O que muda dependendo da opção escolhida são itens específicos que conseguimos obter. Mas ao zerar o jogo, todos os outros itens são liberados. Temos também um New Game+, onde podemos rejogar o game com os itens e status da jogatina anterior.
Outros modos existentes no clássico como Snake vs. Apes e Secret Theater voltaram. Infelizmente, alguns modos ficaram de fora, como a possibilidade de jogarmos o Metal Gear 1 e 2 de MSX2, presentes na versão Subsistence de Metal Gear Solid 3.
Mas talvez o maior destaque aqui seja o modo Guy Savage, um mini-game estilo hack and slash que, no jogo original, é jogável apenas em um trecho específico do game, sendo abordado dentro do enredo como um pesadelo de Snake. Isso também acontece aqui, mas com o diferencial que podemos jogar o game de forma separada depois de zerar a campanha.
E esse modo Guy Savage sofreu uma repaginada total. Não apenas a gameplay foi melhorada, como os visuais dos personagens e cenários mudaram. Até mesmo cutscenes foram incluídas, mostrando que teve um capricho e uma liberdade a mais. Infelizmente, esse modo continua sendo bem curto.
Substitui o original?
Acho que o maior questionamento é justamente esse. Afinal, Metal Gear Solid Delta veio para substituir Metal Gear Solid 3? E a resposta é não. Segundo a própria Konami, a ideia do remake é ele coexistir com o jogo original, que inclusive foi relançado há algum tempo atrás na Metal Gear Solid Master Collection Vol 1.
Porém, essa declaração pode dividir opiniões, uma vez que o remake é extremamente fiel ao original, com o acréscimo do visual e gameplay modernizados e alguns extras. Para os jogadores que prezam por gráficos de última geração, não sobra muitos motivos para experimentar o clássico agora. Mas para muitos, os gráficos originais do jogo de PS2 ainda possuem seu charme e podem ser considerados com mais personalidade que os atuais. Fora que tem os fãs do Kojima que podem ter aversão a esse game simplesmente por ser um Metal Gear feito sem o seu criador.
Independente disso, Metal Gear Solid Delta cumpre o que prometeu. Ele é um remake fiel (até demais) ao seu material original, servindo quase que como uma homenagem. Ao mesmo tempo, ele é uma opção mais acessível a novos jogadores no sentido de ter não apenas um visual mais moderno, mas uma gameplay mais convidativa. Mesmo que a Konami não faça remakes dos demais jogos (o que eu duvido), esse jogo pode incentivar novos fãs a procurarem o resto da franquia.
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