Silent Hill finalmente voltou, e de uma forma diferente. Depois do fantástico remake de Silent Hill 2, a Konami retornou com Silent Hill f, feito em parceria com a NeoBards Entertainment.
Silent Hill f veio com a proposta ousada de levar a franquia não apenas para outra cidade, mas para outro país. A Konami deixou claro que busca reviver as raízes japonesas da franquia, e optou por fazer isso de forma literal, abraçando de vez o estilo de horror japonês dentro da franquia Silent Hill. A questão é: funcionou? Silent Hill f faz jus à saga de terror mais famosa da Konami?
Uma trama cheia de quebra-cabeças
A história do jogo foca na jovem japonesa Hinako Shimizu, que está afogada de problemas familiares envolvendo um pai abusivo e uma mãe submissa. Fora isso, sua irmã foi embora depois de se casar, e Hinako também tem amigos com suas próprias questões pessoais. Tudo isso se mistura com uma resistência por parte de Hinako em relação a certas tradições daquela época, principalmente relacionadas a casamento.
Hinako vive na cidade pacata de Ebisugaoka, conhecida por ter muitos devotos aos deuses, assim como ter vários templos e mitos entre a população. Porém, isso parece que vem a tona quando, em meio aos seus dilemas pessoais, Hinako e seus amigos se veem diante de uma névoa densa que envolve a cidade. Todos desapareceram, e monstros começam a aparecer. Agora Hinako precisa encontrar uma forma de sobreviver a esse pesadelo.
A história de Silent Hill f é muito interessante. Nada mirabolante, sendo até mesmo clichê. Porém, desenvolvida de forma que te prende, mantendo diversos mistérios no ar. Até mesmo depois que você termina o jogo pela primeira vez.
Pois é, acontece que Silent Hill f foi pensado pra ser jogado em mais de uma jogatina. É possível zerar o jogo com cerca de 10 horas de duração. Ao fazer isso, o New Game+ é liberado, e nessa segunda jogatina, novas informações começam a surgir, além da possibilidade de fazer mais finais.
Foco no combate, mas nem tanto
Algo que chamou muito a atenção dos jogadores aqui foi no sistema de combate adotado por esse jogo. De forma geral, é uma versão aprimorada do combate de Silent Hill 2 Remake, com foco totalmente em armas brancas e movimentos limitados. Temos um golpe fraco e um golpe forte, que possuem variações usando movimentos específicos e o timing certo no combate. A suspeita de muitos foi que o jogo traria inspirações no estilo de combate dos jogos soulslike. E de fato em um pouco, porém apenas quando se trata da barra de estamina. O jogo apresenta 4 barras que devemos nos preocupar:
- Barra de vida, a tradicional de qualquer jogo;
- Barra de sanidade, que permite realizar golpes especiais;
- Barra de estamina, que define o fôlego da personagem;
- Barra de durabilidade das armas, que define o quão a arma ainda pode ser usada.
Na hora dos combates, a administração dessas barras é essencial. Inclusive, até mesmo para evitar os combates.
Uma coisa que vale destacar é que as armas são descartáveis. Uma vez que a barra de durabilidade zere, você perderá a arma e, a não ser que tenha outra em mãos, ficará indefeso nas lutas. Sendo assim, vai haver momentos que fugir será a melhor estratégia, para garantir que você tenha as armas necessárias nas horas mais importantes.
Exploração e itens
Seguindo os padrões da franquia, Silent Hill f não chega a ser mundo aberto, mas tem mapas vastos o suficiente para permitir um fator exploração considerável. É extremamente recomendável que exploremos cada canto dos mapas, pois assim podemos encontrar itens, armas, pontos de save e até mesmo elementos importantes para fazer as outras variações de finais (se estivermos no New Game+).
Apesar disso, o jogo é linear, o que significa que não vamos ter acesso aos mapas o jogo inteiro. Por isso, é importante explorar bem antes de avançar na história. Como todo survivor horror, temos que administrar nossos itens bem. De começo, o jogo nos dá uma boa quantidade de itens de cura, dando a impressão de que não teremos tanta dificuldade nesse sentido. Mas conforme a aventura avança, os inimigos vão ficando mais frequentes e mais difíceis de evitar, o que pode acabar levando ao consumo e desgaste cada vez maior de itens e armas. Por isso, é importante saber administrar bem o consumo de itens e, até mesmo, saber onde estão os itens deixados pra trás, caso seja necessário voltar para pegá-los.
As armas variam de canos, facas, foices, machados, martelos e espadas. Cada uma com o nível de força maior que a outra. A quantidade de armas que podemos carregar por vez é limitada, mas pode ser aumentada usando itens equipáveis. O jogo permite equipar omoris, que dão atributos para Hinako, como aumentar a vida gradativamente, facilitar a possibilidade de fazer desvios perfeitos ou até mesmo diminuir o alcance de visão dos inimigos. Esses itens podem ser obtidos tanto pelos cenários, como pelos pontos de save.
Nos pontos de save, além de salvarmos o jogo, podemos fazer oferendas para obter Fé, que seria a moeda do jogo, que pode ser usada pra obter novos omoris ou melhorar os atributos da Hinako, como aumentar as barras de vida, sanidade e estamina, além de aumentar a quantidade de omoris que podemos equipar.
Puzzles desafiadores
Como todo bom Silent Hill, aqui temos puzzles que são necessários nós concluirmos para avançar na história. Curiosamente, o jogo apresenta a possibilidade de alterarmos a dificuldade dos puzzles de forma separada da dificuldade do game em si. E dependendo da dificuldade escolhida, ele vai ficando mais difícil.
Na dificuldade padrão, os puzzles são desafiadores, e exige a nossa atenção nos detalhes e nas pistas que o jogo nos dá, que estão presentes principalmente nos textos que encontramos pelos cenários. Apesar de difícil, é gratificante quando conseguimos resolver.
Visual e clima
Apesar da mudança de ambientação em comparação aos títulos anteriores, Silent Hill f conseguiu manter o clima macabro e de tensão típico da franquia. Mesmo em momentos mais calmos, é impossível jogar esse jogo totalmente tranquilo. A trilha sonora (ou ausência dela), os efeitos sonoros, a ambientação, as falas, tudo contribui para que estejamos sempre em alerta enquanto caminhamos pelos lugares.
O jogo foi feito usando a Unreal Engine 5, que ainda causa desconfiança nos jogadores por conta de certos defeitos que ela ainda apresenta. Mas em Silent Hill f, eles conseguiram trazer um jogo com visual belíssimo, modelos de personagens super bem feitos e poucos bugs visuais. É provavelmente o jogo mais bonito da franquia visualmente falando.
Não se passa em Silent Hill, mas é Silent Hill
Silent Hill f fez muito fã torcer o nariz por conta da sua ambientação. Afinal, isso foge da proposta inicial da saga, que gira em torno da cidade americana de Silent Hill. Porém, mesmo assim, o jogo ainda é reconhecível como parte da franquia. É possível encontrar elementos da saga aqui, mesmo que indiretos.
Porém, isso é misturado com elementos do folclore japonês, que pode levar a trama a caminhos que os fãs mais antigos podem não gostar. Mesmo assim, é um game que consegue se manter nas raízes da franquia, e talvez abranja ela para outros locais, realizando uma verdadeira expansão para a lore de Silent Hill.
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