Exclusivos de console são essenciais? Para ex-executivo da Sony, ver Mario no PlayStation seria o “apocalipse”

William Prado

A indústria de jogos eletrônicos atravessa uma fase de redefinição de estratégias, mas para Shawn Layden, antigo chefe da PlayStation, o modelo tradicional de jogos exclusivos não deve ser abandonado. 

Em meio a um cenário onde as fronteiras entre os hardwares estão cada vez mais tênues, Layden argumenta que títulos restritos são fundamentais para a identidade das marcas e trazem benefícios técnicos e comerciais inegáveis tanto para desenvolvedores quanto para consumidores.

Embora o mercado tenha presenciado movimentos surpreendentes em 2025 — como a chegada de franquias do Xbox ao console da Sony —, o executivo sustenta que a disponibilidade restrita de certas propriedades intelectuais é o que define o valor de um console.

A Força da Marca e o “Apocalipse” do Mercado

Durante uma participação recente no quadro Character Select do portal Game Rant, Layden enfatizou que personagens icônicos funcionam como a “cara” de suas plataformas. 

Ele citou exemplos clássicos como Mario, da Nintendo, e Nathan Drake, da série ‘Uncharted’, para ilustrar como esses mascotes sinalizam ao público o tipo de experiência que o console oferece.

Para o ex-executivo, a perda dessa exclusividade representaria uma ruptura drástica na lógica da indústria. Ao defender a importância de manter esses limites, Layden utilizou uma comparação extrema:

Há um valor enorme para a marca em ter exclusivos fortes. Se o Mario começar a aparecer no PlayStation, isso é o apocalipse, certo? Gatos e cachorros vivendo juntos. E o mesmo vale para Nathan Drake e ‘Uncharted’. Eles fazem a plataforma brilhar.

Essa visão sugere que sucessos como ‘God of War’, ‘Marvel’s Spider-Man’ e ‘The Last of Us’ constroem uma lealdade do consumidor que dificilmente seria replicada em um ecossistema totalmente aberto.

Vantagem Técnica: “Nivelar por Cima”

Além do marketing, existe um argumento técnico robusto na defesa de Layden. O desenvolvimento focado em um único hardware permite que os estúdios explorem o potencial máximo da máquina, sem as limitações impostas pela necessidade de portar o código para equipamentos com especificações diferentes.

Segundo Layden, a produção multiplataforma exige concessões técnicas, enquanto a exclusividade oferece liberdade criativa total:

Quando você programa para várias plataformas, você precisa nivelar por baixo [pelo denominador comum mais baixo]. Mas se você faz exclusivos, pode levar todos os recursos ao nível máximo.

Um exemplo prático observado em 2025 foi o lançamento de ‘Ghost of Yotei’. O título, exclusivo de PlayStation, foi elogiado por utilizar profundamente os recursos do controle DualSense, como o feedback háptico e o touchpad, entregando uma experiência sensorial otimizada que, segundo defensores do modelo, não seria viável em um desenvolvimento genérico.

Um Cenário em Transformação: As Exceções à Regra

Apesar da defesa dos exclusivos, o mercado atual mostra sinais de flexibilização. As grandes empresas estão testando novas águas para expandir o alcance de suas propriedades:

  • Sony na Nintendo: A empresa lançou ‘LEGO Horizon Adventures’ para o PlayStation 5 e também para o Nintendo Switch, introduzindo a personagem Aloy a um novo público.
  • Xbox na concorrência: Em um movimento histórico no início de 2025, a Microsoft disponibilizou ‘Gears of War Reloaded’ no PlayStation 5, visando tornar seu software mais acessível.

Essas ações indicam que, embora o núcleo de exclusivos permaneça, a rigidez do passado (“Guerra dos Consoles”) está dando lugar a uma abordagem mais pragmática para certos títulos.

Visões Divergentes sobre o Futuro

A filosofia de Layden não é unânime. Em outubro de 2025, a presidente do Xbox, Sarah Bond, declarou que o conceito de exclusividade é “antiquado”

Para a atual liderança da Microsoft, o futuro pertence à onipresença, seguindo o rastro de fenômenos como ‘Minecraft’ e ‘Fortnite’, que saturaram o mercado justamente por estarem disponíveis em qualquer lugar.

O próprio Layden reconhece essa nuance, admitindo que jogos massivos online (MMOs) operam em uma lógica distinta e precisam ser multiplataforma para sobreviver.

Contudo, para as aventuras narrativas single-player, o debate sobre se os jogos devem ser exclusivos ou universais continua sendo o grande divisor de águas na indústria dos games.

COMPARTILHE Facebook Twitter WhatsApp

Leia Também


ASSINE A NEWSLETTER

Aproveite para ter acesso ao conteúdo da revista e muito mais.

ASSINAR AGORA