As futuras temporadas de ‘Shogun’, série vencedora do Emmy, podem finalmente ser filmadas no Japão — algo que não foi possível na primeira temporada. A possibilidade foi levantada pela produtora Miyagawa Eriko durante um painel promovido pela Motion Picture Association (MPA) no Festival Internacional de Cinema de Tóquio, na última quarta-feira.
Quando questionada pela Variety sobre a chance de retornar ao país natal para as próximas filmagens, Miyagawa demonstrou entusiasmo:
Não depende apenas de mim, mas eu adoraria, pessoalmente. Continuo apresentando ideias e oportunidades. Ainda não temos roteiros para a terceira temporada, mas eu gostaria muito que acontecesse.
A fala reforça o desejo da equipe de realizar uma espécie de “retorno às origens”, já que ‘Shogun’ havia planejado filmar no Japão desde o início, mas enfrentou restrições severas durante a pandemia de COVID-19, o que forçou a produção a ser deslocada para o Canadá.
Por que ‘Shogun’ não foi filmada no Japão
Segundo Miyagawa, a escolha por Vancouver foi motivada tanto pelas limitações sanitárias quanto pela falta de infraestrutura adequada no Japão.
Queríamos muito filmar aqui, mas estávamos no auge da pandemia. Justin [Marks] e Rachel [Kondo] não puderam vir ao Japão para fazer a pré-produção. No fim, não foi possível.
Ela também destacou que o estúdio precisou de grandes espaços de gravação, vilas de pescadores e muralhas — estruturas difíceis de reproduzir no país devido ao tamanho reduzido dos estúdios locais.
Os estúdios japoneses ainda são muito pequenos. Mesmo o maior da Toho é pequeno pelos padrões de Hollywood.
O que o Japão precisa mudar
Durante o painel, produtores de diferentes países apontaram obstáculos que o Japão precisa superar para atrair grandes produções internacionais. Entre eles estão a falta de incentivos claros, prazos curtos e dificuldades logísticas.
Kusunoki Junko, consultora de produção da HBO em ‘Tokyo Vice’, destacou que o sistema de subsídios japonês cria insegurança para as produtoras:
As empresas precisam contratar equipes e definir orçamentos antes mesmo de saber se receberão o incentivo. Quando a resposta é negativa, o prejuízo é enorme. Isso faz com que produções acabem migrando para lugares como a Tailândia.
Outro problema é o prazo limitado para execução: as filmagens precisam terminar até o fim do ano fiscal japonês, em janeiro, o que deixa apenas seis meses úteis de produção.
Além disso, Miyagawa chamou atenção para as longas jornadas e os baixos salários que afastam jovens profissionais do mercado audiovisual.
Estamos perdendo talentos porque o trabalho é exaustivo e mal remunerado. É preciso enfrentar essa conversa difícil sobre condições de trabalho.
A lição de outros países
Produtores presentes no evento citaram exemplos de países que conseguiram transformar suas indústrias com o apoio de produções internacionais.
Schuyler Weiss, produtor australiano de ‘Elvis’, mencionou o impacto que ‘O Senhor dos Anéis’ teve na Nova Zelândia:
A trilogia transformou Wellington em um centro global de cinema. É isso que uma grande produção pode fazer por um país.
Já Apinat Obb Siricharoenjit, responsável por ‘Alien: Earth’ na Tailândia, contou que, durante as gravações, o país precisou importar 800 refletores da Nova Zelândia, o dobro do que havia disponível localmente — um alerta sobre a importância de investir em infraestrutura.
Uma nova fase de colaboração
Apesar das dificuldades, Miyagawa se mostrou otimista quanto ao futuro das parcerias entre Japão e Hollywood.
Vejo uma abertura maior dos dois lados. Há vontade de colaborar e de trabalhar com mais profissionais japoneses quando as filmagens ocorrem aqui.
Kusunoki citou ‘Tokyo Vice’ como um exemplo positivo de coprodução internacional, que ajudou a integrar equipes locais a associações de cinema dos Estados Unidos.
‘Shogun’ não é um filme tradicional japonês, mas é claramente um conteúdo japonês. É importante mostrar produções feitas no Japão — e o próximo passo é participar como Japão dentro do mundo.
Se os ajustes necessários forem feitos, o retorno de ‘Shogun’ ao Japão poderá marcar não apenas uma nova fase para a série, mas também um novo capítulo para a indústria cinematográfica japonesa no cenário global.






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