Quando fui assistir The Moon: Sobrevivente, confesso que fiquei hipnotizado logo no começo. Aquela cena dos astronautas ouvindo Fly Me To The Moon enquanto flutuavam tranquilamente no espaço parecia o prelúdio de algo quase poético. Por mim, aquela vibe poderia durar o filme inteiro. Mas aí o universo, ou melhor, o roteiro, decidiu que seria mais divertido transformar a calmaria em um show de desastres. E, meu amigo, quando a bola de neve começa a rolar, ela não para mais. O filme é uma sequência de coisas dando errado de maneira quase inacreditável. É como se o cosmos tivesse combinado: “Hoje não é dia de ninguém se dar bem.”
Claramente inspirado por produções como Gravidade, Independence Day, O Dia Depois de Amanhã e 2012, The Moon não tem vergonha de mostrar suas influências. A trama gira em torno de uma missão à Lua que acaba em catástrofe graças a explosões solares, deixando apenas um tripulante vivo. A partir daí, começa uma corrida desesperada para tentar salvá-lo. É o tipo de história que já vimos em outros filmes — e com certeza ainda veremos de novo. Não há nada muito inovador aqui, mas isso não significa que seja ruim. Para quem gosta de filmes de desastre espacial, como eu, é uma diversão garantida.
Se você, assim como eu, ama o realismo de Gravidade, provavelmente vai se deliciar com a tensão constante de The Moon. A cada cena, o filme aumenta as apostas, trazendo novos obstáculos para o pobre astronauta Sung-soo. Assistindo, fiquei me perguntando: será que depois desse filme ainda tem criança na Coreia querendo ser astronauta? Porque, olha, o negócio não é fácil. Além de coragem, você precisa ser quase um McGyver espacial, sabendo consertar a nave, remendar o braço com grampos de papel e sobreviver em situações que parecem saídas diretamente de um manual de “como não morrer no espaço”.
Os personagens, aqui, não são apenas figuras de um drama. Eles são criados para serem reflexos das emoções humanas. Cada um deles nos faz pensar em como nós mesmos agiríamos em situações tão extremas. O astronauta Sung-soo é aquele símbolo de resiliência e determinação que inspira. Já o cientista que tenta salvá-lo, preso às burocracias e desafios técnicos na Terra, mostra o lado mais cerebral, mas igualmente angustiante, da história. É uma construção que, apesar de se apoiar em certos clichês, é eficaz. Você sente o peso das decisões, as incertezas e até a vulnerabilidade dos personagens. Eles não são apenas heróis, mas seres humanos lutando contra probabilidades quase impossíveis.
Admito que o filme puxa bastante para o drama em alguns momentos, talvez mais do que o necessário. Há cenas em que o peso emocional parece um pouco exagerado, como se o roteiro quisesse garantir que você chorasse de qualquer jeito – e não consegue. Ainda assim, The Moon consegue ir além de muitas produções similares, especialmente no que diz respeito às relações humanas. Ele se esforça para dar mais profundidade aos personagens, conectando suas histórias pessoais às ambições científicas e aos traumas de missões espaciais anteriores que terminaram em tragédia. Isso adiciona camadas interessantes e faz você refletir sobre o custo da exploração espacial.
O roteiro, assinado por Kim Yong-hwa, também provoca reflexões sobre os motivos que impulsionam a humanidade a explorar o cosmos. É impossível não pensar nas ambições econômicas e na lógica competitiva do capitalismo contemporâneo, que muitas vezes colocam as vidas humanas em risco. O filme tenta equilibrar essas críticas com uma mensagem otimista sobre o valor da vida humana. Apesar de soar piegas em alguns momentos, essa abordagem funciona dentro do contexto. Afinal, quem não gosta de uma história onde, no fim das contas, o que importa é salvar uma vida?
Agora, vou ser honesto: o filme poderia ter uns bons 20 minutos a menos. Algumas cenas se arrastam, e isso acaba prejudicando um pouco o ritmo. Além disso, o departamento de efeitos visuais fez um trabalho sólido na maior parte do tempo, mas em algumas sequências o CGI deixa a desejar. Há uns 3Ds meio toscos que destoam da grandiosidade que o filme tenta transmitir. Apesar disso, quando o filme quer impressionar, ele sabe como fazer. A cena da chuva de meteoros, por exemplo, é de tirar o fôlego.
O elenco é outro ponto forte. Do Kyung-soo, mais conhecido como D.O. do grupo de k-pop EXO, prova que tem talento de sobra para segurar o protagonismo. Ele equilibra perfeitamente momentos de desespero e determinação, criando um personagem que é fácil de torcer. Não é um herói perfeito, mas justamente por isso ele se torna tão humano e crível. Sua atuação é um dos elementos que mantém o filme emocionalmente envolvente do começo ao fim.
E como não comentar sobre a retratação dos Estados Unidos no filme? Em vez do clichê do altruísmo heróico, o filme mostra os estadunidenses como realmente são: pragmáticos e movidos por pressão popular. Eles só decidem ajudar porque o mundo inteiro está assistindo, e a última coisa que querem é sair mal na foto. É uma visão bem diferente dos filmes hollywoodianos, onde eles sempre aparecem como os salvadores do planeta, agindo “por amor à humanidade”. Essa abordagem mais crítica é um dos elementos que diferenciam The Moon de suas inspirações ocidentais.
No geral, The Moon: Sobrevivente é um filme que cumpre o que promete. Não é revolucionário, mas entrega uma experiência emocionante, cheia de tensão e com momentos realmente memoráveis. Se você é fã de dramas espaciais, vai adorar acompanhar essa jornada de sobrevivência. E, se você não é, talvez ainda valha a pena assistir — quem sabe o filme não te convence de que o espaço é o cenário perfeito para explorar o melhor e o pior da humanidade? Com seus acertos e tropeços, The Moon: Sobrevivente se consolida como um filme de desastre espacial que, mesmo sem reinventar o gênero, entrega uma experiência envolvente e até angustiante— perfeita para quem gosta de ver a humanidade desafiando os limites, com tudo que pode dar errado pelo caminho. E acredite, muita coisa pode dar errado.
NOTA: 3,5/4
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