Donald Trump voltou a agitar a indústria do entretenimento nesta segunda-feira (29) ao anunciar, em postagem no Truth Social, que pretende impor uma tarifa de 100% sobre qualquer filme produzido fora dos Estados Unidos. A medida, caso seja implementada, pode gerar uma crise sem precedentes em Hollywood, que depende de locações e incentivos fiscais internacionais para viabilizar grandes produções.
Segundo Trump, a indústria de cinema americana estaria sendo “roubada” por outros países, comparando a perda de produções a “tirar doce de uma criança”. O presidente direcionou críticas especialmente à Califórnia e ao governador Gavin Newsom, afirmando que o estado é um dos mais prejudicados pelo fenômeno da “runaway production” — quando estúdios migram suas filmagens para o exterior em busca de custos mais baixos.
Se concretizada, a tarifa afetaria diretamente projetos de grande visibilidade, como A Odisseia, de Christopher Nolan, que contou com filmagens em estúdios de Los Angeles, mas também em locações internacionais, e a aguardada sequência de A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, gravada fora dos EUA. O problema é que hoje o modelo de negócios de Hollywood se apoia justamente nesses incentivos no Reino Unido, Canadá e Austrália, considerados fundamentais para manter os custos sob controle.
A Motion Picture Association (MPA), que ainda não comentou oficialmente a proposta, traz números que ajudam a dimensionar o impacto: em 2024, o setor gerou US$ 22,6 bilhões em exportações, com superávit de US$ 15,3 bilhões. Tarifar filmes internacionais poderia inverter essa balança e encarecer o acesso do público a produções de grande escala.
Além das questões econômicas, especialistas destacam que aplicar tarifas sobre serviços criaria um precedente jurídico inédito. A Suprema Corte, inclusive, deve avaliar ainda neste ano a extensão da autoridade presidencial em medidas desse tipo, já que a legislação atual prevê exceções para o setor audiovisual.
Enquanto Trump endurece o discurso, Gavin Newsom rebateu com ironia, afirmando que a medida fará os americanos “pagar mais e curtir menos”. O governador defende a expansão de programas de incentivo como alternativa viável para fortalecer a indústria.
No momento, Hollywood observa com apreensão. Se as tarifas realmente saírem do papel, o impacto será imediato: aumento no custo das produções, ameaça a coproduções internacionais e possível retração na competitividade global do cinema norte-americano.
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