Último Alvo chega com um nome tão genérico que poderia ser substituído por qualquer outra variação de “Alvo Mortal”, “Missão Final” ou “Código Perigoso” que ninguém perceberia a diferença. E, no fim das contas, o próprio filme é tão esquecível quanto o título. Se você assistiu a pelo menos uns três filmes de Liam Neeson pós-Busca Implacável, já sabe exatamente o que esperar. Mas, dessa vez, tem uma pegadinha: não tem quase nada de ação. Sim, o homem que virou um subgênero ambulante de “vovô brabo com habilidades especiais” aparece muito mais introspectivo do que truculento. Se a sua ideia de diversão é ver Neeson quebrando ossos e distribuindo bala em criminosos azarados, talvez seja melhor escolher outro filme.
Aqui, Neeson vive um ex-boxeador e capanga de mafiosos, conhecido apenas como Thug. Isso mesmo, o cara não tem nome. O roteiro mal se preocupou com isso, o que já diz muito sobre a criatividade envolvida. Ele trabalha para Charlie Conner, interpretado por Ron Perlman, e seu filho babaca, Kyle (Daniel Diemer). Thug leva uma vida monótona, fazendo trabalhos sujos para os chefões do crime, até que descobre que tem CTE avançado, uma doença neurodegenerativa sem cura. E, como todo protagonista de drama com diagnóstico terminal, ele resolve tentar reconectar-se com a família que ignorou por anos. Ah, e claro, no meio disso tudo, ele encontra uma mulher misteriosa, que é tão bem desenvolvida no roteiro que se chama, simplesmente, Mulher.
Parece familiar? Pois é. O roteiro de Tony Gatyon é um verdadeiro Frankenstein de todos os filmes recentes do Liam Neeson, com elementos reciclados de Assassino Sem Passado, Agente das Sombras, Na Mira do Perigo e outros projetos dele que você provavelmente nem lembrava que existiam até ler essa frase. Mas, enquanto esses filmes ao menos tentavam entregar sequências de ação empolgantes, Último Alvo parece indeciso sobre o que quer ser. Ele começa como um drama existencial, tenta ser um estudo de personagem e, no último ato, lembra que precisa ter alguma pancadaria para justificar o marketing.
Isso faz com que o filme tenha um ritmo arrastado e melancólico, o que pode ser frustrante para quem só queria um thriller de ação genérico, mas eficiente. A direção de Hans Petter Moland, que já trabalhou com Neeson em Vingança a Sangue-Frio (2019), não tem a mesma energia desse projeto anterior. Enquanto aquele filme brincava com um tom mais ácido e estilizado, Último Alvo tenta se levar a sério demais, mas sem oferecer nada realmente profundo. O resultado? Uma experiência entediante, que nunca engata de verdade.
Se ao menos as atuações compensassem… mas nem isso. Neeson continua competente, afinal, ele faz esse tipo de papel há anos. Mas a verdade é que a fórmula já está mais desgastada do que o próprio personagem dele. É como assistir um grande pianista tocando a mesma música básica pela milésima vez. Ele é bom no que faz, mas já passou da hora de mudar o repertório. Ron Perlman, coitado, é completamente desperdiçado, sem muito espaço para fazer algo marcante. Seu personagem está lá apenas porque todo filme desse tipo precisa de um chefão do crime ameaçador, mas ele nem chega a ser particularmente interessante ou intimidador.
Agora, o ponto mais frustrante: as cenas de ação. Elas existem? Sim, mas são tão escassas e pouco impactantes que quem foi enganado pelo trailer achando que ia ver Neeson descendo a porrada vai sair bem frustrado. As únicas sequências que valem alguma coisa acontecem nos últimos 20 minutos, mas mesmo essas não são nada memoráveis. Dá até pra sentir um esforço do filme em ser algo mais “realista” e menos exagerado, mas, no fim, o resultado é apenas monótono.
O filme ainda tenta incluir algumas cenas oníricas e simbólicas, com flashbacks e alucinações do protagonista, algo que poderia adicionar camadas interessantes à trama. Mas, assim como todo o resto, essas tentativas não levam a lugar nenhum. Parece que o roteiro queria deixar tudo com um ar mais artístico, mas no fim só adiciona gordura a um filme que já se arrasta além do necessário. Se houvesse mais ação para equilibrar esses momentos, talvez a experiência fosse mais digerível. Mas, do jeito que está, Último Alvo se torna um exercício de paciência.
Talvez, se Liam Neeson tivesse alternado mais entre ação e outros gêneros ao longo dos últimos anos, esse filme até poderia ser visto como uma tentativa honesta de trazer algo novo para sua filmografia. Mas o problema é que ele já usou essa fórmula tantas vezes que qualquer tentativa de inovação soa superficial. No final das contas, o filme tenta sair do básico, mas acaba entregando mais um thriller previsível e esquecível.
Se fosse pra resumir, eu diria que Último Alvo é como um prato requentado: ainda dá pra comer, mas o gosto já não é mais o mesmo. Quem curte Liam Neeson pode até dar uma chance, mas é bom ir preparado para um filme mais arrastado do que emocionante. O lado positivo? Bom, é infinitamente melhor que Blindado — mas isso não é exatamente um elogio.
NOTA: 2,5
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