Quando foi a última vez que passou o dia com sono e na hora de finalmente dormir se deitou com o celular e rolou a timeline das redes sociais sem quê nem para quê? Seguramente isso aconteceu na última noite e deve estar se repetindo há semanas – ou meses. E seu dia está passando muito rápido? Se cobra mais para ter a vida de um colega mas lá no fundo sabe que o estilo não é o seu?
Esse tipo de questionamento tem provocado mudança de hábito em usuários das redes sociais que percebem uma queda na qualidade de vida. Se antes o temor era se sentir excluído (Fear Of Missing Out – FOMO), hoje há um prazer em se afirmar como alguém presente no mundo ao vivo, em carne e osso. A decisão de reduzir o consumo das redes sociais é o lema é do Joy Of Missing Out (JOMO). Para os que aderiram à ideia, está tudo bem se deixar de ver alguma novidade ou conteúdo interessante publicado no Instagram, por exemplo.
Um livro sobre o tema foi escrito por Christina Crook e está a venda na Amazon. Em um TED ela definiu nosso atual momento como um período cheio de informação, porém com escassez de desejos.
“Acho que sou uma JOMO em andamento”, disse a estudante de musicoterapia Giuliane Delucca. No início de 2017 ela percebeu que usava as redes sociais como um escape do tédio e do incômodo. Quando não estava muito bem, rolava a timeline mais frequentemente do Facebook, mas também do Instagram e do Twitter. Próxima da época da quaresma, ela decidiu que passaria um tempo com seu perfil no Facebook desativado. Seria só por 40 dias, e no total foram oito meses. “Senti uma paz engraçada por ter priorizado outros ambientes e ter mais atenção em coisas reais como meditação, estudo, leitura e sono”, conta.
Embora já conhecidos, os efeitos e sintomas mais comuns das redes sociais precisam ser lembrados. A especialista em psicoterapia cognitivo-comportamental Dora Góes fala sobre ansiedade e depressão. “O usuário quer saber o que vai acontecer, fica mais acelerado e impaciente”, podendo até ter manifestações como agressividade e elevação do tom de voz. “O problema não é o conteúdo da foto ou do post, é a expectativa por uma realidade que não é a sua naquele momento”, completa Dora.
Aproximação efêmera e satisfação superficial
A dinâmica das redes sociais você conhece: um publica e o outro vê. O uso excessivo pode acontecer nos dois sentidos. Dora, que também é colaboradora do Programa para Dependentes de Internet do Programa Ambulatorial dos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI) do Faculdade de Medicina da USP, explica: “O aumento do consumo está associado a solidão e insegurança. Já o prazer ali se deve ao efeito da dopamina”, neurotransmissor do humor e emoção.
A psicóloga ressalta, no entanto, que os efeitos das redes sociais podem estar relacionados a predisposições já existentes nos indivíduos. “Um usuário que fica ansioso pode já ter características de ansiedade. Não existem estudos conclusivos sobre isso, ainda”. A sugestão é fazer um exame de consciência e tentar entender o próprio comportamento. Afinal, a rede social está ali para ajudar e só o internauta pode entender qual comportamento é saudável para ele.
Para Giuliane, o tempo sem Facebook e com menos consumo de Twitter e Instagram a fez perceber o quanto essa ‘extensão’ dela mesma a sugava. “Gostei da serenidade que senti”. Ela reativou seu perfil e comenta a mudança que percebeu. “Estou mais tranquila e sempre com o desejo de não passar muito tempo por lá”.
O desprezo pela própria imagem
Um estudo publicado em julho de 2017 identificou uma relação entre frequência de uso de Instagram e Facebook e insatisfação com a imagem corporal. Meninas entre 15 e 18 anos que acessam o Facebook até dez vezes por dia – consumo comum – têm 4,7 vezes mais chance de ficarem insatisfeitas com a própria imagem do que as garotas com acesso apenas mensal. Quanto ao consumo do Instagram, as que usam o aplicativo mais de dez vez ao dia têm chance maior em 4,1 vezes de não aceitarem o corpo.
Solução
Talvez se afastar das redes sociais como Giuliane fez seja um passo muito grande. E já adiantamos uma proposta: configure o celular e o deixe em uma escala de cinza. Alguns usuários já relatam que o feed fica menos atrativo, agita menos os pensamentos e cansa menos a vista.
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