O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, iniciou uma guerra contra a graphic novel Vingadores: A Cruzada das Crianças, que estava sendo vendido na Bienal do Livro. O que ele jamais esperava seria a rápida reação do público, que adquiriu todos os exemplares que estavam a venda em vários estandes diferentes no evento.
Na manhã desta sexta-feira (6), as cópias se esgotaram em cerca de meia hora após a abertura dos portões, às 9h, conforme relatam os responsáveis pelas vendas no local.
Sob a alegação de que contém conteúdo impróprio, o prefeito havia anunciado na noite desta quinta-feira (5) que determinou o recolhimento da edição encadernada do livro. Em vídeo divulgado nas redes sociais, Crivella considera que o livro “traz conteúdo sexual para menores” e disse que deveria estar “embalados em plástico preto, lacrado e, do lado de fora, avisando o conteúdo”.
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“Portanto, a prefeitura está protegendo os menores da nossa cidade”, argumentou o político, que enviou fiscais da Secretaria de Ordem Pública da Prefeitura do Rio para identificar e lacrar livros considerados “impróprios” no início da tarde desta sexta-feira (6).
Assista ao anúncio de Marcelo Crivella:
Pessoal, precisamos proteger as nossas crianças. Por isso, determinamos que os organizadores da Bienal recolhessem os livros com conteúdos impróprios para menores. Não é correto que elas tenham acesso precoce a assuntos que não estão de acordo com suas idades. pic.twitter.com/sFw82bqmOx
— Marcelo Crivella (@MCrivella) September 5, 2019
Publicada originalmente em 2010, a obra foi escrita por Allan Heinberg e tem história centrada em Wiccano e Hulkling, um casal abertamente homossexual. Em algumas cenas, eles aparecem abraçados e na mesma cama. Em outra, eles dão um beijo. Em todas, eles aparecem vestidos.
Veja:
Foto: Reprodução
Os organizadores do evento, que acontece até o dia 8 de setembro, no Riocentro, se negaram a cumprir a determinação sem uma ordem judicial oficial (confira a nota da Bienal mais abaixo).
No Twitter, internautas reagiram ao anúncio e levaram o sobrenome do prefeito, que é bispo da Igreja Universal, aos tópicos mais comentados da rede social desde a noite de quinta-feira (5).
Alguns citaram outros problemas da Cidade Maravilhosa para criticar que a prioridade do governante seja interferir na venda de HQs num evento literário.
Namoral senhor excelentíssimo profeito Crivella: com tanto buraco pra tapar no RJ, rua sem luz, bairros sem água, gente sem receber, hospital sem atendimento, gente passando fome, violência desenfreada o senhor vem e DETERMINA o recolhimento de livros e HQ's da Bienal… pic.twitter.com/DYGbStvuCK
— Zero (@oTioZero) September 6, 2019
https://twitter.com/hudsonbonatto/status/1169926695928958977
https://twitter.com/danverspilots/status/1169936639549947904
Crivella deveria era tá preocupado com os filhos usando carros alugados com dinheiro público e não com HQ que tem dois heróis se beijando
Porra Crivella pic.twitter.com/BED5vMnFMI
— Princesinha da Disney (@Labittencourt42) September 6, 2019
https://twitter.com/RicardoMotta19/status/1169934582994657280
Outros defenderam a iniciativa do prefeito:
https://twitter.com/Bertolucc2/status/1169897930095919109
E está certo. Você compra o hq e se depara com essas cenas. Estao querendo enfiar por "goela abaixo". Não podemos aceitar.
Crivella manda recolher da Bienal livro dos Vingadores que tem beijo entre homens https://t.co/xebW75qV46
— Lais / Promoções 💙✨ (@_laisrose) September 6, 2019
Bienal se manifesta
Em nota divulgada após o anúncio do prefeito, a organização da Bienal Internacional do Livro Rio se posicionou sobre a determinação e disse que não acatará a ordem. O comunicado destacou a pluralidade do evento, reforçou o direito do consumidor insatisfeito trocar os livros com conteúdo que não agradem e divulgou painéis sobre literatura trans e LGBTQA+.
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Leia a nota:
“A Bienal Internacional do Livro Rio, consagrada como o maior evento literário do país, dá voz a todos os públicos, sem distinção, como uma democracia deve ser. Este é um festival plural, onde todos são bem-vindos e estão representados. Inclusive, no próximo fim de semana, a Bienal do Livro terá três painéis para debater a literatura Trans e LGBTQA+.
A direção do festival entende que, caso um visitante adquira uma obra que não o agrade, ele tem todo o direito de solicitar a troca do produto, como prevê o Código de Defesa do Consumidor.”
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