O dublador Wendel Bezerra, voz brasileira de personagens icônicos como Goku em Dragon Ball, recorreu à polícia para registrar um boletim de ocorrência contra o uso indevido de sua voz por meio de inteligência artificial (IA). Em uma publicação nas redes sociais, Bezerra revelou que um proprietário de loja digital estaria comercializando sua voz, recriada por IA, em anúncios para estabelecimentos comerciais sem sua autorização. A prática, além de ser considerada antiética, levanta questionamentos sobre os direitos de imagem e propriedade intelectual.
Segundo o relato de Wendel, o comerciante teria criado uma plataforma para que outros lojistas adquirissem locuções feitas por IA com a voz de dubladores conhecidos. “Ele usa a inteligência artificial pra que a nossa voz seja usada pra qualquer coisa. O cara tem a loja de colchão do Seu Zezinho, aí ele vai, compra a minha voz desse cara e aí sai uma locução com a minha voz”, explicou o dublador, destacando a facilidade com que a tecnologia está sendo explorada de forma ilícita e sem respeitar os direitos dos profissionais de dublagem.
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Além de seu caso pessoal, Bezerra apontou que outros dubladores têm enfrentado situações semelhantes e afirmou que todos pretendem tomar medidas legais. Ele salientou que práticas como essas configuram apropriação indébita e estelionato, uma vez que a tecnologia está sendo usada para gerar lucros com a reprodução não autorizada de vozes. A denúncia de Wendel Bezerra reacende uma questão ética urgente na indústria do entretenimento: até que ponto o uso da inteligência artificial pode substituir o trabalho dos profissionais sem infringir seus direitos?
O movimento Dublagem Viva, do qual Wendel Bezerra é um defensor, também levanta essa bandeira e busca regulamentar o uso de IA no setor. A iniciativa visa conscientizar sobre o impacto da tecnologia na dublagem e propõe medidas para garantir a proteção do trabalho dos profissionais. O movimento enfatiza a necessidade de salvaguardar a voz como propriedade intelectual, especialmente para evitar que o uso indiscriminado de IA venha a ameaçar o trabalho dos artistas.
Com o avanço da IA, as fronteiras entre tecnologia e criação artística estão cada vez mais tênues, gerando um alerta sobre os direitos de dubladores e demais artistas cujas criações e expressões são capturadas e reproduzidas digitalmente. A busca pela regulamentação do uso da IA e pela proteção dos direitos dos dubladores não se trata apenas de uma preocupação de mercado, mas de uma luta pela preservação do valor da arte e dos artistas.
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