Woodstock ’99: O festival mais caótico da história

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Woodstock ’99: O festival mais caótico da história

por Cheyna Corrêa

Woodstock ’99 prometia unir tradição e tecnologia num evento icônico, mas acabou se tornando o ápice do caos em festivais de música. Inspirado nas edições de 1969 e 1994, o encontro de 23 a 25 de julho de 1999 misturou “line-ups” de peso com estrutura frágil, calor extremo e público disposto à violência: ingredientes que transformaram uma celebração em um pesadelo coletivo.

Herança do Woodstock original e do revival de 1994

1969 marcou a lenda: meio milhão de pessoas em uma fazenda enlameada, sob chuva, assistindo a nomes como Jimi Hendrix e Janis Joplin. Em 1994, a fazenda vizinha recebeu 350 000 fãs, com shows de Nine Inch Nails, Metallica e Aerosmith, ainda que lamaçais e quatro mortes por causas naturais apontassem falhas em replicar a mística pacifista. Para 1999, escolheram uma antiga base aérea em Rome, Nova York, esperando oferecer mais conforto a 220.000 participantes, mas esquecendo que asfalto, sol de 38 °C e organização aquém das necessidades seriam o palco perfeito para a desordem.

Woodstock – Edição de 1994 (Imagem: Reprodução)

Clima escaldante e estrutura precária

O chão de pedra refletia o sol, sem sombra ou água suficiente para refrescar. As barracas de comida, banheiros e postos médicos não suportaram a demanda, e a sensação de abandono alimentou a irritação geral. No segundo dia, a revolta foi evidente: Sheryl Crow e outros artistas sofreram assédio no palco, levando Dexter Holland, do The Offspring, a repreender o público. A performance pesada do Korn inflamou ainda mais os ânimos: aquele calor abafado encontrou eco na sonoridade agressiva do metal.

Quebra-quebra e incêndios no terceiro dia

O ápice ocorreu durante o show do Limp Bizkit, quando o hino “Break Stuff” virou ordem literal. Mais de 200.000 pessoas protagonizaram brigas generalizadas, destruíram estruturas, queimaram divisórias de madeira e molestaram indivíduos no meio da multidão. Fred Durst, ao invés de conter o tumulto, incitou a fúria surfando sobre a plateia com um pedaço de madeira como troféu. No dia seguinte, a ONG que distribuía velas para homenagear vítimas de Columbine acendeu fogueiras com pedaços de palco, incendiou torres de som e deflagrou saques a estandes. A polícia só retomou o controle com o amanhecer, enquanto a MTV evacuava equipes, deixando um rastro de destruição documentado ao vivo.

Incêndio no festival em 1999 (Imagem: Reprodução)

Com três mortes trágicas (duas por insolação e uma atropelada na saída) e centenas de feridos, Woodstock ’99 se eternizou não pelas performances, mas pela violência, pelo calor desumano e pela falha de organização em conter multidões frustradas. As indenizações e multas esgotaram qualquer lucro, e tentativas de revival fracassaram diante da lembrança de um festival que, muito mais que música, deixou um legado de inferno na terra. Hoje, serve de alerta: luxo de ingresso, tecnologia e nostalgia não bastam quando a base do evento desmorona sob o peso da própria plateia.

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